Convenhamos, foi uma vitória especial

Andreas Müller, quase ele, corre para o abraço.
Andreas Müller, quase ele, corre para o abraço.

Por Andreas Müller.

Ainda que tenha fracassado em suas jornadas mais recentes, Felipão está encravado na memória de muitos colorados como um sujeito multicampeão: o cara que inventou o futebol-força no país do futebol-arte, o desgraçado que levou o Grêmio a um patamar que, no final de 1996, já me parecia inalcançável para o Inter.

As jornadas esportivas mais doloridas da minha juventude tiveram a marca de um gringo bigodudo que vociferava com seus jogadores na casamata e depois os acolhia como um pai. Já Abel era nada mais que um aventureiro, um sujeito ultrapassado com seu ofensivismo irresponsável, brasileiro demais para suportar as botinadas do Dinho.

Claro, não sou ingênuo. Sei que o simples retorno de Koff e Felipão ao Grêmio não é suficiente para trazer os anos 90 de volta. Na verdade, na conjuntura atual, as chances maiores são de que a dupla até afaste o Grêmio daqueles anos insuportavelmente gloriosos – mas isso é outra discussão. O ponto é que o gol marcado por Cláudio Winck, ontem, depois daquele corte constrangedor em cima do zagueiro gremista, me causou uma pequena síncope.

Quando percebi, estava esbodegando minhas amídalas num berro exagerado, como se o jogo decidisse algo mais do que três pontos. Abracei uns desconhecidos, berrei uns palavrões para o ar e, do nada, fui surpreendido por uma lágrima embolotada no canto do olho – algo inaceitável para um sujeito como eu, homem feito, pai de família, 34 anos de vida nos ombros.

Só então compreendi toda a circunstância: enfim, depois de quase duas décadas, eu via meu Inter impondo ao Grêmio de Felipão uma vitória maiúscula, com toda a autoridade e desfaçatez que eu sempre desejara nos anos 90. Meu sonho adolescente estava todo ali na minha frente, acontecendo tal como eu idealizara. O Inter era multicampeão, jogava dentro de um estádio renovado, moderníssimo, e tripudiava do Grêmio de Felipão com dribles e olés. Acabava vencendo o clássico com o gol de um gurizote recém-saído do banco – que pegava a bola na frente da área, entortava um zagueiro e metia nas redes, deixando o goleiro tricolor todo prostrado.

A única diferença é que, no meu sonho, o gurizote se chamava Andreas Müller, e não Cláudio Winck. Não deu pra mim, eu sei, mas agora isso é um detalhe pequeno perto do que tornou este Gre-Nal tão especial: duas décadas depois, eu voltei a sair do Beira Rio com 16 anos – desta vez, feliz.

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