A Grande Irritação

Lá em casa, estamos todos irritados. Não pretendemos fazer nada com nossa irritação, até porque ainda achamos que não devemos e porque — pessoas sensíveis e centradas e tolas que somos — ela, a irritação, é tão grande que a gente nem consegue raciocinar direito. Se fizéssemos, o natural seria quebrar tudo. Não, nada de brigas de casal. De minha parte, só sei de uma coisa: do jeito que vai eu não aceito continuar. Na verdade, não aceito continuar com a atitude bovina, bondosa e indulgente que me caracteriza. Pois minha atitude favorece a postura passivo-agressiva de outros. Sistematicamente, tomo (tomamos) no rabo. Esta postura nos deixa sempre eticamente tranquilos, mas o fato é que temos que nos tornar culpados por alguma coisa! A santidade tem de ser deposta, a transparência ética não favorece mais meu sono. Pagamos fábulas mensalmente, privamo-nos disso e daquilo, alteramos planos e tudo parece fazer parte de uma obrigação, quando, na verdade, a maioria de nossas prodigalidades são opcionais e raras. A contrapartida? Hum, vocês são legais. E só.

Somos especializados em engolir sapos. Precisamos treinar o arremesso dos bichinhos.

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  1. Como já disse no Face:
    Odeio gente diplomática, neutra, bege.
    Não sou assim e não ser assim dá trabalho.
    Sabe gente sem atitude, que observa calada e quando perguntas “o que preferes?” responde “tanto faz”.
    Gente assim me incomoda muito!
    Porque nunca vai ser “tanto faz”.
    Pode-se divergir – o que é construtivo – mas não pode-se ser indiferente, ser apático por pura comodidade.
    A apatia, para mim, é o prenúncio da falta de caráter.
    É coisa de quem fica na moita e pode se esgueirar para a direita ou para a esquerda como e quando convier.

    E repito:
    Coisa frustrante deve ser morar em cima do muro…

    1. Cláudia, que engraçado, nem sei do que estão falando, mas foi assim que me senti naquela cerimônia dos tradutores ‘jumentados’. Durante um ano, gente paga com nosso dinheiro para prestar serviços públicos abusou da incompetência, negligência, descaso, escárnio (palavras fortes? Foi o que eu senti várias vezes nesse processo). Depois de tudo aquilo, fomos recebidos com um discurso em que se terceirizam as responsabilidades (esporte favorito no Brasil, junto com a deglutição de sapos) e tudo fica por isso mesmo. E nós ali, beges…
      Desculpem, mas o post do Milton e o teu comentário me pegaram num dia de vomitar sapos… Certo, pelos comentários, vocês estão falando de coisas mais pessoais, então perdoem a intromissão.

  2. Milton, há que aparecer algum psiquiátrico pavloviano, ou, talvez melhor, um parapsicólogo, para explicar as incríveis coincidências que acontecem em grupos de amigos virtuais pela net afora. O tema de seu post é o mesmíssimo do meu, como já ocorreu várias vezes.

    O Brasil tem a população que mais engole sapo do mundo.

  3. tenho que mostrar este texto urgente para o meu marido, o rei da bondade.E,pior, na família dele,todos os bons,maravilhosos,éticos,queridos e corretos morrem sempre cedo.Os ruins estão todos firmes e fortes.Será que existe alguma explicação??

  4. De longe e sem ter nada a ganhar ou perder com o assunto, também estou irritada. Porque tudo pra mim é como um imenso deja vú. O bom de já ter passado pela experiência de alguma coisa é poder ajudar os amigos, ter alguma coisa para dizer, não? E eu não tenho nada pra apresentar. Me senti refém durante quase a vida inteira; tive que engolir esses sapos até crescer e casar.

    Pelo menos você não está sozinho. Várias pessoas indignadas podem mais do que apenas uma.

    1. Estamos nos sentindo traídos e ao mesmo tempo mergulhados numa tristeza imensa. É confuso.
      A cabeça está cheia, pois eu, por um exercício que me é habitual, não consigo não pensar em como cada lado vê a questão e se sente.
      É um grande nó na garganta sem direito a uma verdade absoluta.
      Teria muita curiosidade de saber como tudo era visto e sentido da tua posição para tentar entender um pouco mais e, quem sabe, ser mais positiva na condução destes conflitos.
      Obrigada por se preocupar e escrever.

      1. Claudia, eu realmente não sei se seria bom se eu pudesse falar alguma coisa, se pudesse contar minha experiência pra vocês. Porque ela é tão ruim que é possível que eu só jogasse mais m* no ventilador.

        O que posso dizer com certeza é que essa preocupação de ver os vários lados da questão não é o habitual. Algumas pessoas são patológicas, egoístas de uma maneira tão extrema, que tudo se resume a um discurso vazio sobre ser vítima – que lhe dá a permissão de ser um buraco sem fundo, de exigir sacrifícios constantes de todos que os cercam, de tirar o tempo todo e fazer de tudo para atrapalhar a felicidade dos outros. É um modo de ser. Nunca consegui saber se isso precisa de remédio, se é uma doença não diagnosticada ou apenas uma grande filhadaputisse. Sinceramente eu não sei.

        Eu já tentei várias estratégias: oferecer amor e compreensão irrestritos; conversar como adultos, colocar as cartas na mesa; brigar. E, bem, digamos que a sociedade e as tradições ficam contra mim… Isso sem falar que nunca consegui um vago sinal de auto-crítica. Hoje, a coisa que mais funciona é oferecer o mínimo de informações possíveis, contar todos os laços que posso, diminuir o contato a menos do essencial. É um exercício de esconder tudo com medo de que seja tomado.

  5. Eu já havia ouvido que a maconha passava em quantidades enormes pelas fronteiras dos países do sul do Brasil, mas só agora dou fé ao fato. Que erva vocês fumaram? Vou ser sincero: não entendi ABSOLUTAMENTE NADA deste post. Parecem que todos vocês se reuniram pessoalmente e caíram na maior fossa, no estilo deprê mútuo confessional. Pensei que a indignação do Milton era política, mas vejo que a coisa tá pra lá de Marrakech, meio assim qualquer coisa. Pô bicho, num sei, pá daqui pá de lá, ta me entendeno?

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