Hoje, o Inter anunciou a morte do grande centroavante Larry (Pinto de Faria). Ele fez 176 gols pelo Inter e participou do surpreendente Gre-Nal de inauguração do Estádio Olímpico. O Grêmio esperava ganhar e tomou 6 x 2, em um fiasco que os antigos não esquecem. Naquela partida, Larry marcou quatro vezes. Meu pai ria muito descrevendo o jogo. De estilo clássico e cerebral, Larry marcou época no clube. Lembrei desta excelente reportagem que o Impedimento fez com o ex-atacante em 2012, quando ele estava prestes a completar 80 anos e enquanto seu palco, o Estádios dos Eucaliptos, era derrubado.
O cerebral Larry no Estádio dos Eucaliptos – um documento
De repente, não mais que de repente, sem cerimônia nem anúncio no jornal, as máquinas adentraram o campo santo dos Eucaliptos e começaram seu trabalho. Deve ter sido numa sexta-feira, quando as preocupações de todos estão mais voltadas ao que fazer do fim de semana. De forma mecânica, rápida e compassada, as máquinas arrancaram gomos espessos de tijolo e concreto do mítico estádio do Internacional, processo que não durou mais que cinco dias. Desaparecia, fisicamente, a memória do Rolo Compressor, do Rolinho, do gol em plano inclinado de Carlitos, da Copa do Mundo de 1950, das arrancadas de Tesourinha, das pestanas tiradas por Charuto durante as partidas, da entrada triunfal da cabrita Chica no meio da torcida, da zaga intransponível de Alfeu e Nena, das tabelas fatais entre Bodinho e Larry, que ficou para contar a história.
Fazia muito calor e não havia nuvens naquele começo de tarde de terça-feira, 14 de fevereiro, quando Larry Pinto de Faria desceu do automóvel, que dirigia de próprio punho, reclamando em tom de brincadeira do horário da entrevista, que lhe obrigara a encurtar a sesta sagrada. Aos 79 anos, Larry merece que lhe respeitem o horário de descanso. Mas fora o contratempo, encontrou uma sombra no meio do canteiro de obras, sentou e conversou por quase uma hora com o Impedimento.
O gol que considera o mais bonito, a estreia nos Eucaliptos, a ovação da torcida, a convivência com os colegas no alojamento do estádio, a vida construída em Porto Alegre, o amor por apenas um clube e por que no futebol há coisas mais importantes que o dinheiro. Tudo isso foi dito por Larry neste documento de 30 minutos, gravado com o microfone “vazando” na imagem por conta do barulho das máquinas, que durante a entrevista destruíam o que restava da casa e do palco principal do cerebral Larry.
Natural de Nova Friburgo e oriundo do Fluminense, Larry chegou ao Inter em 1954 para pegar experiência. Acabou ficando no clube até 1961, marcando 176 gols e se tornando um dos maiores artilheiros da história colorada. É também o último remanescente do Rolinho, como ficou conhecido o time que foi a sequência do grande Rolo Compressor. Depois de encerrada a carreira de jogador, ainda foi vereador por quatro mandatos e secretário municipal de Porto Alegre. Nos dias atuais, desempenha com cortesia e generosidade o papel de memória viva do Internacional dos anos 50 e do Estádio dos Eucaliptos, o grande estádio do futebol gaúcho naquela época.
Assistam o vídeo, dividido em três partes:
Nasci em 1950, portanto, lembro do Larry por lembrar do meu pai falando dele. Esse fato me trás recordações da minha tenra idade. A sua morte me distancia ainda mais dela e de belas lembranças. Estamos todos tristes.
Assisti do morro que fica atrás do antigo Olímpico o Grenal e via Larry e Bodinho destroçarem o Grêmio. Vi toda a carreira do Larry, o Cerebral. Muita saudade daquele time que ainda tinha Lapaz, Paulinho, Odorico, Salvador, Oreco, Luizinho, Bodinho, Larry Jerônimo e Canhotinho.
Talvez, por ter assistido esse time, não posso admitir hoje, torcer por Anderson e outros pernas de pau, que só estão no time por questões impublicávei$$.
Pena. Moro há 60 anos em Belém do Pará mas jamais deixei de assistir jogos do Inter, seja pelo rádio (hoje via Internet) seja pela TV Paga. Mas continuo Colorado, mesmo com a Diretoria que hoje assume o Clube.
Meu pai também me falava muito do cerebral Larry. Excelente lembrança, a da grandiosa reportagem do Impedimento. Que falta faz o Impedimento… Acho que nunca mais haverá nada igual sobre futebol, na internet. Um espaço para a literatura, o sonho e a gozação de alto nível, aí incluindo os comentários sensacionais de Cunegundes, o Mulato Frajola, bem como os textos maravilhosos propriamente ditos. Douglas Ceconello, dos bons tempos, me fazia gozar, ops, me fazia rir aos borbotões. Volta Impedimento! Volta insanidade!