Filhos… Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
(…)
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda.
Que os filhos são!
Vinícius de Moraes — Poema Enjoadinho
Sem comprovar, os cientistas sugerem que amamos nossos filhos em razão de um hormônio chamado ocitocina que é produzido no cérebro e armazenado na hipófise. Tenho certeza de que minha hipófise está lotada dele. Ele seria produzido ou durante a gestação ou nos primeiros meses de vida da criança ou — importante! — a qualquer momento, porque a ocitocina não diferencia os filhos naturais dos adotivos. A natureza é sábia, li isso em algum lugar.
Hoje minha hipófise fez a verificação quantidade (alta) da ocitocina, acendeu as luzes (pois embaixo do cérebro é muito escuro) e partiu para uma comemoração íntima. Afinal, apesar de termos perdido o contato diário, sempre que vejo a Babi me invade grande amor e tranquilidade. Talvez esteja enganado, mas acho que ela está muito bem. Vê-la me faz sentir que a vida é uma aventura e que “Somos feitos da mesma matéria dos sonhos e, entre um sono e outro, decorre nossa curta vida”, como disse Próspero para Miranda, pois, para mim, é simplesmente impossível vê-la sem pensar no passar do tempo, este irreversível.
E como lembro de seu primeiro dia! Veio aos berros e cheia de saúde num domingo à noite. Mas estes textos de pai apaixonado são muito chatos e óbvios. Melhor dizer logo que eu fico lotado de orgulho por ela ser a pessoa inteira (*) que é, que fico feliz por ela me suportar com tanta tolerância, por ser amorosa, por ter passado poucas e boas sempre a meu lado, por sempre opinar com calma, por ser mais propositiva do que destrutiva, por termos feito a mais maravilhosa e irrepetível das viagens no momento mais correto, e, fundamentalmente, por ela me abraçar e deixar-se abraçar a toda hora.
Muitas felicidades e aproveite todos os dias porque a coisa é curta.
(*) Pessoa inteira: jargão da área psi. Trata-se de uma pessoa centrada, mas não auto-centrada ou em faixa própria. Alguém que possui uma trajetória com um conceito, com uma essência que o apoia. Pessoa de ética inabalável e que não pula de galho em galho. Simplificando, o “inteiro” é o mesmo em qualquer circunstância, não diz uma coisa e faz outra, nem tem duas caras.
Que coisa linda, Milton! Tudo nos filhos é bom, né? Essa ocitocina em mim, para citar o poeta, também ficou louca, pois eu sou todo ocitocina. O cheirinho do cangote (como eu digo para minha filha, que toda manhosa me mostra a nuca para eu cheirar e me diz: “é cheiro de soninho, papai?”), as tantas e tantas e incontáveis maravilhas triviais que eles falam e fazem todos os dias que me enche de deslumbramento, fé, e um pouquinho só de temor (aquela pergunta inevitável que todos os pais fazem: “tomara, Deus,que o mundo não os transformem tanto”). Eu acho que é por isso que Deus existe, na imaginação ou em uma realidade absurda: porque a ocitocina é tanta que tem que se misturar a um certeza subliminar com o infinito.
Parabéns para a Bárbara e para você. Muito bonito isso aí.
Quando eu era criança, meus irmãos se queixavam muito do quanto meu pai me mimava. Hoje olho para vocês, pais de filhas, e percebo o quanto essa relação é especial. Os filhos que me desculpem, mas pai e filha é outra coisa, é uma paixão diferente.
É a coisa mais linda ver o teu mimo pela Bárbara. Feliz aniversário para os dois.