Os atores que trabalharam com Bergman sempre diziam que o set de filmagens era muito leve e se surpreendiam com o peso dos filmes quando iam para as telas. Liv Ullmann disse mais de uma vez: “Nós fazíamos piadas e ríamos todo o tempo. Tomei um susto quando vi Gritos e Sussurros, por exemplo. Afinal, tínhamos passado todo o tempo nos divertindo!”. No último sábado, com um clima medonho lá fora, estivemos numa improvisada sessão privé de Fanny e Alexander lá no StudioClio. Uma maravilha rever este filme depois de tantos anos. Minha filha Bárbara chegou a sonhar com o bispo após ver aquelas “cenas fortes e explicitas de religião”, como sublinhou o Chico. Abaixo, deixo para meus sete visitantes alguns trechos das gravações de Fanny. É claro que são trechos escolhidos, certamente filtrados, mas se nota a atmosfera de tranquila camaradagem entre os atores e técnicos. Como os filmes de Ingmar sempre era produzido por um mesmo grupo de pessoas que foi variando lentamente através dos anos, eram todos amigos ou, no mínimo, conhecidos.
Talvez este seja o filme mais linear da produção madura de Bergman. Isso não lhe retira qualquer mérito. É uma obra-prima. Também é um filme otimista e de final feliz, com a sogra e a nora tomando o poder. A primeira decisão é a montagem de O Sonho de Strindberg. Nada mais adequado.
Ah, e duas fotos muito queridas do filme:
1. Começar com Schumann! Há um belíssimo acervo de memória musical pedindo cinema. Este início já nos remete para uma sensibilidade poética aguçada.
2. Há um personagem notoriamente dionisíaco, o sileno Gustav. Sexualidade exuberante, festeiro, ébrio. O filme começa com festa de Natal, incluindo performance teatral (Bergman adora teatro no cinema, sempre) do presépio, de mórbida frieza, e termina como celebração dionisíaca da vida.
3. A visão da Kabbalah judaica coroa o arsenal de fantasia mística empregado em todo o filme, como linguagem.
4. Baita obra prima! 3h07min de encanto, nem se nota o tempo passando.
5. Além disso, aqueles vinho, quitutes da Claudia e da Astrid, a boa companhia… nem sei de tempo medonho!
6. Valeu!