Eu, o Código Marshall e o Método Elena

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Francisco Marshall: autor de um rigoroso octálogo que define como deve ser a relação dos músicos com a crítica | Foto: Ramiro Furquim / Sul21
Francisco Marshall: autor de um rigoroso octálogo que regula a relação dos músicos com a crítica | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

Pois, meus preciosos sete leitores, sabiam que na semana passada, fui pela terceira ou quarta vez alvo de ácidas críticas por externar simples opiniões a respeito de concertos? Meu perfil do Facebook foi bombardeado por toda sorte de mau humor e truculência. O motivo do ataque foi isto aqui, uma tranquila, educada e zombeteira resenha. Vocês não imaginam, me chamaram de tudo! Eram só quatro ou cinco, enquanto vinte silenciosos vieram se solidarizar e contar histórias no meu inbox. Eu, como a mula empacada que sou, permaneço ainda com o pensamento de que, se não há mais crime de opinião no país, posso achar o que quiser sobre qualquer concerto, livro ou fato. E aceito que as pessoas discordem ou me achem burro ou ignorante. Sem problemas.

Depois de apanhar por algumas horas, veio a primeira defesa muito bonita. Coloco-a abaixo porque vale a pena ler. É de Francisco Marshall, curador do StudioClio Arte E Humanismo.  Ele responde a um indignado.

Desculpa, sabes que te admiro como músico e que, igualmente, esta é o cimo das artes e merece nossa melhor atenção. Por outro lado, sou amigo do Milton Ribeiro, gosto de seu estilo e acho que ele é, ao contrário do que conjeturas acima, um forte apoiador da música erudita. Isto posto, cabe dizer que conquanto compreensíveis (é desagradável ser criticado, ainda mais por quem julgamos ser inferior), as reações tuas e de outros músicos acima concentraram-se neste pathos penitente, em acusações anacrônicas (alergia a música registrada? Me poupe), em preconceitos e em pouquíssimo conteúdo musicológico. O pouco que li acima sobre a música e sua execução poderia ser discutido ou mesmo dialogado serenamente, sem tanto patetismo e grosserias. Poderíamos falar com espírito (humor e ironia), mais de acordo com a qualidade da música erudita, e avançar no que importa, a compreensão e fruição da arte. A opção pelo ataque ao crítico revela insegurança, narcisismo, infantilidade, imaturidade e outras características que ninguém admira. Sei que é difícil, mas é preciso serenidade e tolerância diante das críticas. Não as considerei levianas, mas próprias de um ouvinte interessado e com critérios. Podemos discutir critério e conteúdo, mas este papo de exigir “críticas, somente as construtivas” ou de estigmatizar o interlocutor me parece menos Voltaire e mais Medici (o Emílio G., não o Lorenzo…).

Depois, de forma um muito zombeteira, Francisco Marshall sintetizou como deve se comportar o crítico musical da OSPA. Será que todos os músicos exigem este comportamento?

“Podemos então sintetizar o Código Deontológico para a Crítica Musical da OSPA:

1. O crítico deve ser músico, de preferência com formação em musicologia e estágios em Freiburg, Weimar e Berlim. 
2. Só pode elogiar, jamais criticar (!), ops, deixar de elogiar.
3. Nada de humor ou ironia, pois música de concerto é assunto sisudo, ainda mais quando executada em igreja. Roga-se tom solene. 
4. Jamais comentar sobre a plateia, seus comportamentos e anedotas (3) pois os agentes únicos em um concerto são O Regente e Os Músicos.
5. O crítico deve também considerar, sempre elogiosamente, a trajetória de paixão musical e de excelência acadêmica e artística do Sr. Regente e dos Srs. Músicos. 
6. O ideal é que o crítico consulte a Orquestra antes de publicar. 
7. Se o crítico transgredir alguma das condições acima, deve ser insultado, achincalhado e até mesmo ameaçado, podendo, conforme o caso, ser surrado por um ou mais Músicos. 
8. Sabedores de que a melhor forma de propiciar o aperfeiçoamento é colecionar louvores, fica estabelecido que quem não aplaudir efusivamente a Orquestra deverá ser desdenhado, preferencialmente por meio de dezenas de postagens irritadas. 

Estás de acordo, Milton Ribeiro? Vamos assinar um Termo de Conduta?”

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Ela poderia ter mostrado esta foto pro cara, né?
Elena Romanov: criadora de um método soviético e revolucionário de controle crítico

Copiei o Octálogo de Marshall no meu perfil e os comentários foram sensacionais. Vale a pena lê-los abaixo. Assim como os dois textos do Marshall, a intervenção da Elena foi antológica, mas em outro registro. Registro que não sei explicar muito bem.

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6 comments / Add your comment below

  1. Ou seja: a mesma coisa que aconteceu aqui em seu blog certa vez quando um certo Marcos Nunes disse que preferiria ouvir os músicos tocando em um barzinho. Choveu tanto xingamento e hidrofobia contra o Marcos, principalmente por parte dos ultra-esnobes músicos de jazz ou sei lá a merda que fazem por aí os desconhecidos instrumentistas sulistas, que temi pela segurança física do sobredito. Pensei até em lançar uma provocação á época, dizendo que com esse comportamento desrespeitoso eu não iria fazer o download do disco dos caras, mas também temi que alguém da Opus Dei deles viesse aqui me atocaiar de noite na porta da minha casa. E tudo porque o Marcos estava fazendo um elogio dos caras, ao associar música boa com beberagem e dissipação e empatia. Teve um que até prometeu lamber meu saco se eu provasse que os Doors tocaram num barzinho em Goiânia. Quê??? Os Doors no curral de Goiânia!!??? Até você, Milton, apareceu para dar um último chute no corpo ensanguentado do carioca mal-feitor, mas a gente entende: estavas sob a influência silfídica de uma outra mulher, de outros esfumaçados temperamentos.

    Do seu

    Charlles Campos
    (sempre tendo que aparecer ora e outra por aqui para expor a verdade)

  2. Já ouvi de atores, artistas plásticos e bailarinos, que ganhavam mal a beça (como qualquer um que trabalha com arte ou área de humanas neste país): “Eu ganho mal mas tenho o prazer de trabalhar com o que eu gosto”. Não é justo, não é desejável e etc., mas eles falavam com gosto, com orgulho. Eles tinham consciência de que ganhariam muito mais em outras profissões mas e daí? Estavam muito felizes em passar o dia fazendo o que gostavam. Bem contrário do que li dos que te criticavam – “eu sou músico e ah, como eu sofro! Por causa disso ninguém pode me tratar sem deferência!”

    Resumo das críticas à tua resenha: mimimi eu sou músico mimimi ninguém sabe como eu sofro mimimi.

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