Lavard Skou Larsen: “A cultura é a única coisa que nos mantêm, é o catalisador para entender a vida”

Publicado em 13 de abril de 2014 no Sul21.

Quando pegamos um CD ou um programa de concerto e lemos o nome de Lavard Skou Larsen, ficamos normalmente surpresos ao saber que se trata de um maestro e violinista porto-alegrense radicado na Áustria. Os pais desta estrela internacional da chamada música erudita são os violinistas Perly e Gunnar. Ela é gaúcha e Gunnar Skou Larsen foi um dos estrangeiros que vieram para tocar violino na Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) de Pablo Komlós nos anos 50. Veio da Dinamarca.

Lavard recebeu o Sul21 no apartamento de sua mãe, no bairro Moinhos de Vento. Mesmo com a pesada agenda de concertos — nesta quinzena ele deu concertos em Erevan e em Tbilisi, respectivamente as capitais da Armênia e da Geórgia — ele sempre retorna a Porto Alegre para ver D. Perly, uma lúcida senhora de 90 anos e para tocar e reger, como fará na próxima terça-feira (15). Desta vez, trouxe a nora e os netos. Lavard viveu em nossa cidade só até os quatro anos de idade, mas fala um português perfeito e diz sentir-se em casa como porto-alegrense, gremista e amante do churrasco.

Hoje, além dos concertos pelo mundo, Lavard Skou Larsen é professor de violino na Universidade Mozarteum, em Salzburg, e da cadeira de prática de orquestra. Desde 1991, é fundador, maestro e diretor artístico da Salzburg Chamber Soloists, de grande sucesso no mundo inteiro. Grava regularmente para os selos Naxos, Denon, CPO, Marco Polo, Movieplay, Stradivarius e Coviello Classics e, em 2004, assumiu o cargo de maestro titular da Deutsche Kammerakademie Neuss am Rhein (Alemanha).

Como dissemos, na próxima terça-feira ele estará novamente à frente da Ospa, no Auditório Dante Barone, às 20h30, num concerto cujos detalhes são discutidos abaixo.

É desnecessário alongar-se sobre seu currículo. Acreditamos que boa parte de sua visão da música e do mundo está na entrevista abaixo, que foi longa, gentil, informal e pontuada por risadas.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Às vezes, meu pai me batia com o arco do violino, então eu tocava melhor!” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Como é que um sujeito chamado Lavard Skou Larsen nasce em Porto Alegre?

Lavard Skou Larsen — (risos) Meu pai veio para o Brasil em 1955. Naquela época, vir para o Brasil era uma coisa muito especial, muito exótica, era uma aventura. Ele era violinista, dinamarquês e estudava violino em Viena. Mas quis fazer um ano ou dois anos em outro país. Poderia ter ido para a Índia, para o Paquistão, mas veio para o Brasil. Ele tentou tocar violino no Rio de Janeiro, na OSB, mas lá não tinha lugar. Daí, disseram pra ele “Olha, em Porto Alegre tem um húngaro, Pablo Komlós, que fundou uma orquestra, e lá estão precisando de gente”. E ele veio. Minha mãe conta sobre o dia em que ele chegou. Ele apareceu no ensaio com uma mala numa mão e o estojo de violino na outra, e o único lugar que tinha para sentar era ao lado de minha mãe. Ela é o mais velho membro da Ospa. Tem 90 anos.

Sul21 — A senhora também é violinista?

D. Perly Skou Larsen — Sim, eu toquei no primeiro concerto da Ospa, em 1950. Eu sou daqui de Porto Alegre, estudei no Instituto de Belas Artes. Eu me formei bem na época em que o Komlós estava organizando a orquestra, quando ele estava convidando todo mundo que sabia tocar um pouquinho. O pai do Lavard veio mais tarde. Ele tocava conosco e dava aulas de violino, porque tinha uma formação musical muito sólida.

Lavard — Mas ele te conheceu na Ospa, ele chegou para tocar na Ospa?

D. Perly — Sim, foi contratado. Naquela época a Ospa recebeu uma porção de músicos da Europa. Não foi só ele. Isso tudo em meados de 1950 e 1960. Aí eu casei com Gunnar Skou Larsen, montamos até escolas de música em Porto Alegre.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Lavard e sua mãe, D. Perly, a mais antiga integrante da Ospa | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Como surgiu o violinista Lavard Skou Larsen?

Lavard — Acho que surgiu quando eu estava na barriga dela… Meu pai comprou meu primeiro violino quando eu era um embrião. (risos) Eu não tive escolha. Meu pai foi o primeiro músico de sua família. Meus avós eram camponeses na Dinamarca, gente bem simples. Ele tinha orgulho da profissão que o levara à Viena. E, logo com quatro anos de idade, eu comecei a arranhar o violino no método Suzuki, em que você aprende brincando. Ele tentou o mesmo com minha irmã, mas não obteve sucesso. No início eu era um pouco cabeça dura, não queria estudar, então ele me dava umas chicotadas com o arco. Depois disso eu tocava muito bem! (risos)

Sul21 — Além de apanhar com o arco, o que o guri Lavard fazia? Jogava bola?

Lavard — Brincava com os amigos, jogava bola… O meu pai era muito legal, todos os dias a gente tinha uma ou duas horas de estudo, mas depois, eram só brincadeiras. Ele me ensinou a paixão pela Fórmula 1, por exemplo, me levava às corridas lá na Áustria. Mas sabia educar muito bem, me fazia estudar seriamente. Éramos amigos.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Foto tirada por Gunnar Skou Larsen. Nela, o menino Lavard brinca com um pequeno violino. | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Vocês viviam entre a Europa e Porto Alegre então?

Lavard – Sim, nós fomos para a Europa em 1966. Eu tinha 4 anos. Meu pai desejava estudar regência e tinha planejado ficar alguns anos na Áustria, mas acabou contratado pela Camerata de Salzburg, o que fez com que ele permanecesse definitivamente. Minha mãe também começou a tocar lá. Depois, ele fundou sua própria orquestra de câmara. Voltamos algumas vezes a Porto Alegre, sempre por compromissos profissionais dele ou para visitarmos a família. Ele faleceu em 1975. Hoje eu venho seguidamente à cidade, uma vez por ano, mais ou menos, para ver minha mãe.

Sul21 – Onde tu estudaste, quem foram teus professores?

Lavard – Estudei basicamente fora. Comecei no Mozarteum de Salzburg logo após a morte do meu pai, em 1976. E tirei o diploma com 21 anos, era um dos mais jovens. Estudei com Sandor Végh, e depois fui spalla em várias orquestras. Também aperfeiçoei esta profissão de liderar e organizar orquestras. Eu gostava disso mais do que tocar como solista. Até hoje toco como solista, mas tem que estudar muito para ser bom (risos). Eu faço isso umas quatro ou cinco vezes por ano, mas o que gosto mesmo é de procurar realizar o meu conceito de música dentro de um grupo, para uma orquestra de câmara ou sinfônica.

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“Uns pedem ordens; outros, conversas. Há que considerar todos.” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Tu sempre pretendeste reger?

Lavard — Não, isto veio depois. Acho que o maestro tem que saber muito bem como funciona uma orquestra por dentro. Eu tenho muita experiência de tocar em orquestra como spalla. Eu conheço os problemas e as manias dos músicos, sei da psicologia deles. Você tem de conhecer a essência do grupo. Eu não acredito muito nesses maestros que regem piano, que treinam só o gestual e que só eventualmente trabalham com uma orquestra. A orquestra é um gigante vivo na nossa frente. E eu comecei com isso já cedo, ganhei um prêmio aos 16 anos. Regi uma pequena orquestra na Áustria num concurso e ganhamos, eu e a orquestra, o primeiro prêmio. Mas foi em 2004, quando comecei na Orquestra de Neuss (a Deutsche Kammerakademie Neuss), que eu comecei a reger seriamente. Agora eu posso dizer que sou um maestro, que eu rejo mais do que toco.

Sul21 — É uma liderança natural ou é uma questão de postura adquirida, de atuação?

Lavard — Sem dúvida, você tem que ter um gene de liderança, e às vezes é necessário ser autoritário mesmo. A conversa com um é diferente da que se tem com outro. Um é mais sensível, outro é mais cerebral, outro talvez seja mais limitado. Uns pedem ordens; outros, conversas. Há que conhecer e considerar todos.

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Lavard com o filho Laurits | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 –Tu te caracterizas como durão ou conciliador?

Lavard — Depende muito da orquestra. Quando não há disciplina ou estudo, eu sou muito duro. Quando há, eu sou aberto, acessível, tenho humor. Eu tive uma orquestra de músicos da Geórgia que estava residente na Alemanha. Fiquei lá dois anos… Foi insuportável, eu agi duramente e só deu rolo. Havia um grupo acomodado nas primeiras cadeiras que era mais velho e não tocava nada bem. E tinha um grupo excelente de jovens que pedia passagem. Estes me apoiavam. Foi um caso grave, houve até luta física entre eles. Os músicos das primeiras cadeiras não aceitavam a rotatividade que hoje em dia é normal. Eles não queriam saber disso, tinham uma formação meio soviética, mas eu fora contratado justamente para modernizar uma orquestra que era patrocinada pela Audi. Também não aceitavam críticas a seu modo de tocar, levavam tudo para o lado pessoal. Mas, feliz ou infelizmente, o maestro tem que ser o chefe. Quando eu entro numa orquestra, penso no tempo que permanecerei lá e como posso educá-la do jeito que quero. O som, o estilo e a forma de tocar são determinadas pelo maestro. É triste ver que os muitos maestros não têm essa obsessão de imprimirem suas assinaturas nas orquestras. Com toda a modéstia, eu posso dizer que imprimi meu estilo em Neuss e na Salzburg Chamber Soloists.

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“Quando aparece alguém talentoso e com vontade de aprender, eu faço de tudo para mandá-lo para Salzburg”. | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Tu também tens importante atividade pedagógica, não?

Lavard — Sim. Dou aulas em Salzburg e algumas vezes convidei músicos daqui para completarem suas formações comigo no Mozarteum. Todos eles estão bem colocados em orquestras brasileiras. Quando aparece alguém talentoso e com vontade de aprender, eu faço de tudo para mandá-lo para Salzburg. O custo para brasileiros é de 570 euros por semestre. Nosso conservatório é muitíssimo superior à esmagadora maioria dos norte-americanos, onde se paga até 25 mil dólares por semestre.

Sul21 — Qual é tua orquestra dos sonhos?

Lavard — Eu acho que a melhor orquestra alemã que jamais existiu foi a Filarmônica de Munique, sob a direção de Sergiu Celibidache. O que eu gostava em Celibidache – e meu professor em Salzburg, Sandor Végh, também era assim – é que havia uma filosofia, um conceito por trás, eles faziam música para entender a vida. Para eles, a música não era só notas e beleza, era mais importante que a religião. Eles procuravam o significado daquilo que estava entre as notas, do que emergia delas. A estética da música de Celibidache era uma coisa filosófica, muito profunda. Fora isso, a técnica de montar uma orquestra, de afiná-la e de fazê-la entender a música e o que estava acontecendo, eram únicas, era uma coisa de uma inteligência cultural que poucos alcançam. Celibidache conseguia unir técnica, espiritualidade, agressividade, tudo. Especialmente a música de alguns grandes artistas — falo de Mozart, Bach, Schubert, Haydn, Beethoven — têm significados muito profundos. A partir deles você entende muitas coisas íntimas da alma, do espírito. São coisas que mexem contigo. Como disse Beethoven, não existe coisa igual à música. Nem a filosofia, nem a religião, nem a psicologia chega perto da música. A música realmente pode resolver coisas. E quem tomou a sério estas noções foram Sandor Végh e Celibidache.

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“Uma gravação é como um retrato de uma pessoa. Você tem o retrato, mas não o prazer da presença”. | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Como entender os significados, vozes e intenções?

Lavard — Não é nem uma questão de compreender. Um repórter perguntou ao Celibidache o que era a tal transcendência de que ele tanto falava, e ele respondeu que não tem como explicar a palavra transcendência porque ela também é transcendental! (risos) Porque a música é uma coisa passageira, ela existe neste instante. Quando tu escutaste a nota, ela já é passado. Um quadro eu posso olhar o tempo inteiro, posso estudar, o pintor pode modificá-lo. A música não. Celibidache nunca quis fazer gravações de estúdio porque ele pensava a música a partir do momento espontâneo do concerto, dessa existência efêmera. Uma gravação é como um retrato de uma pessoa. Você tem o retrato, mas não o prazer da presença. Eu também não gosto muito de gravações, mas você aprende coisas quando grava, apesar de que nunca vai ser a mesma coisa do que um concerto ao vivo. Os concertos ao vivo são a música de verdade.

Sul21 — E o repertório dos sonhos?

Lavard — Bem, minhas especialidades são Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert. Também tenho muita afinidade com a música francesa e gosto muito de Brahms e Bruckner. O que eu não aprecio muito é a ópera, só suporto as de Wagner e Mozart e alguma coisa de Puccini. Rossini, Donizetti, etc., não gosto muito deles. Essas historinhas do cara que casou errado, do amor escondido, das mocinhas, dos disfarces, acho muito bagaceiras… Isso era coisa pra divertir o pessoal daquela época. Hoje em dia não faz sentido.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Acredito que os manifestantes foram muitos sábios ao protestarem durante a Copa das Confederações. Meus amigos me perguntavam o motivo; afinal, para os europeus, somos o país do futebol.” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — E o programa do teu concerto com a Ospa na próxima terça-feira?

Lavard — A primeira parte é Mozart, minha especialidade. Eu vou reger a Sinfonia Nº 38. Na segunda parte, eu vou reger e tocar o primeiro violino solo nas Metamorphosen, de Richard Strauss. É uma obra muito complicada, não sei se vai dar certo, mas vamos ver! É escrita para 23 solistas — 10 violinos, 5 violas, 5 violoncelos e 3 contrabaixos. Deixa eu te contar uma coisa: no dia 10 de abril de 1945, Strauss batizou a composição como Réquiem para Munique, porque ele era do Partido Nazista e estava escrevendo para os alemães que estavam sendo derrotados na Segunda Guerra Mundial. Strauss sofreu muito pelo fato dos alemães não terem conseguido se desenvolver depois da I Guerra Mundial. Sofreu mais ainda quando Hitler foi ladeira abaixo. Então ele escreveu um Réquiem. Só que, quando ele criou esse título, alguém mais esperto lhe disse que ninguém ia tocar a obra! (risos) Aí então ele botou Metamorphosen, que é uma coisa completamente objetiva, sem nenhum contexto político. Mas bem no final, nos últimos dez compassos, os contrabaixos tocam o motivo do segundo movimento de Eroica, de Beethoven. E aí o Strauss escreve “In Memoriam” na partitura. Neste ponto a gente percebe que o Réquiem original está escondido ali. E é uma peça maravilhosa, lindíssima, romântica ao mais alto e digno grau.

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“Essas historinhas do cara que casou errado, do amor escondido, das mocinhas, dos disfarces, acho muito bagaceiras…” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Tu gostas muito de futebol, infelizmente és gremista… E a Sala Sinfônica da Ospa? Parece que há dinheiro para os estádios, já para a cultura…

Lavard — Sim, você é colorado, eu sei pelo Facebook (risos). Hoje em dia, o futebol está emburrecendo as pessoas. Isso acontece em todo o mundo. Parece que o futebol é a única coisa que importa. Você abre o noticiário e a primeira coisa é o futebol. Eu acho errado. O futebol tem que retornar ao seu lugar. E olha que eu adoro futebol! Aqui, por exemplo, só se fala e só se briga pela Copa. Por exemplo, a Ospa, que tem um enorme potencial e é uma instituição da cidade, ficou esquecida. Eu acho isso um escândalo. Eu acho que os músicos da orquestra têm razão em fazer greve e cancelar concertos, as condições que eles estavam quando eu regi, em 2011, naquela sala onde ensaiamos lá no Cais (o armazém A3), eram escandalosas. Eu sou brasileiro e fico indignado com este tratamento. Acredito que os manifestantes foram muitos sábios ao protestarem durante a Copa das Confederações. Meus amigos me perguntavam o motivo; afinal, para os europeus, somos o país do futebol. Eu tentava explicar que quem não tem o básico, talvez não deva pagar por algo caro como uma Copa do Mundo. Um povo sem cultura é um povo perdido. A cultura é a única coisa que nos mantêm vivos. A cultura é o catalisador para entender a vida, não interessa se é pintura, escultura, dança, música, teatro, poesia; a cultura é a coisa mais importante, mais importante do que a religião. A cultura leva a entender a vida e isso é fundamental. A música é a medicina da alma. A cidade tem que ter uma grande orquestra. Como disse o Erico Veríssimo, “eu tenho orgulho de morar numa cidade que tem uma orquestra sinfônica”. Isso tinha que estar bem grande em cima da Rua da Praia, tinha que escrever lá “Nós temos uma orquestra sinfônica e é a Ospa.”.

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“Sendo maltratada, qualquer pessoa acaba sem vontade de trabalhar” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Atualmente a gente passa pela Av. Independência e vê o prédio do ex-Teatro da Ospa sendo destruído. Sugiro-te nem passar lá, é deprimente. E a Ospa, hoje é jogada de um lado pra outro.

Lavard — Já passei por lá… Eu vejo nosso ensaio de hoje (9 de abril), na sala Elis Regina, como um bom passo, como uma perspectiva positiva no horizonte da Ospa. É uma sala muito boa, ótima. Faltam coisas fundamentais como o ar condicionado, mas é uma boa sala, muitas orquestras europeias não têm uma sala como aquela. Mas hoje devo ter perdido dois litros de suor ensaiando lá! Sendo maltratada, qualquer pessoa acaba sem vontade de trabalhar, é uma pena. Em São Paulo conseguiram montar uma ótima orquestra, com estrutura. É seguir o caminho.

Sul21 — Os políticos admiram a Ospa. Seus discursos são sublimes. Mas na prática tal admiração não se confirma.

Lavard — Tudo funcionava melhor na época em que havia maestros muito capazes e influentes, como Eleazar de Carvalho e David Machado, verdadeiras feras. Não quero dizer que isso seja bom, mas quando eles queriam uma coisa, brigavam, exigiam e conseguiam. Às vezes não adianta ser diplomático e democrático, às vezes o que resolve é o soco na mesa. Lamento dizer isso.

11 comments / Add your comment below

  1. “Você tem de conhecer a essência do grupo.” (MAGISTRAL!).
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    PERGUNTAS
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    Após o grotesco espetáculo mediático das delações premiadas, a 16 dias das eleições, restaram algumas perguntas:
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    1ª) Onde estão as provas? O ex-diretor da Petrobras já voltou para casa e, portanto, conseguiu atingir a sua meta; logo, as provas já foram checadas e são conhecidas (então por que não foram também vazadas?).
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    2ª) Quem pagará pelo crime de vazamento dos depoimentos? Tal pergunta faz sentido porque os efetivos corruptores, os presidentes e os diretores de todas as empresas envolvidas tiveram seus nomes revelados em altíssimo e bom som; então
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    3ª) Quem serão os coautores responsáveis pelo crime de destruição das provas incriminatórias do cartel denunciado (no qual, como se sabe, não há nenhum santo)?
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    4ª) Quem pagará pelo crime de injúria contra algum potencial inocente, que teve seu nome veiculado na mídia, em todos os grotões do país?
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    5ª) Quem consolará os filhos, a esposa, os pais desse(s) potencial(ais) inocente(s)?
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    6ª) Além dos partidos, PP, PT e PMDB, que foram acusados de aparelhamento da Petrobras, onde estão os partidos que também a aparelharam no governo FHC e/ou anteriores (ou tal fato nunca ocorreu no país, antes dos governos trabalhistas)?
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    7ª) ALÉM DA GRANDE MÍDIA, DITA INDEPENDENTE, A JUSTIÇA É TAMBÉM UM PARTIDO POLÍTICO?

  2. Vamos falar sério agora, Ramiro. Entre Dilma e Aécio, eu fico com a Dilma. É a mesma coisa que falar, numa comparação grotesca e horrível, que entre a dengue hemorrágica e o ebola, com a dengue hemorrágica tem-se uma estatística menos mórbida de sobrevivência. Mas que bom, se houvesse um Brasil menos terrível, um pouco mais próximo do mínimo ideal, não termos que optar por nenhum desses dois caminhos. Mas já que não há alternativa_ e Marina era, digamos, uma febre paralisante da mesma forma letal mas de diagnóstico indefinível_, eu fico com a Dilma. Não quer dizer que eu fico com um partido específico, mas eu estava conversando com muita sinceridade com um velho senhor amigo meu aqui em casa, e ele me disse, além dos papos de indignação, que em doze anos o Brasil teve uma mudança milagrosa. Eu me lembro de boa parte dos tempos de agruras a que ele se referia: a hiper-inflação, o salário mínimo menor do mundo (nossa ambição era, pasmo, que ele fosse ao menos de 100 dólares!), o fato de quem tinha carro era uma minoria muito endinheirada, o fechamento do comércio e da indústria e como isso nos condicionava à mesma marca de sabonete durante décadas, a inalcançável universidade para os filhos e mesmo para si mesmo, etc, etc. A pobreza e a fome visível. Eu mesmo, certa vez, tive que ir a uma favela próximo ao edifício onde morava com a minha mãe, para buscar uma trouxa de roupas lavadas, e fiquei chocado diante a miséria da mulher que nos lavava a roupa, uma miséria tão intensa que parecia um clichê, parecia algo arranjado sob holofotes, com o filho doente mental e a casa de pau a pique… (cont.)

    1. E isso foi há meros 15 anos. A favela já não existe mais, foi demolida para a construção de um viaduto. Eu fui o primeiro lá me casa a conseguir comprar um carro. Tive o salário atrasado por 9 meses, num emprego público que eu tinha (sob o PMDB), e quando recebi todo o atrasado, uma bolada, comprei um fiat uno quatro portas. Nem minha mãe tinha carro na época, ela uma advogada que sempre fez parte da elite do funcionarismo público.Olhando de agora, esse Brasil parece surreal, africano demais, como o suportávamos? Eramos todos, de um ou outra maneira, pobres, não importa de qual classe (classe, hahaha?) eramos. Todos pobres. Todos, no pé da palavra,subdesenvolvidos. Eu torci para terminar meu ensino superior. forçando os anos com o lombo, para que o pessoal do PSDB não privatizasse a universidade federal onde estudava, porque assim, seria a deserção.

      Só um tolo, um estúpido, negaria as conquistas cósmicas desses 12 anos. Mas, o que o povo está fazendo? Você tem acesso ao facebook, não? Se formos avaliar pela estultície geral que a ralé promove pelo face, a Dilma já era. Como em um filme de terror ultra-realista, a mesma massa de manobra que o povo brasileiro foi a história toda aparece no face, com ar doutoral de quem acredita que erros crassos de português e xingamentos recíprocos equivalem a sóbrias análises políticas, descambando para o lado do retorno ao passado. É claro que o Aécio é a repaginação freddiekrugeana do Collor, e é claro que os semi-letrados do face são a velha povoalha de cara pintada e grito rebelde promovida pelas velhas dominadoras da mídia, a Globovejaeodiaboaquatro. O PT anda bem mal nas redes sociais, e na pesquisa de ontem, há duas semanas das eleições, parece que o vetor aponta para uma curva descendente.

      E só um tolo ou um apaixonado ideológico é capaz de negar que esse novo escândalo é bem mais que uma simples conspiração política. Claro que orquestraram matematicamente para soltar a bomba no segundo turno, claro que tem muita perfídia e manipulação por detrás, mas… caro amigo, vamos falar a verdade, né? Quanto mais se nega o que aparece como uma evidência em retumbante clareza em HD, mais a curva decídua ganha velocidade. Não vai ser agora,no alto da desgraça feita, que a ingenuidade forjada vai parar o grande caminhão descontrolado ladeira abaixo. O que eu acho que vai acontecer, é que, infelizmente, o PT vai pagar pelos tantos frutos deletérios que plantou, por ter desprezado a força da estupidez sincronizada do populacho, a astúcia da história. Abusou demais, mas demais mesmo, a ponto de que o benefício de ter nos transformado em diplomados consumidores alegremente endividados pelos planos de financiamento a se perder de vista (o que é bom, fazer o quê?), vai ser varrido para debaixo do tapete, esquecido… (cont.)

      1. e só vai sobrar mneomonicamente a farsa, a corrupção, a babélia descarada do dízimo para pagar as caras multas judiciais que acompanhavam as prisões de Genuíno e Dirceu eodiaboaquatro. O povo brasileiro não priva pela honestidade, e não é dos que mais se importa com o cheiro do estrume contando que nele ele também tenha sua porção pessoal de rolação na merda_ vide que na época do PC Farias, teve gente que lucrou absurdo com a venda dos bonequinhos do facínora para uma multidão que esfregava a barriguinha de porcelana dizendo que trazia a sorte do dinheiro_, mas nessa loucura do momento eleitoral tudo se transveste em santimônia, em cânticos de redenção e pedidos de justiça. O velho braseirinho padrão, libidinoso por gorjetas e apertos de mão, ascende para o nível moral de um mujique dostoeivisquiano, fremente de indignada idoneidade, à beira de matar a família Romanov. E os Romanov da hora é a família do PT. Vide a propaganda política que se iniciou ontem, a Dilma tentando absurdamente, histrionicamente, dizer que seu governo vai ser regido pelo Novo, e combaterá a corrupção; e, em contrapartida, após ver esse acidente de publicidade (cadê o Duda Mendonça, meu deus?), segui vendo a propaganda do Aécio e de imediato pensei: o cara vai ganhar. A música de fundo, a lembrança de um “herói” da pátria, que foi avô do candidato. Não tem mais para ninguém. Espero estar enganado. Não vai ser bom para o país. Não creio que vá ser bom. O ebola é fatal demais, e os portos estão abertos (só para fechar a metáfora pra lá de ruim). O Lula deve estar em desespero. Se lhe sobra alguma auto-consciência no alto de seu deísmo, ele deve estar se lamentando cada vez que ele negou o mensalão, cada vez que ele passou a mão escondendo a promiscuidade de um companheiro. A Dilma fez, neste sentido, muito mais que seu mentor,a ponto de, há quatro anos, ter passado por um período em que mesmo os detratores reconheciam que o governo Dilma era muitos superior que o do Lula por ser o governo Lula sem o Lula. Mas ela foi engolfada pelo partido, porque a estupidez suicida em médio prazo sem tem sua determinação inarredável em direção ao abismo. Agora é tarde, e essa sua negação missionária, Ramiro, em mais uma vez repetir a homilia do santo padre do partido de que não houve nada, aumenta mais o repúdio contra a horda por parte de todo mundo.

      2. “O que eu acho que vai acontecer, é que, infelizmente, o PT vai pagar pelos tantos frutos deletérios que plantou, por ter desprezado a força da estupidez sincronizada do populacho, a astúcia da história.”

        Charlles, meu amigo, assino embaixo!…

        1. Que me desculpe aí o Milton e o músico de nome impronunciável. Mas esperava já faz algum tempo um texto do Charlles sobre esse estado burro de consenso que assaltou o país. Que ela tenha sido psicografado aqui, nessa caixa de comentários, é um detalhe pequeno.
          Quem sabe o autor pudesse repaginá-lo no seu blog.
          Obrigado, Charlles.

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