Para se entender o futebol, há que se considerar sua dimensão tribal e ritualística, seu lado irracional. Há valores infantis, mas muito sérios, envolvidos. A camiseta, as cores, o símbolo, o clube, a fidelidade à tribo. Quando Fabrício ouviu as vaias ontem à noite, ele desistiu da jogada e virou-se para a arquibancada mandando-a tomar no cu com os dois dedos médios erguidos. Foi uma ofensa grave, mas um descontrole até perdoável após punição, pedidos de desculpas e geladeira de algumas semanas. Mas depois, quando foi expulso, ele fez mais. Ele pegou a camisa do clube, o chamado manto sagrado, e o jogou no chão. Naquele momento, descumpriu vários acordos tácitos de amor à tribo e tornou impossível o caminho da volta.
Não fui ao jogo de ontem. Cheguei em casa cansado e repassei meu ingresso ao coloradíssimo zelador do prédio onde moro. Não falei com ele depois. Mais tarde saí até um restaurante. O taxista, outro colorado, estava louco de ódio. Disse que só um cheirado, com o cérebro carcomido pela cocaína poderia agir daquela maneira. Mais: disse que o contrato deveria ser suspenso por justa causa (?). É claro que Fabrício, com seu excelente desempenho físico em campo, não é um viciado em drogas, é apenas um pavio curto que atacou o lado sagrado e religioso do clube. Não é um bom jogador, mas é um cara esforçado e, certamente, autodestrutivo. Que clube terá coragem de contratar um sujeito que pode agir assim? Vi o site do Inter com as (belas) fotos de ontem. Fabrício não está em nenhuma delas. Ele deixou de existir. Adeus, Fabrício.
Abaixo, o chilique:
https://youtu.be/m5QEsjnoNBE
Aguirre demonstrou classe: “Vamos deixar passar as horas e ver o que vai acontecer. Poderíamos estar aqui falando de futebol ou de minha demissão”.
Ontem, parece até que jogamos melhor e assumimos pela primeira vez a liderança do Gaúcho. Isso é que desespera a tribo azul. Chega no final e a gente está lá. Foi a quarta vitória consecutiva por 1 x 0. Estamos virando um time chato, mas pontuador.
https://youtu.be/Q6cRAgZs0Hc
Como quase sempre, concordo com QUASE tudo.
Fabricio foi um jogador esforçado. Desde o ano passa do tem se mostrado displicente, negligente, apático e desleixado. Cito dois exemplos que minha memória permite de maneira rápida: O gol que sofremos do Santos na Vila e do Corinthians no Beira-Rio, ambos pelo Campeonato Brasileiro do ano passado. Mais recente, não podemos esquecer do primeiro gol sofrido contra o Emelec no Beira-Rio.
A torcida as vezes perdoa a ruindade, jamais perdoa a indolência.
Infelizmente o Fabrício atirou a camiseta no chão e isso fica difícil de relevar. Mas ele é apenas mais um dos jogadores trucidados pela torcida colorada. Foi assim com Gabiru, que fez o gol mais importante da nossa história. Foi assim com Valdomiro, que baixou a cabeça, treinou e foi um dos nossos maiores pontas.
Há tempos venho acompanhando a evolução do caso Fabrício. Algumas más atuações e principalmente decisões erradas municiaram aquela ala da imprensa futebolística que gosta de criar polêmicas, pois polêmica rende assunto e, consequentemente, vende anúncio.
Sabemos que grande parte do público gaúcho repete como papagaio o que vê na imprensa. Se é assim na política, que teoricamente não deveria ser tão passional, imagina no futebol. Presto muita atenção a esses fenômenos: acaba um jogo, o repórter fala uma vez na má atuação do beltrano, o narrador concorda e o comentarista finaliza. No jogo seguinte, no estádio, na primeira oportundiade vaiam o cara.
Fabrício, uma pessoa de pavio curto, nunca entrou com corpo mole pra jogar futebol. Pelo contrário, sempre demonstrou superação, mesmo errando e mesmo errando bastante. Terminou o ano passado como um dos responsáveis por nossa classificação à Libertadores sem necessidade de jogar a pré. E inicia o ano com um comentariozinho contra numa rádio aqui, outro no jornal ali e pronto: o jogador que, mesmo errando, se empenha, encontra nas arquibancadas do próprio estádio gritos desestimuladores, raivosos. No jogo de hoje, mesma coisa. E o que esses gritos trouxeram? Falta de confiança e consequentemente um passe, um cruzamento errado. E hoje, no fim de todo este processo, foi vítima de si mesmo e de centenas de abutres nas arquibancadas, que pareciam estar xingando a Dilma em uma manifestação a favor de um golpe de estado.
É uma grande pena que ele tenha feito o que fez, jogar a camisa no chão faz do episódio algo sem volta. Mas apesar de não ganhar nem perto do que ele ganha, me solidarizo sim com o cara.
Vão trazer mais um ou dois laterais, né?
Os que estão agora no Beira-Rio são bem piores que o maluco do Fabrício.
Entra ano, sai ano, passam os campeonatos e a imprensa juntamente com a torcida mostram que o jogador é limitado de técnica e que precisa ser substituído. O quê a direção faz? Contrata vários jogadores em fim de carreira com altos salários e não traz um substituto para o Fabrício que não tem culpa dos atos da direção. Ele é profissional e, diga-se de passagem, profissionalmente é ótimo, pois, ninguém pode negar que ele em campo se entrega e, dentro de suas limitações faz o máximo que pode e sabe. Não deve ser nada fácil para ele, cada vez que toca na bola ouvir vaias de sua própria torcida; chega um ponto em que vem a reação, do jeito que veio, também dentro de seu contexto pessoal. Lamento pelo ser humano que ele é, o que ocorreu, mas, o jogador ficará marcado enquanto que, os maiores culpados posarão de ultrajados. Quem achar que estou errado, experimente viver sendo criticado todos os dias em tudo o que faz quando você sabe que dá tudo de si e depois pense e reflita sobre quanto tempo demorou para explodir.
Início do ano passado Rafael Moura também explodiu. Vamos combinar que D’Alexandro sempre foi uma bomba prestes à explodir é que só é controlada pela faixa de capitão (mais um cigarrinho de canabidiol é claro).
Assim como Ed e Luiz Carlos me solidarizo com Fabrício. É trabalhador como muitos. O clube e o treinador também tem uma grande parcela de culpa no episódio. Agora, essa imprensa medonha acaba com qualquer possibilidade.