De uma forma muito pessoal, gostaria de caracterizar o excelente romance Índice médio de felicidade como uma “história pânica”. Em nenhum momento consegui um afastamento emocional do livro, pois ele tocou profundamente em um de meus maiores medos — o do desemprego, ainda mais na minha idade de 59 anos. O texto do português David Machado é envolvente, profundamente humano e nervoso, impondo um ritmo forte à leitura.
Após décadas de crescimento, Portugal soçobra em uma profunda crise econômica e o desemprego cresce. O romance é narrado por Daniel, um jovem na casa dos 30 anos que se vê sem ter o que fazer. Demitido de uma agência de viagens, passa a realizar pequenos trabalhos, vê sua esposa mudar-se para o interior com os filhos e fica em Lisboa, aguardando a sorte e ocupando-se com todo o tipo de coisas, muitas delas perfeitamente inúteis para tirá-lo do buraco, meros reflexos de sua situação.
Otimista ao mais alto grau, Daniel vai resistindo de uma forma muito peculiar e humana: procura não encarar a dura realidade e a falta de perspectivas. Mesmo a vergonha que sente de expor-se aos filhos e à mulher é mostrada pelo filtro de leveza de Daniel. Porém, à medida que lemos o romance, sentimos crescer um subtexto que caminha na direção contrária ao que diz o narrador. Suas boas intenções passam a ser claramente hostis a ele próprio. Um verdadeiro achado.
A história é ótima, com um belo final. O bom humor do livro e a extraordinária capacidade narrativa de David Machado — um ex-economista que não escreve uma palavra em economês — garantem um livraço.
Índice Médio de Felicidade recebeu o Prêmio da União Europeia para a Literatura e, dizem, será adaptado para o cinema. Recomendo MUITO.
Segundo me pareceu, ele é português. Fiquei sem ter certeza. Costumo gostar dos autores de lá. Tem um humor esquisito em meio a situações tristes, às vezes até escabrosas. Coisa que o recém-finado Lobo Antunes não tinha, ou tinha só um humor oculto-culto, chique demais para os leitores não versados na subjetividade dele.
É da editora Iluminuras?Se for, às vezes é difícil de encontrar nas livrarias. Não me diga para comprar pela Internet, que eu detesto. Mas, encontrando nas lojas, lerei e certamente com prazer.
O tema, aliás, também me toca diretamente, eu com 55 anos e agora às voltas com a crise PERMANENTE do capitalismo.
Se estamos fodidos e mal pagos, ainda resta o humor e o tanto de serenidade que cabe àqueles que, no final das contas, não morrerão de fome diante de nenhuma circunstância.
Enquanto boa parte da população brasileira, esta morrerá sim.
E sem achar graça de absolutamente nada.
Editora Dublinense. Sim, português. Vou acrescentar ao texto.
Lobo Antunes morreu?
Não. (?)
Foi o irmão dele.
Pois é, foi um irmão. Que furo meu…
Só vi a logo na parte inferior direita e supus (erradamente, mas uma vez) ser da Iluminuras. Ando péssimo.
Gostei muito da resenha. Vou ver se compro.