É incrível o sucesso do filme Anna Karênina em Porto Alegre. Entrou em cartaz lá em fevereiro e ainda hoje rola pelo circuito exibidor. O problema é que gostei só de dois terços do filme. E não gostei nada da escolha da atriz principal. Vamos começar por este ponto.
Quem leu o livro sabe: Anna era voluptuosa — compormental e visualmente –, Anna certamente tinha seios grandes e suas formas eram arredondadas, tinha também olhos claros e cabelos escuros. Keira Knightley não tem nada disso. É óbvio que até homens podem fazer eficientemente papéis de mulheres, mas nunca no caso de Karênina. A figura da personagem principal domina o livro, seduz meio mundo e há uma coisa nela que desarma os homens: o colo e o belo sorriso. O sorriso de Knightley é tudo menos bonito. Tanto que ela pouco sorri nos filmes, pois ele tem algo de um esgar, na minha opinião.
Então, temos uma Karênina magérrima, de olhos castanhos e sem o colo maravilhoso que Tolstói canta em prosa e verso. E sem sorriso. Diverti-me muito com a crítica escrita no segundo número da revista zinematógrafo. A resenha é de Paulo Casa Nova e diz num trecho:
E [o diretor Joe] Wright escolheu para o papel a bela, a jovem, talentosa e magrela Keira Knightley. Ora, que escolhesse a vó do Badanha! A menina é esforçada, mas não parece uma mulher madura, voluptuosa e insatisfeita nem na Etiópia! Daí a nota em falso do filme; e é tudo em cima dela. Claro, porque ela é o pivô do filme, o filme é dela: para onde ela vai, o filme tem que ir atrás.
Esquecendo a atriz principal — o que é quase impossível –, acho que o filme vai bem até chegar na terça parte final. A estrutura meio vaudeville da Karênina de Wright não obteve acesso aos fantasmas de cada personagem — os de Tolstói são multifacetados, de rica vida interior e muito interessantes. Ao final, o filme torna-se melodramático e superficial, traindo o romance. Como também disse Paulo Casa Nova, o drama construído no filme não parece valer um suicídio e a gente fica torcendo para Anna atirar-se logo na frente do trem. Porém, acho que vale a pena ver, o filme tem momentos belíssimos e traz algumas boas soluções. Só que Tolstói merecia mais.
Aliás, anos atrás tivemos uma péssima versão de Anna Karênina, de Bernard Rose (1997). Rose pode ter errado em tudo, mas sua Anna é adequadíssima: Sophie Marceau.
P.S. — A propósito, quando Keira Knightley chegará finalmente ao século XXI? Só eu que nunca a vi de jeans? Ela vive mesmo no passado?
Mas que ela tem um rosto fantástico ela tem.
A inglesa voluptuosa é a Gemma Arterton, mas falatria uns anos para ser a mulher madura que penso da Ana karenina. No entanto, vale conferir e quem sabe num futuro….
Eu vi uma adapatação para TV coma jaqueline Bisset, outra inglesa, no ponto certo , bem no ponto. pena que só o Truffaut sabia faze-la trabalhar bem
Gostei do filme e não vi esses defeitos todos, que se devem, principalmente, à impossibilidade de colocar em cinema a riqueza d eum texto que só coube no livro. Mas as soluções encontradas foram boas e, quanto à atriz principal, achei legal. Não me importo se ele não corresponde à imagem oferecida no livro. Ela é só uma imagem, pode ser substituída por outras, e a paixão arrebatadora não necessariamente deve ser expressa em arroubos e histerias. É um sentimento interior que podemos ver nos olhos de Keira. Ademais, atores não importam tanto assim.