A decadência, a queda

A decadência, qualquer decadência, é uma lástima. Vejo meus amigos de infância e juventude e acho que quase todos eles estão decadentes. Fico triste. (É genial como consigo me deixar fora desta avaliação). Outro gênero de decadência é aquele que te vê chegar num lugar e quer apenas saber o que de ruim aconteceu. Nada melhor do que decepcioná-los, apesar da afiada argúcia que estas pessoas demonstram para encontrarem cada objeção. Na verdade, toda e qualquer vida pode ser vista como uma história de decadência, toda e qualquer vida pode ser descrita como uma longa insatisfação, só que é amável fingir que não há TANTO ASSIM disso. A alegria, a felicidade, mesmo que apenas aparente, facilita a convivência, abre assuntos, dá ilusões e é disso que vivemos. O que mais me apavora e surpreende é que a decadência de alguns inclui a não preservação de suas inteligências. Não, nada de exemplos, mas há os que ficam subitamente burros, invadidos pelo senso comum. Morrem antes. Porém os escritores adoram a decadência. O charme da decadência por escrito é algo irresistível. A verossilhança da decadência pode ser total, mas por escrito é suportável. Houve e há escritores que viveram de descrever decadências. Os romances ficam belos pela afeição que temos a nós mesmos, a narrativa faz com que compreendamos e nos amemos um pouco mais. Não obstante, sei lá, há quem saiba cair.

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  1. A decadência não existe, sem sua irmã gêmea, a plenitude. Mas ilusão, ah, ilusão existe. Por que? A decadência tenta exprimir um fato concreto que não o é; a ilusão, um fato abstrato que ganha concretude na razão.

  2. Particularmente detesto o senso comum. Será que é por isso que me chamam do contra?
    Concordo contigo, conheço gente que se acomodou e não lê mais, só assiste a filmes de
    TV, não contesta (tanto faz de que lado), verdadeiras baratas de sofá.

    Claro, isto não impede que eu não seja alguém que tenha emburrecido, mas se for verdade, ao menos vou lutar até o fim contra. Definiste bem, é a morte em vida.

  3. IMAGINÁRIOS
    by Ramiro Conceição

    À frente, ceticismo. Atrás, abismo.
    Acima, um silêncio. Abaixo, à toa.
    No centro, nada. Por fora, dentro.
    Somos pontos imaginários
    de vários planos inexistentes.
    Um teatro… com palco ausente.
    Um distinto público, sem gente.

  4. GAIA
    by Ramiro Conceição

    No imaginário Norte: brancos cabelos à sorte.
    No imaginário Sul: silêncios brancos do azul.
    Entre os pés e a cabeça: sonhos e florestas
    de flores amarelas, vermelhas – e tão azuis…

    Entre Norte — Sul o admirável sucedeu:
    conquistas, assassínios e o amor de Deus.
    Entre o céu e a terra uma história nasceu:
    aquela em que os deuses são filhos, seus!

    A pérola azul, uma lágrima divina,
    gira o ocidente ao oriente ao ocidente
    com dois corações castanhos em si…

    Aquele à direita – é a África bendita!
    Violentada pela ganância branca e vil.
    O indígena à esquerda ferido – é o Brasil!

  5. Na presença, em nossas vidas, dessa discutida decadência espiritual e/ou mental, no mais das vezes, tentamos compensar ou, pelo menos, equilibrar o seu dissabor, buscando a contrapartida material; o lenitivo dos prazeres terrenos.

  6. Mesmo para os vinhos a decadência chega um dia. Depois, escrever sobre a felicidade é piegas, enfadonho. Uma antiga vertente literária italiana – chamada “verista” – explorava bem a decadência humana. “Rosso Malpelo”, de Giovanni Verga, é leitura escolar obrigatória.

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