Em resposta a este post, porque às vezes é bom comunicar-se consigo mesmo…
Não pude vir aqui com tranquilidade para dizer que os sábados podem ser perfeitos. Este último foi. À tarde, por insistência de minha cara-metade, fomos ao cinema ver O dia em que eu não nasci, de Florian Micoud Cossen, filme alemão que trata dos desaparecidos na Argentina. Um belíssimo filme com atuação perfeita da para mim desconhecida Jessica Schwarz. (OK, sem grandes spoilers. Ficarei bem longe do fim do filme, tá?). Não esperava nada e me encantei pela história, apesar do início meio forçado. Que grande filme. O súbito e denunciador aparecimento do pai em Buenos Aires nas cenas iniciais e o encontro de Maria com a família argentina elevam a temperatura emocional de forma surpreendente até a elegante cena que finaliza a narrativa. O nome do filme em alemão é BEM melhor, para variar: Das Lied in mir significa A Canção em Mim. Ah, os tradutores dos títulos nacionais só pioram as coisas!
À noite, fomos ver o show do grupo Trissonâncias no StudioClio. O gismontiano trio formado por Pedro Tagliani (violão e guitarra), Michel Dorfman (piano e só — digo assim porque havia um ameaçador teclado que não foi tocado) e Fernando do Ó (percussão) é simplesmente ótimo. As músicas são quase todas de Tagliani (ex-Raiz de Pedra) que volta ao Brasil após 19 anos na Alemanha. Foi um espetáculo excelente de música instrumental brasileira. Melhor ainda quando se vê e ouve o show acompanhado de cervejas compradas no bar do Clio e que se leva educada e silenciosamente para a plateia. A Colorado Appia é boa demais, nossa!
E, no final, ainda ganhamos uma garrafa da cerveja Baca, do StudioClio. Grande dia.
Aviso ao Marcos Nunes: pelo amordedeus, não fale nada de barzinho relacionado aos músicos.
P.S.: por que sempre que você, Milton, fala em apresentações de grupos musicais daí, cita o fato de ter levado um vinho ou uma cerveja conspicuamente escondida (ou semi-escondida, como me pareceu neste caso) para dentro da sala de apresentação? Me vem sempre o terror da suspeita de que aí no sul existe uma lei que autoriza a punição imediata com chicotadas do expectador flagrado bebendo nas apresentações.
Não, o Clio é tão civilizado que oferece um balde com gelo e dá abridores pra gente abrir as garrafas durante os aplausos. É outro mundo, muito mais dionisíaco.
Bah, pensei num troço completamente diferente, mas relacionado com as questões d’ontem. Imaginei dizer a alguém que fui ao cinema ver um filme alemão e a pessoa me perguntar: “E aí? Quanto foi? Quem ganhou? Teve expulsão?” Por que isso? É que ir a um estádio de futebol, para euzinho, significa algo como ir ao teatro. Não me interessa a competição. A classificação. O resultado em si. Só os aspectos lúdicos e artísticos. O bom desempenho dos jogadores enquanto artistas: bailarinos, se quiser. O conjunto das relações tecidas no espaço do campo, no tempo da criação do espet´culo, e todos os fatores envolvidos nele. Isso é o que vale. Não o título, o troféu. Futebol é arte e, enquanto tal, também é uma ocupação social, um meio através do qual a sociedade encontra-se com ela mesma. Devia ser motivo de festa, não de briga. Se é de briga, então o problema são as relações da forma como elas se produzem globalmente, e encampam o futebol tanto quanto a música. Daí que tem músicos que, bem… parei por aqui.
Além disso, um detalhe:a Colorado Appia é boa e cara, muito cara.
Como eu disse, futebol é coisa de veado.