A autora de As coisas que perdemos no fogo e Este es el mar e participará do Segundo Encontro de Literatura Fantástica, em Santiago e Punta Arenas.
Por Javier García — No Culto — Suplemento Cultural do jornal La Tercera (Santiago, Chile)
Em meados de maio, Mariana Enríquez (46) viajou para um festival de escritores em Praga, República Tcheca. A autora argentina aproveitou para frequentar os lugares onde predominam cruzes e flores. “Fui ao antigo cemitério judeu e ao novo cemitério judeu onde fica Kafka”, conta ao telefone de Buenos Aires.
Renomada romancista, elogiado especialmente por suas histórias de horror, entre suas últimas publicações está Alguien camina sobre tu tumba, publicado pelo selo Montacerdos no Chile, em 2018. O volume é um conjunto de crônicas de cemitérios, localizados na Argentina, Peru, Cuba, França, Itália e Estados Unidos.
No final do volume há um epílogo que nomeia os cemitérios “que eu quero ver antes de morrer”. Um deles é chamado Kutná Hora. “É muito interessante, é cerca de 30 quilômetros de Praga, onde o Ossuário de Sedlec é, é uma igreja onde toda a sua decoração é feita de ossos. Mas desta vez eu não pude ir por tempo. Haverá uma nova oportunidade”, diz Enríquez, que está visitando o Chile esta semana.
Autora de títulos como As coisas que perdemos no fogo (2016) participará do II Encontro de Literatura Fantástica. Organizado pela Faculdade de Letras da Universidade Católica, terá palestras e leituras entre amanhã e sábado 8 de junho, em Santiago e Punta Arenas.
Como surgiu o interesse pelos cemitérios?
Eu sempre gostei deles. Em geral, tenho uma tendência estética para coisas um pouco macabras, literatura e filmes de terror. Mas decidi escrever com meus diários e dados sobre cemitérios, acho que tem a ver com a história de um amigo. Sua mãe estava desaparecida pela ditadura argentina e ele recuperou seus ossos e foi capaz de enterrar sua mãe. Então comecei a perceber que o meu fascínio por tumbas e cemitérios tem muito a ver com a minha história e a história da Argentina.
Você participou do livro de ensaios The King, bienvebido al universo de Stephen King (2019) …
O editor me perguntou. King é um autor extremamente popular e ainda não tem o reconhecimento literário que deveria ter. Ele é um dos melhores escritores no momento. Eu escolhi escrever sobre mulheres no trabalho de King. Nesse sentido, ele é muito corajoso, quebra essa regra desajeitada que um homem não pode escrever sobre as mulheres. E ele faz isso muito bem, como Annie Wilkies, a protagonista de Misery.
Para a academia, ele não é um autor altamente valorizado…
Eu acho que nunca receberia o Prêmio Nobel, mas é injusto. Eu daria o Prêmio Nobel a Stephen King. A qualidade literária é algo difícil de determinar. King escreve em vários gêneros, terror, polícia, fantasia… No twitter, ele está sempre recomendando livros. Ele é um homem que vive da literatura e que ensinou a ler uma geração. Lembro-me de quando a garota lia suas epígrafes, onde nomeava outros escritores. Eu construí um guia de leitura a partir dele.
Credo.
Eu li pouco literatura de terror. Você poderia fazer um texto a respeito do assunto, com algumas indicações.
Acabei encontrando esta entrevista em uma noite de insônia de maneira semi-aleatória. Achei o site através do “Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo” de Galileu, e após zapear por alguns artigos um tanto quanto polêmicos, cheguei nessa entrevista com a qual eu também concordo. O Stephen King já deveria ter ganho um prêmio Nobel de literatura. Ele é tipo o Leonardo do Caprio do mundo literário. Diga-se de passagem que este último foi bem injustiçado até ganhar o seu Oscar, que não foi entregue pela sua melhor atuação ou filme.
Mas vamos ao que interessa, eu recomendo as obras do Edgar Allan Poe para você ler de literatura de terror. Sugiro começar pelo conto do “Gato Negro”. E nestes tempos de pandemia, vale a pena dar uma conferida no conto “A máscara da Morte Rubra”. Uma experiência que pode complementar a leitura é ouvir os contos dele através de audiobooks, cujos narradores dão muito mais tensão aos contos. No YouTube você encontra os dois contos em português e em inglês (versão original).
Tem um livro dele que chama “Contos de Terror, de mistério e de Morte” que além desses 2 contos e outros contos bem interessantes também. No total são uns 12 ou 14 contos. Não tenho certeza.
Outro autor que eu indico é o André Vianco que é um autor nacional conhecido por escrever livros de vampiros. Sugiro que você comece lendo a saga do Vampiro Rei, começando pelo livro Bento. O que mais me chamou a atenção nas histórias do Vianco é o fato delas se passarem em São Paulo / Osasco. Como um bom paulistano, eu sinto um pouco de orgulho ao ver uma história ser contada no local onde eu nasci e cresci. ?
Ps: O livro do Edgar Allan Põe eu li após ter recebido de presente de amigo secreto de uma amiga admirável. Os livros do André Vianco eu comecei a ler após um amigo de faculdade fissurado em leitura me recomendar e “emprestar” o livro do Bento. O livro está comigo até hoje. Os outros livros que eu li do André Vianco eu tive que comprar. Rs