É notável a mudança de gosto trazida pela música historicamente informada, principalmente no barroco. De forma genérica, tudo o que foi gravado antes dos anos 70 é simplesmente absurdo. Estou ouvindo uma velha gravação da Missa em si menor de Bach na Rádio da Ufrgs onde os cantores parecem estar todos desesperados. Estão cantando Bach como um bando de loucos sem noção, como se cantassem Verdi em momento de morte iminente ou paixão avassaladora. Além de coro e orquestra enormes, anabolizados. A coisa é insuportável e ainda está na metade. Quero até saber quem fez isso. Vou tratar de aguentar.
(Era Otto Klemperer. Com Janet Baker, Hermann Prey, Nova Philharmonia e Coro da BBC. Um Bach com molho pesadíssimo de 1967).
É engraçado esse “desespero” do Otto Klemperer, que você descreve – vez que ele é o Regente, o “Conductor” – uma vez que há uma gravação das Suites Orquestrais, do Pai da Música, regidas por ele, cuja cadência é aquela ideal, A MEU VER: execução lenta, pausada, como soe ser para a Música extremamente costurada e melodiosa de Bach, um verdadeiro tecido de renda. Aliás, executar Bach com pressa e afobadamente é o pior caminho prá poder desfrutar da bela costura melódica de Gênio Maior da Música. Por isso, aprecio as execuções regidas pelo inconfundível Karl Richter. Bach tem de ser ouvido de maneira lenta, sem pressa. Só assim podemos desfrutar de toda a beleza de suas composições, costuradas como se houvera sido por uma mulher rendeira.