Em Berlim (VII)

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Não lembro bem — ou nós estávamos fazendo compras ou ficamos no quarto por algum motivo. O fato é que o 9 de janeiro só tem uma foto do amanhecer e algumas bem noturnas e divertidas. Da janela de nosso quarto, no bom Hotel Prens, era esta a vista na manhã de 9 de janeiro. A temperatura média durante nossa estada ficou entre os 4 graus negativos e positivos, e a neve iria apertar nos dias subsequentes. O estranho é que, em Berlim, tais valores não sobem muito durante o dia e nem descem durante a noite. São estáveis e não é anormal a noite ser mais quente do que o dia.

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Foi nosso primeiro e único dia de jazz em Berlim, mas como valeu a pena! A vantagem de ter um filho morando na cidade é que ele conhece muitos lugares aos quais o turismo convencional não chega. Então, naquela segunda-feira à noite, eu, Elena, Bernardo e o amigo Lucas Birmann fomos ao um lugar que, creio, chama-se Every Monday —  bem, se não é este o nome, ao menos é o nome do evento, conforme foi carimbado em nossos pulsos. É um local ao qual jamais saberia voltar, tantas voltas demos até chegar.

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A gente entra e se impressiona com o aspecto da coisa. Há um palco onde uma big band de 15 pessoas se apertam. Na frente, a plateia fica sentada ou deitada em muitos sofás velhos, provavelmente refugos. Alguns ficavam em pé ou no bar. Importante saber é que, nos bares alemães, você paga a primeira cerveja com o preço da garrafa incluído. Quando vai comprar a segunda, devolve a primeira garrafa, pagando apenas o preço do líquido. Quando você devolve a última garrafa vazia, então recebe de volta o valor da garrafa.

Bem, a banda era excepcional. A Omniversal Earkestra era algo anormalmente bom. Afinadíssimos, bons improvisadores, excelente humor e muito prazer para fazer grande música há mais de sete anos todas as segundas, sem interrupções há mais de 300 segundas-feiras, OK? Se compararmos aquele tesão com o de algumas orquestras que conhecemos… Bem, não vamos comparar. Ellington, Mingus e Sun Ra foram os destaques no repertório. Conversamos sobre microfones com a violinista do grupo — sim, o grupo tinha uma. Ela achou que a Elena fosse irmã do Bernardo!

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A foto abaixo é de fingimento. Elena não bebe álcool.

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Depois, sentimos aquela euforia pós-concerto-bom. Outra instituição alemã é que as pessoas compram cervejas nos metrôs e bares e saem caminhando e bebendo pelas ruas. As garrafas vazias são deixadas em pé ao lado de prédios ou postes. Elas podem ser trocadas por dinheiro em supermercados e parece que todos concordam que as pessoas em dificuldades são quem devem pegar essas garrafas para trocar por algo para comer.

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O Lucas — amigo do Bernardo — é uma espécie de Marlon Brando, né? Só que ele, estranhamente, só quer saber de beber mate e não tem voz de taquara rachada.

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A alegria permaneceu conosco no trem de volta.

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