Atrás do balcão da Bamboletras (LXVII)

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(Mil vezes contar uma história autodepreciativa do que uma em que brilho, mas fazer o quê?).

— Boa tarde, Grande Milton!

Ih, mais um louco, pensei.

— Boa tarde — respondo ao desconhecido.

— Tu não vai lembrar de mim, mas tu mudaste a minha vida.

— Pra pior, certamente.

— De jeito nenhum.

O sujeito estava tão entusiasmado que a frase seguinte não era de todo um absurdo.

— E como foi que salvei tua alma?

— Me indicando um livro. Eu te pedi um livro de psicologia que era sobre hiperfoco e obsessão e tu disseste que não tinha a obra e nem tinha como identificar outro sobre o tema. Mas me indicaste um livro de ficção, O LIVRO PERFEITO: Michael Kohlhaas. Aquilo é um tratado sobre hiperfoco e obsessão!!!

— Adoro o Kohlhass — afirmei e é fato.

Neste momento, eu, que não lembrava do cara e que estava no computador sem saber direito o que era hiperfoco, sorri fingindo fazer outra coisa e escrevi rapidamente do DeepSeek: “Kohlhaas e hiperfoco. Há relação?”

E o cara seguia:

— Li o Kohlhaas não sei quantas vezes, é maravilhoso! E pude entender muito mais coisa do que entenderia lendo um livro de especialista.

— Sim, aquilo é um paroxismo tão poderoso quanto manter aberta uma livraria apesar da Amazon… Kohlhaas é um dos livros mais impressionantes que já li, mas sei lá o que é hiperfoco.

— Eu sou psicólogo e…

Deixei de ouvir o cara porque e vi que o DeepSeek me respondia. Fiz uma leitura a toda velocidade. Abro aspas:

“Kohlhaas e Hiperfoco: Uma Relação Inesperada (e Intensa)
A história de Michael Kohlhaas – o protagonista da novela Michael Kohlhaas (1811), de Heinrich von Kleist – e o conceito moderno de hiperfoco (comum em TDAH e neurodivergências) têm mais em comum do que parece. Ambos envolvem:
1. A Obsessão que Consome Tudo
(Mil detalhes que ignorei)
2. A Linha Tênue Entre Determinação e Fanatismo
(Mil detalhes que ignorei)
3. A Neurodivergência como Leitura Possível
(PQP, o que significa neurodivergência?)
Veredito (do DeepSeek): Sim, há relação! Kohlhaas é o hiperfoco em forma de tragédia literária. Se ele tivesse um pouco de flexibilidade cognitiva, talvez sua história terminasse melhor… Mas aí não seria Kleist”.

Olhei para o cara sorrindo e pensei com meus botões:

“Futebol é bola na rede”.

(Abaixo, Heinrich von Kleist).

Heinrich von Kleist, por Anton Graff

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