Pois, meus preciosos sete leitores, sabiam que na semana passada, fui pela terceira ou quarta vez alvo de ácidas críticas por externar simples opiniões a respeito de concertos? Meu perfil do Facebook foi bombardeado por toda sorte de mau humor e truculência. O motivo do ataque foi isto aqui, uma tranquila, educada e zombeteira resenha. Vocês não imaginam, me chamaram de tudo! Eram só quatro ou cinco, enquanto vinte silenciosos vieram se solidarizar e contar histórias no meu inbox. Eu, como a mula empacada que sou, permaneço ainda com o pensamento de que, se não há mais crime de opinião no país, posso achar o que quiser sobre qualquer concerto, livro ou fato. E aceito que as pessoas discordem ou me achem burro ou ignorante. Sem problemas.
Depois de apanhar por algumas horas, veio a primeira defesa muito bonita. Coloco-a abaixo porque vale a pena ler. É de Francisco Marshall, curador do StudioClio Arte E Humanismo. Ele responde a um indignado.
Desculpa, sabes que te admiro como músico e que, igualmente, esta é o cimo das artes e merece nossa melhor atenção. Por outro lado, sou amigo do Milton Ribeiro, gosto de seu estilo e acho que ele é, ao contrário do que conjeturas acima, um forte apoiador da música erudita. Isto posto, cabe dizer que conquanto compreensíveis (é desagradável ser criticado, ainda mais por quem julgamos ser inferior), as reações tuas e de outros músicos acima concentraram-se neste pathos penitente, em acusações anacrônicas (alergia a música registrada? Me poupe), em preconceitos e em pouquíssimo conteúdo musicológico. O pouco que li acima sobre a música e sua execução poderia ser discutido ou mesmo dialogado serenamente, sem tanto patetismo e grosserias. Poderíamos falar com espírito (humor e ironia), mais de acordo com a qualidade da música erudita, e avançar no que importa, a compreensão e fruição da arte. A opção pelo ataque ao crítico revela insegurança, narcisismo, infantilidade, imaturidade e outras características que ninguém admira. Sei que é difícil, mas é preciso serenidade e tolerância diante das críticas. Não as considerei levianas, mas próprias de um ouvinte interessado e com critérios. Podemos discutir critério e conteúdo, mas este papo de exigir “críticas, somente as construtivas” ou de estigmatizar o interlocutor me parece menos Voltaire e mais Medici (o Emílio G., não o Lorenzo…).
Depois, de forma um muito zombeteira, Francisco Marshall sintetizou como deve se comportar o crítico musical da OSPA. Será que todos os músicos exigem este comportamento?
“Podemos então sintetizar o Código Deontológico para a Crítica Musical da OSPA:
1. O crítico deve ser músico, de preferência com formação em musicologia e estágios em Freiburg, Weimar e Berlim.
2. Só pode elogiar, jamais criticar (!), ops, deixar de elogiar.
3. Nada de humor ou ironia, pois música de concerto é assunto sisudo, ainda mais quando executada em igreja. Roga-se tom solene.
4. Jamais comentar sobre a plateia, seus comportamentos e anedotas (3) pois os agentes únicos em um concerto são O Regente e Os Músicos.
5. O crítico deve também considerar, sempre elogiosamente, a trajetória de paixão musical e de excelência acadêmica e artística do Sr. Regente e dos Srs. Músicos.
6. O ideal é que o crítico consulte a Orquestra antes de publicar.
7. Se o crítico transgredir alguma das condições acima, deve ser insultado, achincalhado e até mesmo ameaçado, podendo, conforme o caso, ser surrado por um ou mais Músicos.
8. Sabedores de que a melhor forma de propiciar o aperfeiçoamento é colecionar louvores, fica estabelecido que quem não aplaudir efusivamente a Orquestra deverá ser desdenhado, preferencialmente por meio de dezenas de postagens irritadas.
Estás de acordo, Milton Ribeiro? Vamos assinar um Termo de Conduta?”
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Copiei o Octálogo de Marshall no meu perfil e os comentários foram sensacionais. Vale a pena lê-los abaixo. Assim como os dois textos do Marshall, a intervenção da Elena foi antológica, mas em outro registro. Registro que não sei explicar muito bem.
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Leonardo Winter gostei da clausula 7 ..concordo com todas..rsrrs
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Lavard Skou Larsen acrescento ao item 7: deve levar tiro de espingarda na bunda!!!
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Milton Ribeiro Pô, Lavard não ensina os caras!
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Lavard Skou Larsen vai comprar cueca de ferro duma vez, Milton.
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Fernanda Melo Era o estímulo que faltava pra eu começar a tocar um instrumento musical.
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Elena Romanov Pensei, pensei e decidi contribuir para o item 7.
Amanhã mesmo vou comprar um chicote “bem bão”, nada de seda, um desses de macho, e vou começar a castigar o Milton por criticar a nós, músicos.
1. Estou planejando dar uma chibatada profilática diária sem maior motivo, só para sensibilizá-lo. Sinceramente, eu me irrito com o fato de ele conhecer tão bem o repertório. Ele reconhece de ouvido todos os movimentos de todas as sinfonias, sonatas, quartetos, seja lá o que for… Assim não pode, você não é um músico formado, vai tomar banho! Não pode ser melhor que eu nisso!!
2. Se ele criticar nosso senso estilístico, andamento ou balanceamento – mais uma chibatada.
3. Se criticar a afinação – mais duas.
4. Se distrair-se durante o concerto para ouvir os elogios do público a outra mulher – três.
Até pensei em oferecer meus serviços aos colegas. Só vocês pedirem e eu bato no Milton. Claro que não é grátis, mas cobrarei um preço razoável.
Pensem bem: tenho acesso diário a ele, estudei na União Soviética, vou bater com qualidade.
Considerem isso antes de me oferecerem um valor, tá?
Importante também vocês levarem em conta a minha trajetória e as minhas dificuldades: 38 anos de violino acabaram com meu cervical e com muitos músculos e tendões, então meu esforço físico vale muito mais, tá?
E pensem na dificuldade de presenciar o sofrimento de uma pessoa querida, de causar este sofrimento… O valor não pode ser baixo.
Caro Milton, aceite isso, por favor! Podemos melhorar a nossa situação financeira. -
Milton Ribeiro Elena? És tu mesmo, minha querida, ou é um hacker?
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Elena Romanov Agora você entende, Milton, q u e r i d o, que falo a verdade quando afirmo que a gente ainda está se conhecendo?
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Luís Augusto Farinatti Elena Romanov, eu não entendo nada de música erudita, mas me candidato para surrar o Milton Ribeiro!!
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Milton Ribeiro Medo.
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Elena Romanov Obrigada, Luís Augusto Farinatti! Acho que vou precisar de muuuita ajuda e fico preocupada com a minha condição física… será que aguento o ritmo sozinha?
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Luís Augusto Farinatti Pois é, pensei exatamente nisso Elena Romanov. E no bem da arte, é claro. Como, ao contrário de ti, nem gosto tanto assim do Milton, me obrigarei a cobrar um pouco mais barato. Mas estou aí para contribuir.
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Milton Ribeiro Aguenta, meu amor, claro que sim. (Nada de convidar terceiros!).
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Luís Augusto Farinatti aliás, postagem MARAVILHOSA, Elena Romanov
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Milton Ribeiro Concordo inteiramente!
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Elena Romanov Obrigada, Luís Augusto Farinatti! O que a gente não faz para defender a Arte dos mal-intencionados, né?
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Luís Augusto Farinatti hahahaha é mesmo! E nem te preocupe com o suposto fato do Milton entender mais de música do que tu, que és profissional. Tu até já estás escrevendo tão bem quanto ele!
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Milton Ribeiro Mais uma verdade. A capacidade de expressão da Elena me preocupa.
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Luís Augusto Farinatti Agora quero ver tu igualá-la… em russo…
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Milton Ribeiro HAHAHAHAHAHA
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Éder Silveira Assim, eu não tenho nada que ver com isso, mas se for para dar uma surra nesse baixinho, contem comigo.
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Luís Augusto Farinatti E toda essa explosão de talento narrativo de Elena Romanov foi provocada, é claro, pela esplêndida postagem do Francisco Marshall. Olha, vocês são feras. Obrigado por tornarem minha noite tão alegre.
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Milton Ribeiro Com licença, vou ali fazer um B.O.
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Éder Silveira Alegre mesmo será quando cobrirmos o Milton de porrada, Farinatti.
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Luís Augusto Farinatti Olha, não vou negar, Eder… \o/
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Elena Romanov O Milton já teve uma conversa séria com a minha mãe no telefone. Em russo!
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Luís Augusto Farinatti hahahahaha eu fiquei sabendo!
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Luís Augusto Farinatti Se é que foi a mesma “Niet, Milton!”
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Éder Silveira Elena, eu ainda não havia mencionado, mas teu talento narrativo é encantador. E saber que vais embolachar o Milton com método é um refrigério para a alma.
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Milton Ribeiro Foi assim. Ela disse: “%&**¨$$#$#%¨&” Elena “#$%$$())_(*&¨%” E eu respondi: “Elena NIET”. Foi isso. Pois ela não estava em casa.
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Luís Augusto Farinatti hahahahaha
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Éder Silveira Elena, sei que pode ser pedir demais, mas a eficácia é garantida: veste a camisa do Grêmio quando foras bater no Milton, hahahahahaha
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Milton Ribeiro Eu releio a frase “Estudei na União Soviética, vou bater com qualidade”.
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Luís Augusto Farinatti Savoir faire.Ver tradução
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Milton Ribeiro Muito.
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Éder Silveira Sim, mas que qualidade não seja o oposto de quantidade.
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Éder Silveira Aliás, como dizia o Lênin, a quantidade tem uma qualidade que lhe é inerente.
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Éder Silveira Sim, mas que qualidade não seja o oposto de quantidade.
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Éder Silveira Não tornemos a nossa alegria algo venal, pagamos o que for preciso.
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Luís Augusto Farinatti O Eder fica colocando as fantasias dele na jogada… Eu hein…
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Éder Silveira hahahahaha
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Éder Silveira Na hora do aperto vocês se protegem, hahahahaha
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Luís Augusto Farinatti É a díade estruturante do mundo. Gre-Nal. Todo o resto a ela se submete. Boa noite, queridos, espero não sonhar com críticos de música.
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Milton Ribeiro Eu vou dormir num Gulag.
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Francisco Amaral Milton e Elena, duas entidades que se complementam!
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Milton Ribeiro Uma batendo e outro apanhando, Francisco Amaral?
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Francisco Amaral Tipo isso!
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Milton Ribeiro hahahaha
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Milton Ribeiro O Lavard Skou Larsen vai adorar todos os itens descritos pela Elena….
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Augusto Maurer Vídeo muito esclarecedor, para entender a que se referia Elena Romanov ao dizer que estudou na União Soviética.http://slippedisc.com/…/horror-video-her-first-piano…/
slippedisc.com
The inside track on classical music and related cultures -
Wilthon Matos Antes que todos matem o Sr. Milton Ribeiro, pela sua forma de falar, vamos responder a pergunta dele, nos músicos::::
O QUE ACHAMOS DISSO? -
Elena Romanov Augusto Maurer, já passei por coisa bem pior na infância.
E prefiro outro estilo:
https://www.facebook.com/photo.php?v=798469230174133&set=vb.100000331892004&type=2&theaterMaster class Baden-Baden 2014 – Yuko Kirihara studying Debussy “L’isle joyeuse”.
Duração: 3:14
Ou seja: a mesma coisa que aconteceu aqui em seu blog certa vez quando um certo Marcos Nunes disse que preferiria ouvir os músicos tocando em um barzinho. Choveu tanto xingamento e hidrofobia contra o Marcos, principalmente por parte dos ultra-esnobes músicos de jazz ou sei lá a merda que fazem por aí os desconhecidos instrumentistas sulistas, que temi pela segurança física do sobredito. Pensei até em lançar uma provocação á época, dizendo que com esse comportamento desrespeitoso eu não iria fazer o download do disco dos caras, mas também temi que alguém da Opus Dei deles viesse aqui me atocaiar de noite na porta da minha casa. E tudo porque o Marcos estava fazendo um elogio dos caras, ao associar música boa com beberagem e dissipação e empatia. Teve um que até prometeu lamber meu saco se eu provasse que os Doors tocaram num barzinho em Goiânia. Quê??? Os Doors no curral de Goiânia!!??? Até você, Milton, apareceu para dar um último chute no corpo ensanguentado do carioca mal-feitor, mas a gente entende: estavas sob a influência silfídica de uma outra mulher, de outros esfumaçados temperamentos.
Do seu
Charlles Campos
(sempre tendo que aparecer ora e outra por aqui para expor a verdade)
Já ouvi de atores, artistas plásticos e bailarinos, que ganhavam mal a beça (como qualquer um que trabalha com arte ou área de humanas neste país): “Eu ganho mal mas tenho o prazer de trabalhar com o que eu gosto”. Não é justo, não é desejável e etc., mas eles falavam com gosto, com orgulho. Eles tinham consciência de que ganhariam muito mais em outras profissões mas e daí? Estavam muito felizes em passar o dia fazendo o que gostavam. Bem contrário do que li dos que te criticavam – “eu sou músico e ah, como eu sofro! Por causa disso ninguém pode me tratar sem deferência!”
Resumo das críticas à tua resenha: mimimi eu sou músico mimimi ninguém sabe como eu sofro mimimi.
Mimimi dos mimimalistas, Caminhante. Outros, batem na mesma tecla, ré, e, sem dó ou sol, não caem em si; sobra o fá, mas este é muito complexo para abóboras fáceis. 😉
Se bem compreendi o imbróglio, creio que no fundo os ditos-cujos o levam a sério, Milton.