Esquerda direita esquerda direita (Links rechts links rechts):
Se alguém de esquerda pensa
que alguém de esquerda,
só por ser de esquerda,
é melhor que alguém de direita –
ele é preconceituoso a ponto
de ser como alguém de direita
Se alguém de direita pensa
que alguém de direita
só por ser de direita
é melhor que alguém de esquerda
ele é preconceituoso a ponto
de ser radical de direita
Como me oponho
aos de direita
e aos radicais de direita,
também me oponho
aos de esquerda
que pensam
ser melhores
que os de direita
e por me opor a eles
às vezes penso
que tenho razões de pensar
que sou melhor do que eles
Erich Fried (1921-1988) – Tradução de Victor Gans
E a resposta inteligente e zombeteira de Marcos Nunes nos comentários:
No Centro
Ele está parado ali
naquele lugar
que escolheu
Aqui, ele diz
é o centro do mundo
onde estou só
Outros passeiam
indo à esquerda
à direita
O centro, no entanto
é só dele, o centro
sou eu, ele diz
O mundo só gira
para se manter
no mesmo lugar
Parado no centro
estou em movimento
filosoficamente correto
Tudo que ele diz
diz para si mesmo
no centro ele é tudo
Outros, como ele
ficam parados
há centro em todo lugar
Não falam uns
com os outros
onde estão não é preciso
Somente os que andam
à esquerda ou à direita
se debatem sobre direções
Quem está no centro
passeia em si mesmo
ele diz, e quase sorri
Parado ali
naquele lugar
alguém o colheu
No Centro
Ele está parado ali
naquele lugar
que escolheu
Aqui, ele diz
é o centro do mundo
onde estou só
Outros passeiam
indo à esquerda
à direita
O centro, no entanto
é só dele, o centro
sou eu, ele diz
O mundo só gira
para se manter
no mesmo lugar
Parado no centro
estou em movimento
filosoficamente correto
Tudo que ele diz
diz para si mesmo
no centro ele é tudo
Outros, como ele
ficam parados
há centro em todo lugar
Não falam uns
com os outros
onde estão não é preciso
Somente os que andam
à esquerda ou à direita
se debatem sobre direções
Quem está no centro
passeia em si mesmo
ele diz, e quase sorri
Parado ali
naquele lugar
alguém o colheu
Ou como gosta de dizer o Millôr: “Não gosto da direita. Porque é de direita. E também não gosto da esquerda, porque é de direita. ”
Eu gosto mesmo é da tão criticada pós modernidade que deu um basta nessa babaca divisão ideológica.
…e depois deu um tiro na própria cabeça, né?
Pois é. Deu mesmo.
Acho que uns dos truques mais sacanas da pós-modernidade é ter vendido a impressão de que direita e esquerda morreram. Se tivessem morrido em que espectro ideológico estariam agora aqueles que combatem a visão blasezinha de empresa-família pós-moderna em que donos e empregados trabalham prum bem comum (que eu sinceramente não sei qual é) e multiplicação da riqueza pra alegria da humanidade (onde está nosso quinhão). Talvez as empresas sejam família mesmo, mas com os filhos fazendo os serviços dos pais e recebendo uma parca e porca mesada no fim do mês.
Olha,
quando nosso governo de esquerda vive tomando ações de direita (ao menos no conceito que aprendi há ns 4.932 anos atrás, quando eu ainda era guri) o que fica?
Quando a esquerda se junta aos evangélicos e acata ordens da igreja o que fica?
Quando a esquerda se associa ao mal que anda e este quer retirar da história o impeachment o que fica?
Quando a maioria dos esquerdistas apoia estas açães e outros enriquecimentos estranhos só por que seus autores se dizem de esquerda, o que fica;
Fica a sensação que são melhores, mais inteligentes, honestos e os cambau só por se dizerem de esquerda.
Gostei deste Fried.
A propósito,
Milton, o programa da OSPA ontem estava bastante interessante.
Foi só mudar a direção e resolveram arriscar mais. Pode dar errado, pode, mas não houve acomodação
Branco
Melhor notícia do dia. Baita notícia.
Distinções mais sintéticas possíveis entre direita e esquerda:
Direita: se baseia no Estado Mínimo e na Mão Invisível do Mercado; o primeiro é mínimo no que tange prover serviços públicos e zelar pela igualdade entre os cidadãos, mas máximo para facilitar a ação dos “empreendedores”, a segunda é o primado do dinheiro sobre quaisquer relações sociais; para o capital tudo, para o trabalho, nada; o cidadão não existe, mas apenas os consumidores e a massa de trabalhadores que deve vagar pelo território do estado como bóias frias; na base da doutrina direitista está o darwinismo social, pautado nos direitos desiguais para naturezas desiguais; para o mais apto, o lucro, para o menos apto, o trabalho; para o mais apto, a renúncia fiscal, para o menos apto, os impostos; para o mais apto, um judiciário complacente, para o menos apto, o braço duro da Lei; a ação social de um governo de direita é bem exemplificada pelo governador Geraldo Alckmin: combater o crime é construir presídios; em economia, um dos Mendonça de Barros é o exemplo: para ele, para se combater a inflação, deve se manter o tripé do Plano Real: arrocho monetário; arrocho salarial; desmonte do Estado (ele declarou que o recrudescimento da inflação deve-se á diminuição do desemprego de 12% nos anos Efeagagá e 6% em 2011, com o que, para manter a economia estável, mais vale manter o povo instável). E por aí vai.
Esquerda: se baseia no Estado como consorciado de cidadãos, que possuem iguais deveres e direitos, cabendo ao Estado gerir os processos sociais para equilibrar as tensões e gerar o máximo de igualdade em um regime de relações em que subsiste a obsessão por lucro. O Estado da esquerda possível investe na universalização dos serviços de saúde e educação, e na administração da Justiça sem privilégios; na distribuição de renda e atendimento social para mitigar efeitos danosos das crises econômicas globais, como o desemprego e queda de renda do trabalhador; o Estado de esquerda visa não a saúde de índices macroeconômicos equilibrados conforme as cartilhas monetaristas, mas põe a economia a serviço da geração e distribuição de riqueza, pois tudo que é socialmente produzido deve ser socialmente distribuído da forma mais equânime possível, o que quer dizer que o Estado gerido por um grupo de esquerda, hoje, é necessariamente reformista, gradualista, pragmático, reduzido essencialmente à doutrina do estado do Bem-Estar Social dentro do regime das relações capitalistas de produção.
Um só se confunde com outro quando a má fé campeia.