O Southbank Center, em Londres, abriga quatro orquestras de primeira linha. É um Centro Cultural com três fantásticas salas de concertos dedicado à música, mas não pensem que não há outras orquestras sinfônicas na cidade. Elas estão espalhadas como times de futebol.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, cidade de 8 milhões de habitantes e apenas quatro orquestras, o prefeito Eduardo Paes pretende que duas das orquestras mantidas parcialmente pela prefeitura — a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) e a Orquestra Sinfônica Brasileira Ópera e Repertório (OSB O&R) — sejam integradas à Orquestra Petrobras Sinfônica (Opes), regida pelo maestro Isaac Karabtchevsky, seu “querido amigo”. Segundo o brilhante prefeito, o Rio precisa de apenas um conjunto sinfônico forte que, segundo ele, poderia se chamar OSB-Petrobras ou Petrobras-OSB.
O estranho é que ele não parece ter articulado nada, pois a Orquestra Petrobras Sinfônica reagiu, em nota, informando que “não tem interesse de se fundir a outro grupo, por defender a pluralidade artística”. Segundo a entidade, “ter uma orquestra única no Rio implicaria na diminuição da oferta de espetáculos, do mercado de trabalho e da abrangência geográfica dos concertos”. Estão certos.
Tal fato ocorre após a Prefeitura suspender o apoio de R$ 8 milhões anuais que dava à Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (FOSB), trocando-a por apoios a eventos esportivos certamente carentes de patrocinadores.
Contrariamente ao que pensa o prefeito — que tem tanta vivência com as artes que esqueceu da Orquestra do Municipal, também parcialmente sustentada pela Prefeitura … — as principais capitais do mundo têm, cada uma delas, uma dezena de conjuntos sinfônicos. Ele. em pose de vendedor, defende o dinheiro público tem que ser investido em coisas que de fato deem projeção à cidade…
— A posição do prefeito é absolutamente ridícula e lamentável — classifica o maestro Silvio Viegas, regente titular da Orquestra do Teatro Municipal. — É o mesmo que propor que Flamengo se una ao Vasco e que Botafogo se una ao Fluminense porque a cidade tem times demais.
O secretário municipal de Cultura, outra sumidade, concorda com o prefeito.
O Paes com isso só quer dizer que ele tem uma proposta para o setor, quando a úmnica que ele guarda consigo é simplesmente deixar d financiar qualquer instituição de caráter cultural-musical que não lhe renda prestígio perante uma camada mais substancial de eleitores. Com a falsa proposição, ele empurra com a barriga a questão até ver se aparece alguma manifestação relevante contra suas atitudes derrisórias, ou uma empresa estatal que passe a sustentar a orquestra. Assim, ele terá mais verba para suas “obras prioritárias”, dessas que são conclupidas hoje e em 3 meses estão deterioradas por má qualidade de materiais utilizados. Isso depois que um ex-prefeito e mentor dele gastou uma fortuna para construir uma “Cidade da Música” que, além de não operar, foi colocada em um bairro onde 99% da população é de seguidores de trios elétricos e afins, de forma que o equipamento ficarpá subutilizado ou serviurá somente para shows da Claudia Leite ou Ivete Sangalo, isso se não for para festivais de “funk carioca”. Ainda bem que, aqui bem pertinho, existe a sala Cecília Meirelles, que, aliás, está em obras há meses, talvez mais de 1 ano e, pelo jeito, será entregue daqui a 10 anos.