Eu gosto da prosa dos poetas. Quando os poetas escrevem contos, romances e novelas, permanecem como poetas de uma forma diferente, talvez inadequada à narração e suas regras. Mas alguma coisa faz com que eu goste disso. As descrições têm trechos de tonalidade distinta e os ganchos de um tema a outro muitas vezes inexistem. É o caso de Sophia neste livro de contos. A brilhante poetisa conta — o verbo é este — cinco histórias simples. Destaque para A História da Gata Borralheira (ou Cinderela), onde Sophia faz uma interessante variação sobre o conto original; O Silêncio, dura parábola sobre a ditadura salazarista e Saga, uma belíssima e tocante história sobre os antepassados dinamarqueses da escritora portuguesa. É um livro de estilo clássico que conta suas histórias adultas como se fossem infantis. Eu curti.