
Gente, este filme é IM-PER-DÍ-VEL !!! Vá e Veja (1985) é, provavelmente, o melhor filme de guerra já produzido. É uma experiência inesquecível e profundamente humana. Através dos olhos de um menino bielorrusso, acompanhamos a adolescência ser esmagada pela brutalidade, num percurso que transforma a juventude em silêncio e assombro. Não há heroísmo, apenas o absurdo e a crueldade da violência. A fotografia e o som criam uma experiência surpreendente. Não é uma história de guerra, é um testemunho daquilo que a humanidade pode fazer contra si mesma. De certa forma, assistir a Vá e Veja é atravessar o inferno e voltar transformado.
1. O Título é uma Profecia Bíblica Apocalíptica
O título “Vá e Veja” é uma citação direta do Livro do Apocalipse (6:1-8). Na passagem, o Cordeiro de Deus quebra os sete selos do pergaminho divino. Ao quebrar os primeiros quatro selos, quatro cavaleiros são convocados, trazendo Conquista, Guerra, Fome e Morte. A frase “Vá e Veja” é o comando dado a esses cavaleiros. O título do filme, portanto, não é um convite, mas uma profecia de que o que o espectador testemunhará será o próprio apocalipse na Terra, representado pelos horrores da ocupação nazista na Bielorrússia.
2. O Protagonista Envelhece Diante das Câmeras (Literalmente)
Elem Klímov e o diretor de fotografia Alexei Rodionov queriam que o rosto do protagonista, Florya (interpretado por Aleksei Kravchenko), mostrasse fisicamente os horrores que ele testemunhava. Para isso, eles filmaram as cenas fora de ordem cronológica. Eles começaram pelas cenas finais, onde Florya já está psicologicamente destruído e com o rosto envelhecido. Aos poucos, foram filmando as cenas anteriores, exigindo que Kravchenko “rejuvenescesse”. O efeito final é aterrador: vemos um menino cheio de vida se transformar, em poucos dias, em um homem velho, com o rosto marcado pelo trauma.
3. Balas de Verdade Foram Usadas Para Intensificar o Medo
Para extrair reações genuínas de terror do elenco, Klímov adotou métodos radicais. Em uma cena particularmente intensa, onde os personagens fogem por um campo sob fogo nazista, o diretor disparou balas de verdade com uma metralhadora sobre as cabeças dos atores. O som dos tiros, o zumbido das balas passando perigosamente perto e o medo real nos rostos deles são completamente autênticos. Essa prática, hoje considerada impensável por questões de segurança, contribuiu para a sensação documental e insuportável de perigo iminente.
4. O Roteiro é Baseado em Testemunhos Oculares e uma História Real
O filme é baseado no livro “Eu Estou da Vila em Chamas”, do escritor bielorrusso Ales Adamovich, que ele próprio lutou como partisans na Segunda Guerra Mundial quando era adolescente. O livro é uma compilação de depoimentos de sobreviventes da ocupação nazista na Bielorrússia, onde 628 aldeias foram queimadas junto com seus habitantes, em massacres semelhantes ao retratado no filme. A cena do massacre na igreja, por exemplo, é uma fusão de vários eventos reais documentados, tornando o filme não apenas uma obra de ficção, mas um documento histórico de profunda ressonância emocional.
5. O Som Foi Manipulado para Causar Trauma Psicológico no Público
A trilha sonora de “Vá e Veja” é uma ferramenta de tortura psicológica. Após a experiência traumática com bomba, a percepção sonora de Florya se altera. O som do mundo exterior some e é substituído por um zumbido agudo e opressivo, enquanto ele só consegue ouvir sua própria respiração ofegante e os batimentos de seu coração. Klímov e o compositor Oleg Yanchenko criaram esse efeito para fisicamente incomodar e imergir o espectador no estado de choque pós-traumático do personagem. É uma técnica que não serve para entreter, mas para simular o colapso mental e fazer o público “sentir” o trauma, mesmo que por apenas alguns instantes.