Uma novela pode ter uma história envolvente, trabalhar com teses sedutoras ou provocar nossa fantasia. A gente pode se apaixonar por personagens, pelas situações, por cenas ou ficar na expectativa do que acontecerá depois. Porém, creio que em Os ossos da noiva, de Charles Kiefer, o grande motor da história é o esmerado, detalhista e perfeito trabalho de linguagem. A história está lá, claro. Estamos novamente em Pau d`Arco, o ano é o de 1958, quando Kiefer nasceu. José Cármio é um caixeiro-viajante negro, casado, dois filhos. Ele e Circe Brechen, a loira herdeira das Ferragens Brechen apaixonam-se. Parece que tudo vai acabar em tragédia e acaba.
As mudanças de foco narrativo, a aparente desordem regida por um autor que invoca temas e fatos que contam a história ao lado de outros que não contam nada — mas que servem para aclarar o contexto — são o verdadeiro cerne da narrativa. Que a sociedade de Pau d`Arco era simpática ao negro vendedor, que depois passa a combatê-lo pela ousadia, que Circe fez sua escolha e que ninguém foi passivo — apesar da calma e da lendidão do adágio de Kiefer — , tudo isso é contado como se o autor nos jogasse cartas cuja interpretação depende de nós. O cuidadoso jogo de cartomante (agorinha cometi o ato falho de escrever cartomEnte) comandado por Charles Kiefer é o principal e volátil personagem desta pequena joia.
Admiro Kiefer há muito tempo. Consultando minha anotações, descobri que minha última leitura de romances ou contos seus datava de 1997. Fiquei feliz de voltar a lê-lo. Ele evoluiu e, professor de literatura que é, mandou um recado claro. Nada de mais do mesmo. Nada de permanecer na zona de conforto de três Jabutis e de uma reputação consolidada. Há que ousar mesmo nos tranquilos adágios que ligam um Allegro a um tempestuoso Presto.
Taí um autor que acho bastante injustiçado pelo mercado editorial brasileiro. Ele deveria estar em uma grande editora, como a Cia das Letras. Confesso que li apenas alguns contos e o romance Valsa para Bruno Stein, este último quando estava prestando vestibular (pô, a quanto tempo!), mas me ficou fortes imagens do livro na memória, e é baseado no prazer que tive ao ler este (e já minha capacidade ativa de reconhecer um bom livro) que o acho injustiçado. Ele tem algo genuíno, vivencial, que autores como Galera e Terrón não tem, e não restringe a aceitação de sua obra um universo adolescente, com fazem esses dois.
Mas que capa horrível!!!
Estava pesquisando sobre capas de livros publicados em outros países, e vi que na Espanha (onde se vendem mais livros no mundo, segundo o Seu Aguinaldo, do excelente blog Livros que Li) se tem as mais belas capas. Basta pesquisar os livros de Javier Marías e Vila-Matas; cada uma delas é uma obra de arte. Lá sim se vendem livros pelas capas. As capas provocam aquela impressão de insaciabilidade de um magnífico bolo de frutas vermelhas. Pegam pelas conexões enzimáticas do sujeito que vê um design de carro que enche os olhos. As capas são manifestações necessárias à parte, que mostram o quanto os executivos do setor de livros lá são mais inteligentes e atinados do que os daqui. Veja as capas dos livros do Saul Bellow, nos EUA. São lindas! Isso influi bastante na hora de se comprar um livro. Ouso dizer que tem um poder determinante de mais de 50%. Todos os meses compro de cinco a dez livros, e como fico feliz quando meus interesses de conteúdo textual se coincidem com a beleza da capa. Caso de Jakob von Gunten, que comprei abolutamente pela capa de tirar o fôlego, lançado pela Cia das Letras.
Uma capa como essa daí é brochante. Reduz o Kiefer a José de Alencar. É um atraso que as editoras, a maior parte delas, não tenham evoluído para ver isso.
Daria um bom post para fazer á no meu blog, mas só tenho esse desenvoltura aqui, porra. Lá eu quero filosofar e ser erudito. Que porra!
A capa é lamentável mesmo. Tenho uma bomba para largar no Sul21. Uma baoita entrevista com o Fernando Monteiro. Acho que vais gostar. Entra no findi.
Não li, não conheço. Na capa, a primeira impressão é que o título é Os ossos. da noiva. O desenho parece adequado a um romance açucarado, com uma sugestão Chagall muito, muito diluída. Não conheço a editora.
(Milton, se o endereço era para mandar o livro, bem, o livro não chegou)
Idem quanto à última frase.
invejando HORRORES alguéns recebendo livro [se for do Ribeiro]
[charlles, faz um xerox e me passa – imoral, ou Meu Endereço é Facinho]
Li o livro. É uma obra envolvente, que mesmo publicada há alguns anos, trata-se de temas atuais que são o racismo e o preconceito.