Fui Roubado!

Publicado em 12 de setembro de 2007

Pois não é que fui roubado? Grande novidade, não? Quem ainda não foi? Na entrada de um jogo de futebol, no meio daquela aglomeração, alguém pôs a mão no meu bolso para levar apenas R$ 30,00, mas também quatro cartões de crédito, identidade, CPF, carteira de motorista, Unimed, enfim, toda a tralha.

Para a sorte dos gaúchos, existe um local chamado Tudo Fácil, onde a gente entra e sabe que os problemas acabaram ali, bem na porta. Sem existir na prática, sem ter como me identificar, munido apenas de uma das poucas coisas que me documentam neste mundo, minha certidão de nascimento, e de minha foto – pois, surpreendentemente as máquinas fotográficas não recusam pessoas mui discretamente existentes – cheguei ao balcão para solicitar a segunda via de minha carteira de identidade.

– Bom dia. Eu quero tirar a segunda via de minha identidade. Aqui estão duas fotos, a ocorrência policial relatando o roubo, minha certidão de nascimento e o número do CPF com meu nome emitido pela Receita Federal.
– Para que a segunda via da identidade tenha o CPF impresso, preciso do cartão do CPF.
– Ele foi roubado também, veja na ocorrência, e, como já lhe disse, eu tenho um documento da Receita que obtive na Internet. Aí está até um código que garante sua autenticidade.
– Não serve, preciso do cartão.
– Isto aqui não vale nada? Foi emitido pela Receita!
– Não serve, o Sr. pode solicitar uma segunda via, mas vai sair sem o CPF.
– Bem, então não quero fazer. E onde posso conseguir a segunda via do cartão de CPF?
– Nos correios.
– ?!?

Sem saber qual é a relação dos correios com a Receita Federal, fui à agência matriz do correio e me informaram que, para tirar o cartão do CPF, eu precisava apresentar o Título de Eleitor. Querendo saber o que tinha a ver o cu com as calças, perguntei:

– Para quê?
– É exigido, Sr., não há assim um motivo tipo causa e conseqüência, entende?

Então, resolvi ser brasileiro. Fui a uma agência do Banco do Brasil onde trabalha um conhecido e relatei-lhe o problema e que achava ridículo pegar o Título de Eleitor para algo que não tinha relação alguma com eleições. Ele me ofereceu um café e demos gargalhadas com as piadas que inventamos sobre a burocracia. Como ele trabalha no Banco do Brasil, tinha histórias muito mais kafkianas. Fiquei quase feliz. Por R$ 5,50, o banco poderia solicitar outro cartão de CPF para mim, mas na hora do pedido, no computador, veio a pergunta: qual é o número do Título de Eleitor do Milton?

Sei lá, ora. Entramos na Internet e fomos ao site do TRE. Lá, havia uma forma de pesquisar eleitores pelo nome. Pesquisamos e encontramos Milton Luiz Cunha Ribeiro. Como informação principal, dizia que eu votara sempre, desde pequenininho, que era um bom cidadão e, como complemento, dizia que o número do meu título era o 861762778272816716 ou algo parecido. Fiz o pedido. Demorará trinta dias para chegar…

Agora, vou ver como tiro a segunda via da Carteira de Motorista. Já sei que preciso de fotos, da ocorrência e de um comprovante de residência. Ai. Como farão para me surpreender desta vez?

Observação nada a ver: uma pessoa chegou aqui através desta pesquisa no Google: “nao sei que movimento devo fazer com a língua na hora de dar um beijo”.

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