Em 1977, Luis Buñuel convidou duas belas mulheres para realizar aquele que seria seu último filme: Esse Obscuro Objeto do Desejo.
Conchita era um pouco mais fria — nem tanto — e distante.
Enquanto Conchita era um pouco mais, digamos, sanguínea.
Conchita fazia provocações verbais, …
… ironizava e provocava.
Enquanto Conchita era explícita …
… mas tão inatingível quanto.
Às vezes, parecia que ele (nós) ia (íamos) conseguir …
… mas sobrevinham dificuldades inteiramente inesperadas.
Conchita não era nada santa …
… e deixa-lhe (nos) exercer a triste condição de voyeur.
Ou nem tanto.
Vamos discutir a relação?
Conchita era Carole Bouquet, atriz e…
… modelo francesa.
Conchita era Angela Molina, atriz espanhola …
… que morou por muito tempo na mente de eu amigo Flávio.
Um estudo sobre o refreado desejo irrefreável — que persiste mesmo na velhice — …
… pelas mãos debochadas e ácidas do mais escandaloso dos grandes cineastas, o cineasta que Pedro Almodóvar às vezes parece aspirar ser.
O comentário do Ricardo C. acrescenta tanto que é melhor copiá-lo aqui:
Ricardo C.
on Mar 28th, 2009 at 12:20 pm [edit]Do Buñuel é um dos que mais gosto, até por ter sido dos primeiros que vi, bem rapazote ainda — e o impacto com a nudez total de Angela Molina ainda faz algum barulho em minhas lembranças…
Milton, vc leu o livro dele, “Mi último suspiro”? Se sim, lembrará desta passagem (e se não, conhecerá agora):
“Retorné a un antiguo proyecto, la adaptación de La mujer y el pelele, de Pierre Louys, y la rodé finalmente en 1977 con Fernando Rey y dos actrices para el mismo papel, Ángela Molina y Carole Bouquet. Muchos espectadores no se han dado cuenta que son dos.”
Pois eu fui um deles! E o pior foi ter que rever o filme no dia seguinte, só para ficar absurdamente intrigado com o fato…
Eu já conhecia Carole Bouquet, mas nunca vira Ángela Molina antes. É como se o filme tivesse me hipnotizado de tal forma que eu só visse uma única personagem, Conchita, que, mesmo com todas as suas “alterações de humor”, seguiu mantendo-se fiel ao propósito de não se entregar sexualmente ao personagem de Fernando Rey — já que, aos olhos de Conchita, este acabaria perdendo o interesse por ela. Não sei bem o que aconteceu, pois depois de revê-lo sobrou apenas o total estranhamento do fato de ter visto as duas, reconhecido a absurda diferença entre ambas e, ao mesmo tempo, saber que vira uma só!.
E transcrevo mais um parágrafo do Buñuel sobre o filme:
“A todo lo largo de la película, historia de la posesión imposible de un cuerpo de mujer, mucho después de La edad de oro, yo había deseado introducir un clima de atentados e inseguridad, clima que todos conocíamos y en el que vivíamos en el mundo. Pues bien, el 16 de octubre de 1977 estalló una bomba en el Ridgettheatre de San Francisco, en donde se proyectaba la película. Cuatro bobinas quedaron destrozadas, y se allaron en las paredes inscripciones injuriosas como ‘Esta vez, vas demasiado lejos’. Una de esas inscripciones iba firmada por Mickey Mouse. Diversos indicios permitieron pensar que el atentado había sido cometido por un grupo de homosexuales organizados. De forma general, por otra parte, a los homosexuales no les gustó esta película. Nunca comprenderé por qué.”
Post original de 28 de março de 2009.
Uma coisa curiosa sobre a Carole Bouquet hoje em dia é que ela simplesmente não sorri. É muito difícil ver seus dentes. Está sempre com aquela cara impassível de quem não tem emoções.
Será que é pra evitar rugas?
Ou para não mostrá-las. Ela deve ter uns 52, 53 anos, não?
Ou talvez o botox, ou as plásticas.
Um Sábado de aula de cinema!
Abçs e bom fim de semana!
E este específico cinema, uma aula de maldade…
Duas mulheres são duas mulheres são duas mulheres. Neste caso, são duas belas mulheres. E Buñuel é Buñuel é Buñuel.
Um grande abraço.
Principalmente é Buñuel.
Abraço, Moacy.
Do Buñuel é um dos que mais gosto, até por ter sido dos primeiros que vi, bem rapazote ainda — e o impacto com a nudez total de Angela Molina ainda faz algum barulho em minhas lembranças…
Milton, vc leu o livro dele, “Mi último suspiro”? Se sim, lembrará desta passagem (e se não, conhecerá agora):
“Retorné a un antiguo proyecto, la adaptación de La mujer y el pelele, de Pierre Louys, y la rodé finalmente en 1977 con Fernando Rey y dos actrices para el mismo papel, Ángela Molina y Carole Bouquet. Muchos espectadores no se han dado cuenta que son dos.”
Pois eu fui um deles! E o pior foi ter que rever o filme no dia seguinte, só para ficar absurdamente intrigado com o fato…
Eu já conhecia Carole Bouquet, mas nunca vira Ángela Molina antes. É como se o filme tivesse me hipnotizado de tal forma que eu só visse uma única personagem, Conchita, que, mesmo com todas as suas “alterações de humor”, seguiu mantendo-se fiel ao propósito de não se entregar sexualmente ao personagem de Fernando Rey — já que, aos olhos de Conchita, este acabaria perdendo o interesse por ela. Não sei bem o que aconteceu, pois depois de revê-lo sobrou apenas o total estranhamento do fato de ter visto as duas, reconhecido a absurda diferença entre ambas e, ao mesmo tempo, saber que vira uma só!.
E transcrevo mais um parágrafo do Buñuel sobre o filme:
“A todo lo largo de la película, historia de la posesión imposible de un cuerpo de mujer, mucho después de La edad de oro, yo había deseado introducir un clima de atentados e inseguridad, clima que todos conocíamos y en el que vivíamos en el mundo. Pues bien, el 16 de octubre de 1977 estalló una bomba en el Ridgettheatre de San Francisco, en donde se proyectaba la película. Cuatro bobinas quedaron destrozadas, y se allaron en las paredes inscripciones injuriosas como ‘Esta vez, vas demasiado lejos’. Una de esas inscripciones iba firmada por Mickey Mouse. Diversos indicios permitieron pensar que el atentado había sido cometido por un grupo de homosexuales organizados. De forma general, por otra parte, a los homosexuales no les gustó esta película. Nunca comprenderé por qué.”
Vai subir para o post. ¿Como no?
Bom, eu vi de cara que eram duas, mas minha namorada da época não. Ficou puta quando eu disse para ela. Vá entender.
Que honra, meu amigo!
Também, depois do comentário arrasador!
Carole Bouquet nunca chamou a minha atenção como atriz, mas sempre dediquei a ela muita da minha atenção.
Caramba, que coincidência! É meu caso!
Quando vi o filme, na época de seu lançamento, fiquei vidrado, estupefacto, siderado e impressionado. Ainda não iniciara meus estudos de Psicanálise, mas já terminara Filosofia na UFMG e a questão do desejo e de sua manutenção condicionada à “perda” do objeto me era familiar. O objeto que se afasta, jamais se deixando alcançar, este é a causa do desejo. A distância entre o sujeito desejante e o objeto desejado adia eternamente o gozo. Não é a toa que a sabedoria popular diz: “O melhor da festa é esperar por ela”, hehehe Embora concorde – teoricamente – bem que não deixo de aproveitar muito das festas, e você?
Machado de Assis dizia que o melhor da festa era chegar em casa e tirar os sapatos. Como sou machadista de quatro costados, APROVEITO AS FESTAS e depois até curto tirar os sapatos…
Gosto muito de ambas e sobretudo de Buñuel. mal sintetizando, o filme expõe a arbitrariedade de todas as causas que resulta em beligerância, que pode ir aos píncaros do ciúme até um projeto genocida.
Na vida de um casal, há grande difrerença entre os píncaros do ciúme e os projetos genocidas?
:¬)))
Poema como resposta
Pensei em ti, de novo, e resolvi
te matar; antes, porém,
dei uma passadinha no bar. Tendo à mão
uma navalha, cortei o pescoço
de três negros, e pus à mostra
as tripas de dois nordestinos. Pedi
duas garrafas de água mineral, das grandes
e lavei o sangue desses animais
que me empaparam o rosto e os braços; passei
numa loja e comprei calças e camisas limpas
antes de fuzilar a tiros dois mulatos
que ousaram tocar em meu corpo. Apesar
disso tudo, você, meu amor, ainda permanecia
em meus pensamentos, mas não poderei mais
estrangulá-la, pois a polícia cercou o quarteirão
e promete explodir uma bomba sobre minha cabeça.
Não há de ser nada, você bem sabe: tenho
meus documentos, meu nome e minhas imunidades.
Amanhã, querida, será tua vez.
Fernando Rey, Gran Actor