Tudo de novo?
Ou não. Talvez seja tudo novo, isso sim, pois não consigo lembrar de algo parecido em minha vida e olha que tenho boa memória. Tenho voltado feliz pra casa em meio ao calorão que nos assola. Caminhando na canícula, fico até envergonhado de meu meio sorriso. Sou o único feliz. É claro que, descontando uns outros aí, és meu primeiro amor. Tudo me parece tão inédito ou estava tão escondido e afastado no tempo que nem lembrava mais de como era. Meu único trabalho tem sido o de tentar retirar quaisquer objetos incômodos, oferecendo-te as horas calmas. E assim vamos atrás do que há para ser alcançado, que é a hora seguinte e que sempre chega a tempo. Tudo tem sido tão, mas tão bom e simples que estou pasmo, Elena. Talvez seja estranho agradecer, mas é o que tenho vontade de fazer.
Talvez agora seja a hora de escrever aquele romance, modificado em sua profunda estrutura por essa nova felicidade, meu caro Benedetti tardio. Esse seu amor, cheio de juvenilidade e leveza, é uma inspiração, pode crer. Há muito aí que me proporciona leituras subliminares, sobre o que afinal importa nessa vida, sobre o que afinal é fundamental, sobre deixar tanta coisa pesada e desnecessária em sua súmula de ridícula importância para trás. Bom que esteja feliz!
As palavras do Charlles são também as minhas… Boa sorte!…
POEMA VERMELHO
Degustar
O gomo
vermelho
do beijo.
Amanhece.
Trabalhar
o campo
do coração
da Vida,
e pensar-sentir
as flores
que Tu, Sol,
nos deste.
Anoitece.
Criar
beijos
(amor)
vermelhos,
e dormir
qual faz
em paz
o pássaro
que tece
encânticos.
Amanhece.
ALÉM DE ÍCARO
Só depois de compreender a física
do corpo morto, da flor nascente,
só depois de compreender
com a metafísica
que tudo morre e nasce
diferentemente,
foi possível ao poeta
inventar um foguete lírico:
um albatroz de Baudelaire
pra além da tragédia de Ícaro.
PRÁXIS
Construo uma escada imaginária
para subir numa concreta árvore,
mas não é para cortá-la
ou construir uma casa sob seu telhado,
mas, sim, para aprender
as melodias das calmarias
e o perigoso cântico da tempestades.
LAGARTA
O poeta andarilha à noite,
à beira das marés: é uma lagarta
que crê criando andares na escuridão.
CRISÁLIDA
Sou uma crisálida
prisioneira da existência,
mas procuro uma janela,
por pequenina que seja,
pra descobrir o Universo.
PANAPANÃ
A vida é além e aquém da superfície.
Jaz lagarta. Jaz crisálida.
Agora é o tempo de Panapanã…
PS: esses poemas pertencem ao Vagalúmen, que publiquei em 1999. Desejo tal transformação a vocês dois, Milton e Elena.
Que beleza de momento, Milton! Desejo toda a felicidade para ti.
Ramiro, colocaste uma das mais belas músicas já compostas em nossa história – “Arrumação”, do Elomar (um gênio brasileiro). Também colocarei uma pela qual sou apaixonado: “Ana Rosa”, do Luiz Gonzaga. A música começa em 2:13;
nas palavras de charlles, formo um provisório trio ternura, junto dele mais ramiro.
que suas palavras espelhem sua alma. um desejo quase retórico.
Carlinus,
como bem ressaltado por você, em seu blog, talvez se o mundo tivesse compreendido a profundidade da compaixão de Rosa de Luxemburgo diante do olhar daquele búfalo maltratado e espancado por um imbecil daquela cidade na qual ela era prisioneira… Sim, talvez, a história do socialismo fosse outra… Talvez não tivesse havido a tragédia do cabo Adolfo… Ou aquela outra associada ao medíocre ladrão de galinhas, georgiano, de nome Josef… Quem sabe?
Maldita pergunta: quem sabe?
Muito linda sua declaração. E ver alguém feliz é uma forma de me sentir feliz, também, Amigo.
Eis, senhoras e senhores, o grande combustível da vida.
Ela tem mãos bonitas.
Porque hoje é sábado… E por que o Milton deve estar a viajar com seu amor… Portanto, ao PHES que deveria ter acontecido, atrevo-me a deixar algo ou alguém que nasceu (quase agora…).
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FELICIDADE E SILÊNCIO
by Ramiro Conceição
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Como descrever a felicidade,
que é ver uma infância a pular
feito uma labareda a sair ou a entrar…nos brinquedos
que aos poucos, ou de repente, se tornam pequenos?
Como descrever a emoção de compreender que a vida
é a ponte entre o nada e o primeiro grito, mas também
entre o último olhar e o silêncio contumaz do infinito?