O Concerto da Bach Society Brasil do próximo dia 8 de julho de 2025

Compartilhe este texto:

Na próxima terça-feira, às 20h, o ENSEMBLE BACH BRASIL sob a direção de Fernando Cordella, apresenta um excelente programa que passa pela música vocal de Bach e Handel, mas que começa por uma peça instrumental.

PROGRAMA

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

– Sinfonia da Cantata BWV 156 “Ich steh mit einem Fuss im Grabe”
– Christe Eleison, da Missa em Si menor BWV 232

Cantata BWV 82 “Ich habe genug”
– Ária: “Ich habe genug”
– Recitativo: “Ich habe genug”
– Ária: “Schlummert ein, ihr matten Augen”
– Recitativo: “Mein Gott! Wenn kömmt das Schöne: Nun!”
– Ária: “Ich freue mich auf meinen Tod”

Georg Friedrich Händel (1685 – 1759)

– Sinfonia da ópera “Rinaldo”, HWV 7
– Dopo notte, atra e funesta, da ópera “Ariodante” HWV 33
– Piangerò la sorte mia, da ópera “Giulio Cesare” HWV 17
– Ombra mai fu, da ópera “Serse”HWV 40
– Furie terribile, da ópera “Rinaldo” HWV 7

MÚSICOS

Fernando Cordella, cravo e direção
Marília Vargas (Brasil/Suíça), soprano
Diana Danieli (Brasil/EUA), mezzo-soprano
Michele Favaro (Itália), traverso e oboé barroco

ENSEMBLE BACH BRASIL (com instrumentos de época)

Fernando Cordella, cravo e direção

Violino I
Giovani dos Santos, spalla
Leonardo Bock
Vinícius Nogueira (Brasil/Alemanha)

Violino II
Marcio Ceconello
Renata Bernardino

Viola
João Senna

Violoncelo
Marlise Goidanich (Brasil/Italia)

Violone
Alexandre Ritter

A primeira peça do Concerto é a Sinfonia da Cantata BWV 156 de Bach. Talvez devamos explicar que o termo Sinfonia, na época, era uma peça instrumental breve que introduzia principalmente óperas, oratórios e cantatas. Esta Sinfonia é um dos casos mais interessantes de reutilização musical por Bach. Ela aparece um pouco alterada no Concerto para Cravo BWV 1056 — provavelmente composto antes da cantata. Bach frequentemente reaproveitava temas seus em novos contextos. Era um costume da época.

O Christe eleison da Missa em Si menor BWV 232, de Bach, é um dos momentos mais sublimes e intricados da obra. Ele é o segundo movimento na Missa após o Kyrie eleison I e antes do Kyrie eleison II. É um dueto para soprano e alto, com acompanhamento de violino solo e baixo contínuo. A Missa é uma das obras mais importantes de Bach.

Podemos dizer que Bach conviveu muito com a morte. Ela foi sua companheira constante. Seus pais faleceram quando ele era menino. Sua primeira esposa morreu jovem. Ele sofreu a morte de seis de seus 20 filhos, incluindo a de um filho de seis meses antes de escrever a Cantata BVW 82.

Ich habe genug, Cantata BWV 82 de Bach, é comumente traduzida como “Estou contente” ou, mais literalmente, como “Já tive o suficiente”. No centro da cantata, há uma canção de ninar de doçura consoladora e benção, cuja melodia é incomparável. Na verdade, a Cantata 82 fornece um “manual” de como morrer tranquilamente, mapeando o caminho para o paraíso.

Em seu brilhante estudo de Bach, Música no Castelo do Céu, John Eliot Gardiner diz que a teologia da época encarava o mundo como “um hospício povoado por almas doentes cujos pecados apodrecem como furúnculos supurantes e excrementos amarelos”. Mas, no BWV 82, Bach radicalmente nos permite aspirar a sermos anjos. A morte não é transformação ou punição, é missão cumprida, é uma boa noite de sono e uma alegre viagem para casa.

O formato da cantata é simples: um cantor — Bach criou versões para soprano, mezzo-soprano e baixo-barítono — e três árias conectadas por dois recitativos curtos. Um pequeno conjunto de cordas o acompanha. Um oboé solo (ou flauta na versão soprano) gira melodias acrobáticas fazendo um sofisticado contraponto à linha vocal. Sobre as cordas suaves, a ária de abertura começa com o oboé ou flauta, introduzindo a frase melódica de cinco notas que carregará as palavras “Ich habe genug”.

E ele, Bach, passa a nos levar pela mão a algum lugar.

A ária de canção de ninar Schlummert ein, ihr matten Augen parece representar a morte como sono. Porém, aqui Bach produz um milagre musical. O sono torna-se não a morte, mas um sonho, uma visão fugaz da morte, da qual acordamos revigorados. É por isso que a ária final curta e alegre pode ser escandalosamente viva, paradoxalmente alegre.

Se as árias de Bach são verdadeiras meditações integradas a uma narrativa litúrgica, as de Handel são teatrais, servindo muito bem aos dramas que representavam. São um mundo à parte na música barroca, combinando belas melodias, expressividade dramática, virtuosismo vocal e profundidade emocional.

Este comentarista tem especial predileção pela ária Ombra mai fu, presente neste recital. É uma belíssima melodia na qual o protagonista canta dirigindo-se a um plátano (sombra amada), num momento de lirismo surreal e quase cômico. A ironia é a de um poderoso rei declarando amor a uma árvore. A música, porém, é tão sublime que transcende o contexto. A melodia parece flutuar, como se Handel tivesse capturado o próprio conceito de paz.

Ombra mai fù
di vegetabile,
cara ed amabile,
soave più.

(“Nunca houve sombra / de árvore, / tão querida e amável, / mais suave.”)

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

1 comment / Add your comment below

  1. A Marilise é filha da Goidanich do Conjunto de Câmara de Porto Alegre, que só tocava música medieval e renascentista? Fui a algumas apresentações deles. Quase roubei o dulcimer, mas tinha sempre alguém olhando…

Deixe um comentário