A incrível festa de aniversário do Igor

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Iuri, Débora e o pouco feliz aniversariante.
Iuri (esquerda), Débora e o pouco feliz aniversariante.

Hoje é o dia do meu aniversário, mas estou ainda sob o efeito de outro, o do Igor Natusch (2 links). Não tinha planejado fazer festa para mim, mas a Astrid Müller e o Augusto Maurer providenciaram uma ontem. Estou bem, mas deveria estar de luto. Então, como desconfio que uno de los muertos de mi felicidad (como diria Silvio Rodríguez) seja uma das versões de mim, escolhi manter um impossível recolhimento, considerando os queridos amigos que tenho. Gente como o Igor, que tinha uma proposta de aniversário das mais estranhas:

Decidi, pela primeira vez na minha vida, fazer uma festa de aniversário. Completo trinta e três invernos chuvosos no dia 15 de agosto deste ano e decidi fazer uma festinha para comemorar. Todos estão convidados a me encontrar no Largo Glênio Peres na noite fatídica (será uma quinta-feira) trazendo bebidas (isopor ajuda, claro), comidas e lugar para sentar (cangas, cadeira de praia, almofadas, o que quiserem). Evidentemente, todos estão convidados. E a proposta é muito, muito séria.

Eu e a Bárbara nos dirigimos para a festa achando que íamos encontrar o Igor com dois ou três amigos no meio do Largo. Trazíamos um garrafa de bom vinho, abridor e duas taças. Quando dobramos a Borges, vimos que havia uma grande roda de pessoas conversando animadamente. Como o Igor tem 1,90m, foi fácil vê-lo de longe. Logo que cheguei, propus abrir o vinho, mas o pessoal estava todo no quentão. O que era bom, porque parece que estava 5 graus, mas eram 5 graus do bem, sem vento, sem umidade e ninguém tiritava.

O inusitado da festa deixou todo mundo alegre e vários grupos menores foram se formando e alterando durante toda a noite. O álcool rolava em boa velocidade. Logo chegaram vinho e cerveja. Do alto de um edifício, para os lados da Otávio Rocha, vinham alguns flashes, o que indicava a desconfiada presença dos homens da lei. O que fazia aquele estranho grupo ali parado, formando círculos, todos com copos na mão e pegando comida num espetinho ao lado? Mas não fomos abordados.

A coisa ia muito bem quando começou a ficar cômico-poética. Eu vi o cara de longe. Ele vinha completamente bêbado com os braços abertos, como se dançasse. Usava um casaco claro fechado até em cima, tinha uma micro mochila nas costas e uma cara nada rotineira.

Então, parou na frente de nosso grupo e perguntou daquela forma que só os gays muito engraçados conseguem fazê-lo. Mexeu os braços em círculo, deu uma meia volta e disparou em alemão:

— Was ist das? (O que é isso?)

Aparentemente, só eu tinha rudimentos de alemão e respondi:

— É uma festa de aniversário.

Ele deu um sorriso:

— Wie wunderbar! Und warum bin ich nicht trinken? (Maravilhoso! E por que não estou bebendo?)

Fui providenciar uma bebida para o homem, um certo Alexandre, que é esteticista e que se apaixonou imediatamente pela Bárbara. Quando falou com ela, tratou de usar o português.

— Ai, tu é linda e chiquérrima!!!!!! Que roupa perfeita, que cabelo de luxo! Deixa eu dar uma arrumadinha nele?

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E começou a arrumar o cabelo de minha filha, que não parava de rir. Depois de terminar, pediu que algum dos rapazes lhe acendesse o cigarro.

— Wer ist der Junge mehr höflich? Wer leuchtet meine Zigarette? (Quem é o rapaz mais educado? Quem vai acender meu cigarro?)

Então o Tárlis Schneider tratou de acender a coisa, só que o Alexandre não conseguia ficar parado, balançando para a frente e para trás de tão bêbado que já chegara. Ele disse que estava na casa de uma amiga e que esta o deixara assim… embriagado, sabe? Mas que ele estava pronto para tudo.

Então, vindo de não sei onde, chegou o Nego Xuxa. Ele se deu conta que era uma festa e queria rezar um Pai Nosso em homenagem ao Igor. Como ninguém manifestou grande entusiasmo pela proposta, ele ficou meio decepcionado, esperando que alguém começasse a ladainha. Não deu certo e então ele puxou um Parabéns a Você aos berros. Perdi de vista o Nego Xuxa, pois estava conversando com a Natália Otto, a Débora Fogliatto e o Tárlis. Foi quando o Alexandre voltou e eu soube que o pai dele era alemão e que ele gostava de usá-lo com suas clientes. “É uma língua muito linda, noooooossa!”.

O grupo de amigos do Igor crescia consideravelmente e os flashes do edifício aumentavam em frequência. Quando olhei para o lado, o Nego Xuxa estava literalmente pendurado no Samir, que segurava um peso que parecia ser maior que o dele. Ignoro o que houve. O Xuxa parecia deveras descontrolado. E, por falar em controle, logo depois surgiu outra figura sensacional e absolutamente controladora.

Casaco comprido preto, todo elegância, ele chegou até nós e perguntou em português mesmo:

— O que é isso?

— Uma festa de aniversário.

— E quem é o aniversariante?

— É aquele ali.

Então ele disse que era maestro de coro e começou a vasculhar os próprios bolsos. Encontrou um diapasão e bateu-o fortemente no joelho. Levou-o ao ouvido e, dois segundos depois, começou a cantar o Parabéns mais afinado da noite, caminhando em direção ao Igor, enquanto nos regia. Vocês estão pensando o quê? Foi uma noite de Igor e de rigor.

Saí da festa ali pelas 22h. Levei a mãe do Igor em casa. Não a conhecia, mas a Maria Fênix é uma figuraça e me contou toda a história da família no caminho. Soube que perdi a chegada dos encapuzados, que devem ter proposto uma caminhada até a RBS… Uma pena a fraca presença de fotógrafos…

O Igor estava radiante, verdadeiramente nas nuvens com a demonstração de carinho dos amigos. Ele ia de um grupo a outro com um sorriso aparentemente indesmanchável. Festa perfeita.

Neste momento, eu já tinha saído.
Lá no final da festa. Neste momento, eu já tinha saído.

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11 comments / Add your comment below

  1. O Milton faz aniversário e quem ganha o presente (esse relato sensacional) sou eu.
    Foi uma festa gloriosa, de fato. Não sei se farei outra na minha vida, porque o patamar alcançado é alto demais, provavelmente insuperável. Ficarei em recolhimento nos aniversários seguintes, de forma que este se transforme no que merece ser: uma lenda.
    Obrigado a todos que foram. Contribuíram decisivamente em um dos dias mais memoráveis da minha vida.

  2. Hoje é o teu aniversário e parece que os leitores do post nem se aperceberam disso, tamanha a modéstia com que a informação foi dada. Você fala do aniversário do Igor, da beleza da Bárbara, dos tipos divertidos que passaram pela festa e nos fazer querer ter ido. Assim como falou, em outros momentos, dos amigos tão especiais que tem e que misteriosamente se reúnem em torno de ti, “uma pessoa sem maiores atrativos”. Eu diria que é nisso justamente que está o teu segredo, o segredo do blog, o segredo do Sul21, o segredo da tua popularidade: a tua capacidade de deixar os outros brilharem. Você se alegra por eles, não se sente agredido ou competitivo por suas qualidades; é um amigo de vinho, de festas e também de silêncios e de luto, depende do que a ocasião pede. Você é modesto no melhor sentido da palavra. Quem sabe pudéssemos dizer – você é proporcional.

    Feliz aniversário, Milton. Que a música que há dentro de você – por vezes mais alta, por vezes quase inaudível neste ano – continue sempre presente.

    1. Bem, talvez nem devesse dizer nada.
      Mas mo que penso é que aniversário é uma motivação boba para uma festa, pois penso que aniversário se faz todos os dias: a cada dia de sobrevivência temos um motivo para comemorar.
      Daí, temos motivo para comemorar “aniversários” todos os dias.
      O que seria ótimo.
      Mas só possível para muito poucos.
      Isso para não cogitar aniversários por hora, ou a cada minuto, mesmo a cada segundo.
      Ou a cada medida quântica?

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