A meu pedido, o Idelber indicou uma série de livros argentinos que considerasse ótimos. Acho que ele já tinha feito isto em seu blog, mas não encontrei onde, ainda mais estando em viagem e evitando o excesso de internet. Então pedi a ele e fui atendido com a simpatia e presteza de sempre. A lista é a seguinte e a divulgo a pedido da Viva e de outros que não lembro.
– Museo de la novela de eterna, de Macedonio Fernandez.
– El director, de Gustavo Ferreyra.
– El pasado, de Alan Pauls.
– La ciudad ausente, de Ricardo Piglia.
– Qualquer uma das curtinhas do César Aira.
– El desperdício, de Matilde Sánchez
– Cosas de negros, de Washington Cucurto.
– Museo de la revolución, de Martín Kohan (esta você vai adorar)
– Yo nunca te prometí la eternidad, de Tununa Mercado.
– Se encontrar algo de Gombrowicz, compre.
– Se não conhece Roberto Arlt, compre logo as obras completas.
Ricardo Piglia, Roberto Artl e Gombrowicz eu já conhecia e gostava. Gombrowicz foi um escritor polonês que, se não me engano, foi pego pela Segunda Guerra Mundial durante uma viagem a Buenos Aires. Ficou por lá. Os hermanos tiveram sorte; enquanto recebíamos o xaroposo Zweig, os argentinos ganhavam de presente um tremendo escritor. Artl e Piglia são meus velhos conhecidos. Li-os sempre em traduções. São excelentes mas não tinha vontade de relê-los em espanhol.
Não procurei enlouquecidamente e acabei não encontrando os livros de Macedonio Fernandez, Gustavo Ferreyra e Matilde Sánchez. Não simpatizei com El Pasado, do qual li algumas partes — posso estar errado. Mas fiquei horas escolhendo uma das curtinhas de César Aira – escolhi El Pequeño Monje Budista – , comprei sem hesitação Cosas de negros, Museo de la revolución e Yo nunca te prometí la eternidad. Tenho absoluta certeza que adorarei os livros de Kohan e de Tununa Mercado.
Comprei muitos outros. Duas traduções: Montauk, do meu queridíssimo suíço Max Frisch, um dos autores de que mais gosto e dois pequenos volumes de Raymond Carver, o extraordinário escritor americano que possui apenas dois grandes admiradores no Brasil: eu e Branco Leone. Destaco também o best seller argentino Historias de diván, do psiquiatra Gabriel Rolón, que comprei por pura curiosidade, e Teoría del desamparo, um policial premiado na Argentina, de Orlando Van Bredam. Os outros foram livros sobre música e artes plásticas.
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O argentino Reinaldo Waveqche, 24, casou-se em Santa Fé com Adelia Volpes, de 82. Ele confessou gostar de “mulheres mais velhas” e garantiu não ter interesse financeiro, até porque Adélia já tinha lhe doado todas as suas posses. A lua-de-mel será no Rio de Janeiro. Os 58 anos de diferença não serão problema, declarou.
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Enquanto a Veja descobre que Che Guevara não tomava muitos banhos e por isso fedia, a governadora Yeda Crusius ataca de aumento de impostos. Em sua mira, alguns produtos pouco fundamentais como luz, combustíveis e… cerveja. É claro que ela aumentaria impostos de itens sem os quais não podemos viver, até porque isso garantiria a renda que seu governo não consegue receber de outro modo. Mas o que me surpreende é saber que o déficit poderia ser zerado através de medidas moralizadoras ou de fiscalização que diminuíssem a crescente sonegação. Por que só o governo federal cuida bem de seus cofres? (Tive uma pequena empresa e sei que simplesmente não posso sonegar impostos federais nem que queira.) Por que Yedinha, que faz uma administração repugnante e é naturalmente limitada – mas que conhece o caminho da fiscalização -, não nos ataca pelo outro lado? Por que a luz, os combustíveis e a cerveja e não fiscalização? Ora, Milton, porque é mais fácil; além disso, a moralidade e a isonomia é uma das últimas prioridades de Yeda.
Eu e o Idelber jamais daríamos certo quanto a gosto literário. O tom que me cativa da voz argentina é a que cerca Cortázar, e por isso gosto de Gombrowicz, tendo lido “Cosmos” e me deleitado. Mas todos os outros da lista, à exceção de Piglia (do qual invejo “Respiração Artificial”), não me desperta grande interesse. Pauls é um desses que sinto jamais irei ler, pois parece-me ter essa insularidade esnobe de autores como julian Barnes, que só agrada uma classe específica de leitores. Robert Alt, para mim, é o que tentam por toda forma elevá-lo ao patamar icônico de escritor indevidamente subestimado, na linha de Bernard Malamud_ só que Malamud se sustenta ao lado de Bellow e Roth, os outros escritores judeus norte-americanos, sendo que tudo que li de Alt pareceu-me insuficiente e oitocentista perto de Borges. A literatura argentina, por sinal, não vai muito melhor das pernas que a nossa, atualmente. Há por lá uma grande repetição temática à cata de uma nova originalidade, à espera de tempos mais brilhantes. E devo confessar que me indispus de ler Macedônio justamente por ler os elogios exagerados de Idelber, que não gosta de Cortázar e faz em seu blog perfis de autores latino-americanos que parecem inventados (o que seria genial), pois ninguém os conhece.
Ah… somos um trio: eu adoro Carver.
Estranha-me a ausência nessa lista de qualquer coisa de A. Bioy Casares. Qualquer coisa, mas principalmente os contos que foram reunidos em Histórias Fantásticas da Cosac e de Invenção de Morel.
A minha suspeita de que que Bioy vivera na sombra de Borges foi devidamente dissolvida depois que li o último romance.
Gombrowicz é de uma estranheza e raridade que até me custa escrever sobre ele por aí. Pudera ele continuar escondido dos outros leitores.
Mas Gombrowicz Argentino é um pouco demais. Não está na mesma grandeza de Nabokov na América. Nabokov foi mais americano que russo e sua literatura pontifica mais o cânone americano que o de Dostoievski. O mesmo não se aplica a Gombrowicz. O cara nunca deixou de escrever como Polonês. Adoro Pornografia por exemplo. Não há nada da Argentina ali (salvo engano ele escreveu o livro já no Plata).
Shame on you, Charlles, em ignorar Arlt. Shame on you.