Sábado, quando acordei, vi que minha mulher tinha deixado um recadinho para mim no Skype. Ela está na Venezuela e o recado era um link e uma ordem bem humorada: “Veja isso, quase morri de rir”. Fui visitar o endereço e dei de cara com a imagem que você pode ver claramente clicando duas vezes sobre a cópia abaixo. Era um obituário do ator Milton Ribeiro, que já conhecia, mas havia um detalhe. A foto do ator era deste Milton Ribeiro que vos escreve, não daquele que morreu. Sim, era uma fotografia tirada por minha filha numa praça de alimentação de um shopping.
É óbvio que me diverti com o fato e comecei a avisar os amigos por e-mail, Facebook e Twitter. Eu tinha morrido em 1972. mandei e recebi vários recados:
Milton, agora que vc morreu, peça para teu filhos me enviarem sua coleção de clássicos, por favor. Mando rezar missa por Richard Dawkins. Obrigado.
Morri em 1972. O que faço? Tomo banho e vou no super ou largo tudo de vez?
@miltonribeiro Aliás, ateu convicto como és, imagino que estejas condenado ao inferno. Então, se fores ao super, como pretendes, vá ao BIG.
@miltonribeiro Como disse Mark Twain num caso assim, “The report of my death is an exaggeration”.
Interpretações de homem mau é a pérola! RT @miltonribeiro
Meu pai também tá dando risada.. RT @miltonribeiro Gostaria de noticiar a todos os meus amigos que morri. (Explico: o pai de Alexandre Ribeiro, um grande amigo meu, também atende por Milton Ribeiro)
Isso foi em 72? Eu nem era nascida. Garanto que da próxima vez que formos à tua casa, vai aparecer uma velhinha à porta e dizer: Milton Ribeiro? Mas, minha filha, ele morreu há 38 anos…
Infelizmente, durou pouco. Algum dos meus amigos destes redes sociais acabou avisando o site Mensagem Vitual, que corrigiu a foto e me enviou um tuíte bem humorado em português alternativo:
@miltonribeiro Desculpe pelo nosso ezorbitante erro! Já arrumamos a foto! Agora você já pode viver em paz…
Quem acordou tarde e viu meu link não entendeu a piada, pois permaneci morto apenas até às 11h. Depois, a vida voltou ao normal, o ator com cara de mau recebeu o seu devido lugar; ou seja, tudo voltou à bosta de sempre, como vocês podem ver abaixo.
Porém, a mensagem mais curiosa veio de Fernando Monteiro, dizendo que o ator com cara de mau na verdade gostava de rapazes altos, de pernas fortes, passadas largas… E não de Juliette Binoche, como eu. Agora falando sério — como diria Chico Buarque — os caras consultam o Google Images, dão de cara com um Milton Ribeiro qualquer e colocam numa biografia sem conferir? Não, é demais. Ah, a mensagem do Fernando:
O danado, Milton, é que com toda aquela cara de mau, o Milton cangaceiro do cinema tinha um apurado olho para rapazes fortes (sabias?), enquanto vosmicê pende mais, quer dizer, pende totalmente para as Juliettes Binoches (sou testemunha), e não somente nos sábados!
Bom domingo, “Capitão”!
Fernando Monteiro
Necrológio
Milton Ribeiro, apesar de gaúcho, era meu amigo. Nunca o vi e tenho certeza que, se ele me visse guardaria de mim a imagem de um homem verde. Tinha-o por leitor apaixonado e melômano idem, mas acabei por descobri-lo ator, o que talvez queira dizer que Milton Ribeiro, afinal, andou me enganando, ou, pior ainda, nos enganando nos últimos anos. Suspeito que no filme a estrear, VIPs, ele tenha um papel como jornalista farsante (desculpem a redundãncia, ou a tautologia, ou…). Infelizmente, Milton Ribeiro está morto. Deixa esposa e filhos queridos. Ou será que também a esposa e filhos queridos fazem parte da mesma peça publicitária que nos fez acreditar nele até hoje? Ou será que Milton Ribeiro, afinal, não está morto, e estou a recitar meu Kaddish para uma virtualha?!
Estou me sentindo um personagem de Max Frisch… Conheces? Um grande injustiçado. Tem obras-primas como Stiller e Homo Faber.
Sim, lembro-me de Homo Faber. Foi publicado no Brasil quando eu era jovem. Lá se vão uns trinta anos? Começarei a pensar em mim mesmo como personagem de ficção. Mas será que já não o faço?
ahahaha
Achei a ‘nova’ foto muito feia, diferentemente daquela batida por sua filha!
Quanto ‘a missa que mandei celebrar por você, consegui reverter as indulgencias pra mim mesmo: “os vivos tem mais precisão”, como disse o poeta Manuel Bandeira. R.I.P.
Hahahahaha, fizeste muito bem, meu amigo!
Milton, depois de 5 minutos já havia “herdeiros” reclamando o legado de livros e discos.
Te sugiro:
1 – Preparar um testamento
2 – Arrumar a bagunça da biblioteca
3 – No te olvides que 50% é da viúva
P.S.: Espero que além de herdeiros não me apareçam outras viúvas…
É só aguardar um pouco mais. Uns 30 anos.
HAHAHAHAHAHA
Magnífico! Bastava perceber o celular na foto.
Milton,
Que coisa, hein? Em Belo Horizonte, Fevereiro de 2011, umas cervejas no Emporium, com meu irmão e famílias … e eu não imaginava que você era um fantasma… Ou melhor, ainda bem que não era um fantasma!!! eheheh Saúde e muitos anos de vida para você (para todos nós).
(Obs. Realmente o celular na foto é uma “jóia raríssima” naquele tempo….eheh)
Ficou, mas por pouco tempo.
Espero estar errado. Exorbitantemente errado.
Eu sempre desconfiei que tinhas uma vida dupla. Nunca imaginei que a outra já tinha acabado!
A pessoa não sabe morrer discretamente e deu no que deu: foi ressucitado!
(pra mim não fez diferença, não iam me dar um único disquinho)
hauhauhauhauha português alternativo
Pô, cara, não é por nada não mas… todo português é alternativo!
Desde o início, desconfiei que este blog era um centro espírita de ateus.
Desconfiei desde o início que este blog era um centro espírita de ateus.
HAHAHAHAHAHAHA!
HAHAHAHAHAHAHAHA! (2)
Rapaz, você deve estar no purgatório com esse cara:
http://www.nytimes.com/2011/03/13/opinion/13rubin.html