AQUI, fotos da queima do inflável da Coca-cola na saída do show.
AQUI, fotos do show.
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O tom do show foi dado sem que nenhuma canção fosse apresentada. Quando o locutor anunciou o espetáculo que fechava a edição de 2012 do Porto Alegre Em Cena, a Prefeitura foi citada, recebendo imediatamente uma vaia. Logo depois, sozinho, Tom Zé entrou lentamente no palco carregando um maço de jornais. Começou a ler algumas manchetes, agradecendo aos jornalistas que organizaram suas — segundo ele — disparatadas respostas, tornando-as bonitas matérias. Quando chegou ao nome de Zero Hora, outra vaia. Então Tom Zé jogou longe seus jornais e ficou claro que o show teria enorme participação de um público que ama o cantor e compositor.
Antes mesmo da banda entrar, ele tratou de organizar o movimento, pedindo respeito aos seguranças e que as pessoas em pé na frente do palco se retirassem porque senão todo o Araújo Vianna seria obrigado a levantar. Todos colaboraram e o show começou, não sem antes ouvirmos a explicação para o rabo que Tom Zé trazia atrás de si. Ele ensinou que os faraós egípcios, quando visitavam a divindade, colocavam um rabo a fim de demonstrarem sua inferioridade em relação aos deuses. Com o mesmo, Tom queria deixar clara sua posição em relação a Caetano e Gil, os principais nomes da Tropicália.
Falta uma semana para Tom Zé completar 76 anos, mas ele parece ter 36. Canta com voz potente, dança as danças do nordeste erguendo os pés até quase a altura de sua cabeça e demonstra enorme felicidade de estar ali. Afinal, o mais anárquico e injustiçado membro da Tropicália recebe desde os anos 90 a contrapartida que não tivera antes. Como dissemos, o público o adora — todos os CDs trazidos pelo artista foram comprados antes da apresentação — , canta junto, aplaude muito e, entre as músicas, Tom lê os recados que recebe e ouve pedidos de canções. Um dos recados mais aplaudidos foi aquele que reclamava que o elevador da Casa do Estudante não funciona há um ano.
A base do show é seu último CD, Tropicália Lixo Lógico. As canções são efetivamente ótimas, altamente criativas, com destaque para Não tenha ódio no verão, O motobói e Maria Clara, Marcha-enredo da Creche Tropical e De-de-dei Xá-xá-xá. Entre elas, homenagens à Aristóletes e citações das Metamorfoses de Ovídio. Foi quando, ao final de uma canção, inesperadamente, foram subitamente desfraldadas faixas pela plateia. As faixas diziam “Praças Vendidas”, “Não ponha o toque de recolher na alegria” e outras palavras de ordem do movimento porto-alegrense Defesa Pública da Alegria. Um gosto vidro e corte perpassou a espinha deste comentarista que pensou estar voltando aos tempos da ditadura.
Sensível ao momento, Tom Zé foi até a margem do palco, pegou um papel e começou a ler o manifesto do movimento. Foi um episódio belíssimo e, a partir dali, o compositor passou a uma revisão de sua obra em ordem cronológica descendente. Nesta viagem ao passado, ele apresentou algumas de suas músicas inspiradas por avisos — as hilariantes Não urine no chão, Atenção passageiro, antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar — , até chegar ao clímax: a clássica 2001, imortalizada pelos Mutantes. No caminho passou por Augusta, Angélica e Consolação e muitas outras. O show foi encerrado por Xique-xique (“Sacode a cultura, sacode a cultura”). No bis, entre outras, Menina amanhã de manhã e Jimi Hendrix.
Sobre o novo Araújo há que dizer que a amplificação do som esteve bastante boa. Caminhamos por todo o auditório e não percebemos aqueles ecos e retornos de som do passado.
Durante o show, Tom Zé mostrou um dos cartazes trazidos pelo público, o qual dizia “Praças vendidas”. Ao final do show, um grupo pôs fogo em um inflável da Coca-cola. Também alguns manifestantes sentaram no gramado ao lado do prédio — cercado por grade desde a reabertura — , e foram retirados do local com truculência, segundo relatos. A Brigada Militar informa que não houve registro de nenhuma ocorrência, seja sobre o protesto, seja sobre a queima do inflável.
milton, tens que botar um botão curtir (do face) nos teus posts. o compartilhar é só pra pérolas; um curtirzinho já tem seu valor e não deixa passar em branco.
Ok, se era para matar de inveja, acertou em cheio. Pelas bandas de cá um do nível dele não interage, tem movimentação e fala ensaiadas. Falta, também, alguém sensacional como Tom Zé.
Tom Zé é genial, mas tenho de confessar que, infelizmente, ele me cansa (pois é…). Apesar de ter gostado muito, muito, muuuuito do Tropicália Lixo Lógico, não sei se iria a mais um outro show dele… sim, maluquice e bobeira minha, eu sei.
🙁
P, às vezes sinto a mesma coisa, quando estou diante dum Glauber…
Mas a gente vai levando, vai levando essa chama…
BRAZIL, CAPITAL BUENOS AIRES
by Tom Zé
No dia em que a bossa nova inventou Brazil
teve que fazer direito, senhores pares,
porque a nossa capital era Buenos Aires,
a nossa capital era Buenos Aires.
(bis)
E na cultura-Hollywood o cinema dizia
que em Buenos Aires havia uma praia
chamada Rio de Janeiro
que como era gelada só podia ter
Carnaval no mês de favereiro
Naquele Rio de Janeiro o tango nasceu
e Mangueira o imortalizou na avenida
Originária das tangas
com que as índias fingiam
cobrira graça sagrada da vida.
No dia em que a bossa nova inventou Brazil
teve que fazer direito, senhores pares,
porque a nossa capital era Buenos Aires,
a nossa capital era Buenos Aires.
(bis)
E na cultura-Hollywood o cinema dizia
que em Buenos Aires havia uma praia
chamada Rio de Janeiro
(nem cantinho,nem Corcovado)
que como era gelada só podia ter
(que dó)
Carnaval no mês de favereiro
(Nem barquinho na Guanabara)
Naquele Rio de Janeiro o tango nasceu
e Mangueira o imortalizou na avenida
(Jamelão na verde-e-rosa)
Originária das tangas
com que as índias fingiam
cobrira (que dá) graça sagrada da vida.