Um psicopatinha

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Eu desconfiava. Todas as minhas luzes de alerta piscavam quando ele estava por perto, principalmente nos últimos seis meses de nosso contato. Informando-me, aprendi que a psicopatia poderia apresentar diversos níveis, alguns mais severos e outros mais brandos. Meu psicopata não era um serial killer de filme, apenas tinha charme e afetividade superficiais — ambas sujeitas a chuvas e trovoadas –, amor pela mentira — criava todo um mundo ao redor de suas invenções — e parecia incapaz de sentir culpa ou remorso. Simpático, era curiosamente incapaz de unir-se a alguém em empatia. E, bem, depois de algum tempo, passou a demonstrar verbalmente o que estava claro em sua postura. Ele desejava o mal de muita gente, às vezes trabalhando duro para isso. Criava fakes, descobria coisas e sistematicamente queria prejudicar alguém.

Eu convivia numa boa trabalhando com o louco. Tenho minha redoma bem construída. Só me dei conta de que a coisa era grave quando ouvi ele falar de seu próprio potencial e talento, coisas verdadeiramente enormes e ecléticas que foram solapadas pela família. Ele poderia ter sido músico, artista plástico, advogado ou chef, mas os fatores externos o prejudicaram. Notei que, dono de um sincero e equivocado sentimento de grandeza, ele agora esperava ser reconhecido como tal, mesmo sem nenhuma realização.

Um belo dia, meio irritado, chutei numa conversa com outro colega. “Ele vai acabar se relacionando com uma mulher bem simples e jovem, inexperiente, afinal, ele precisa de plateia”. Putz, não deu outra. Dei-lhe os parabéns.

Um dia, ele veio com uma estranha história de um assédio sexual que sofrera na infância. Era um caso grave, como todos os do gênero. Voltou ao assunto dias depois, descrevendo uma coisa impossível do ponto de vista físico, coisa de contorcionista mesmo. Fui sacana, pedi mais detalhes e ele amenizou a mentira. Disse que nunca tinham chegado ao ato, que eram só carinhos que ele detestava receber. Aliás, na mesma oportunidade ele me disse que achava que sua jovem mulher tinha uma demanda excessiva de carinhos, enquanto ele só queria sexo. “Tu estás com ela só pelo sexo?”, perguntei. “Claro! Amor a gente finge, As mulheres pedem coisas demais!”.

Os comentários que fez a respeito da moça quando romperam foram de matar. Para justificar a separação, ele criou um fracasso pessoal para ela, coisa que foi recebida com justificado ódio pelas colegas. Ela era perdulária, frígida e fácil de substituir, tanto que ele já estava encaminhando uma nova relação antes de finalizar esta. Sua falta de emoção tornava sombria a bizarrice daquelas declarações públicas.

É um psicopatinha que anda solto por aí. Agora bem longe.

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