Está chovendo novamente… Olho no celular e minha irmã está me avisando que Paul Auster morreu. O dia piora. Complicações de um câncer no pulmão.
Foi um enorme escritor e criador. Tem 30 romances, escreveu poesia, roteiros de filmes e até dirigiu um.
Vi-o no antigo Fronteiras do Pensamento. Foi quase uma entrevista ao vivo. Era um sujeito tranquilo, envolvente, educadíssimo, deu vontade de virar a noite conversando com ele. Ninguém queria que acabasse.
Devo ter lido uns 10 livros dele. Não vou ser original: amo a Trilogia de Nova York. A foto que posto é da minha irmã. Ela diz que têm esses Auster e pede mais para a Livraria de seu irmão. Eu, no caso.
Ah, hoje é o Dia do Trabalhador. Os trabalhadores da Livraria Bamboletras estão em casa, mas eu estou aqui aguardando vocês até às 17h. Ler com chuva é o máximo. Podem vir.
Uma das mais tradicionais livrarias de Porto Alegre, a Bamboletras estava há 26 anos instalada no Nova Olaria, um também tradicional centro comercial e espaço cultural da Cidade Baixa. Os últimos dois anos e meio foram de fortes emoções, imprevistos e muita tensão para o livreiro Milton Ribeiro e para todo o grupo de funcionários da livraria. No dia 19 de março, a Bamboletras foi obrigada a fechar as portas para o atendimento ao público, com o início do processo de isolamento social causado pela pandemia da Covid-19. O distanciamento mudou totalmente a forma de operação da Bamboletras, uma livraria que, até então, atendia o público diretamente na sua sede no Nova Olaria, e teve que passar a trabalhar via telefone, tele-entrega, whatsapp e outros dispositivos virtuais.
Assim como aconteceu com a maioria das livrarias e outros estabelecimentos comerciais, a Bamboletras ficou bastante combalida financeiramente em 2020. “Em 2021, a gente estava começando finalmente a respirar quando recebemos a notícia de que o Nova Olaria seria derrubado para a construção de um novo edifício. Foi uma dura notícia para nós. Depois de passar um ano dificílimo, ficamos sabendo que teríamos que sair do Novo Olaria”. Após a frustração inicial com a notícia, Milton Ribeiro e sua equipe começaram a busca de uma nova sede para a livraria. Bernardo, filho de Milton, descobriu, próximo à rua Lima e Silva, onde estava localizado o centro comercial que está sendo demolido, o prédio de uma pequena igreja que estava para alugar.
O prédio, localizado na rua Venâncio Aires, nº 113, pertence à Igreja Nova Apostólica, uma igreja protestante restauracionista surgida na Alemanha em 1863, que se baseia na Bíblia conforme a interpretação dos apóstolos e chegou ao Brasil em 1928, com uma missão numa comunidade alemã que vivia no bairro de Santana, em São Paulo.
Em um primeiro momento, Milton admite que achou a ideia muito estranha. “Uma igreja?” – questionou. “É uma ideia meio europeia. Na Alemanha e na Holanda, é comum prédios de igrejas se tornarem outra coisa, principalmente livrarias. Me deu um frio na barriga, fiquei pensando que poderia ser um lance muito ousado”, conta. Mas a ideia ousada e inusitada acabou virando realidade e, a considerar os primeiros dias de atividade na nova casa, está dando certo. “Estamos aqui há quatro dias (a conversa com o Sul21 ocorreu na quarta-feira, 20 de julho) e as pessoas estão gostando muito e recebendo super bem a novidade”.
Ele destaca ainda que foi muito bem tratado pelos donos do prédio, que gostaram da ideia de que o espaço que abrigava a Igreja Nova Apostólica passasse a ser ocupado por uma livraria. “Não me pediram carteirinha de crente nem nada do tipo, a gente se respeitou bastante e a ideia foi acolhida por eles”. Por enquanto, a Bamboletras ocupa a sala central do andar de baixo, mas há outros espaços no andar de cima, onde morava o padre, um longo corredor lateral e um pátio arborizado nos fundos. Milton planeja utilizar esse pátio para realizar lançamentos de livros e outros eventos, principalmente durante o verão. Além disso, conta ainda, muitos clientes estão pedindo, “com uma certa insistência e veemência”, que a livraria abrigue um café também. “Tem que ter o cheiro do café aqui dentro”, rogou uma cliente. A equipe da Bamboletras está pensando no assunto. “Vamos ver se a gente consegue implantar essa ideia nós mesmos ou em parceria com alguém”, diz Milton.
O livreiro ainda está assimilando todo o simbolismo envolvido na mudança de sede da livraria para uma igreja, no momento em que o país vai saindo do isolamento social provocado pela pandemia e sofre um processo de desmonte de políticas e espaços públicos também na área cultural. “Estou pensando em escrever uma série de textos sobre todo esse processo, justamente para refletir a respeito disso. Foi uma coisa muito súbita e rápida. Quando começaram as obras no Nova Olaria, eles colocaram, sem anunciar para a gente, um tapume preto em frente ao prédio. Com isso, as pessoas deixaram de entrar, porque achavam que não tinha mais nada lá dentro.
Houve muitos sustos e algum desespero inclusive. Não tivemos muito tempo para refletir sobre tudo isso que aconteceu. É óbvio que, para mim, é uma situação muito irônica, eu, uma pessoa que sempre se declarou ateia e sempre reclamou muito da mistura entre política e religião. Ainda fico meio surpreso. De vez em quando eu olho para a nova sede da livraria e penso ‘meu deus, estou trabalhando numa igreja’. Mais ainda, sou o proprietário de uma livraria dentro de uma igreja”.
O movimento, nos primeiros dias de funcionamento da Bamboletras em sua nova casa, está muito bom e deixa Milton Ribeiro animado com o futuro. “As pessoas estão gostando muito da novidade. No Nova Olaria, as lojas foram paulatinamente fechando. Durante a pandemia, praticamente todas saíram, especialmente os bares. A gente não sabia o quanto aquilo impactava a livraria. Foi se criando uma atmosfera meio deprimente. Um ambiente que era culturalmente ativo e brilhante, passou a ficar esvaziado e abandonado. Olhando hoje, vejo que esse processo nos prejudicou demais. A gente devia ter saído antes de lá”.
A mudança de astral fica evidente para quem entra na livraria. A equipe toda com o ânimo renovado e as pessoas, antigos e novos clientes, que entram curiosos para conhecer a novidade. O livreiro e agora também “pastor” Milton Ribeiro parece já estar preparado também para conviver com os inevitáveis trocadillhos que acompanharão o novo espaço, transformado em templo dos livros, capela da leitura e santuário da cultura em uma Porto Alegre tão castigada nos últimos anos.
A Bamboletras me dá grandes alegrias, mas também muitas preocupações. Eu sou um cara azarado. Quando comprei a Livraria, o dono do cinema do Shopping Nova Olaria resolveu dizer que Lula não estava lendo na prisão, pois não sabia ler. O público dele era formado por gente de esquerda… Aquilo foi um tiro no pé que também nos atingiu. As pessoas simplesmente boicotaram o cinema, boa parte do público culto deixou de entrar no Olaria e tivemos queda nas vendas.
Depois, todos sabem, em 19 de março de 2020, o comércio de rua fechou e nós tivemos que mudar todo nosso estilo de vendas, apelando para as telentregas e para as vendas pelo site. Foi a segunda paulada que levamos, esta muito mais forte. Sobrevivemos com imensas dificuldades.
Agora, quando estávamos no caminho da recuperação, o Nova Olaria fechará por dois anos para reformas. Estávamos saindo de uma forma planejada, mas, sem aviso, recebemos uns tapumes pretos aqui na frente que dão toda a impressão de que TUDO FECHOU lá dentro.
E estamos novamente na correria, alertando a todos que a vida ainda pulsa forte por aqui.
Eu sinto aquele frio na barriga de quem está (muito) escaldado. O novo local (Venâncio Aires, 113) é muito adequado para nós, mas, com o nosso azar, não sei o que será. O fato é que conviver com a pindaíba é uma merda, digo a vocês. Quem passou por isso, sabe.
O capítulo que a tradicional livraria porto-alegrense Bamboletras se encontra tinha tudo para ter um final triste. Mas o proprietário do estabelecimento que opera na galeria Nova Olaria, da rua Lima e Silva, no bairro Cidade Baixa, deu uma reviravolta no enredo.
Amante de histórias que é, o jornalista Milton Ribeiro transformou o fim de um ciclo em um começo que tem tudo para dar certo, embora seja um pessimista nato. O seu negócio funcionará, a partir de julho, dentro de uma antiga igreja apostólica, na avenida Venâncio Aires, nº 113.
O encerramento das operações da Bamboletras na Nova Olaria se deve à construção de três torres que ocuparão o terreno, administrado pela Dallasanta. A ideia é que a loja permaneça no centro dos prédios e que a empresa possa retornar à Lima e Silva quando tudo estiver pronto. Mas, primeiro, Milton verá como ficará o complexo. “Se for legal, eu volto”, revela.
Sua atenção, agora, está voltada para o desafio de tornar o local que recebia cultos, na Venâncio, em um destino turístico. “Na Europa, é muito comum livrarias ocuparem igrejas”, conta ele. “Aqui, nunca vi isso. Espero que seja um atrativo”, emenda.
Milton, que mora no Bom Fim, comprou a Bamboletras em 2018. Ele diz que seu negócio tinha o perfil de atender a clientela no balcão, mas a pandemia gerou uma crise. As pessoas sumiram e entraram os motoboys, os ciclistas e as entregas por correio.
Quando o pior do surto sanitário havia passado, uma nova dificuldade: o fechamento da Nova Olaria e das lojas vizinhas. Não havia mais gente que se surpreendia com a presença de uma livraria ao ir jantar ou beber no centro comercial. Apesar de tudo isso, ele celebra o fato da marca permanecer viva. “Se estivéssemos em outro bairro, estaríamos mortos”, considera.
Isto porque, para ele, a Cidade Baixa é destino de pessoas de vários estados, que estão em Porto Alegre a passeio ou a negócios. A boemia, os casarios antigos e as ruas tranquilas são características que atraem os curiosos, segundo Milton. “O bairro se organiza em torno da Rua da República e da Lima e Silva, mas há muitas outras coisas peculiares”, aponta.
Em breve, uma dessas coisas será sua livraria na igreja. Uma história que colocará, novamente, a Cidade Baixa na rota até de quem já conhece a região.
Três importantes livros. A ‘Escultura Pública de Porto Alegre’ mostra os 250 anos da cidade através das obras que são instaladas em praças, viadutos, fachadas, cemitérios, trazendo 1900 fotos, além da história de cada trabalho. Já o Volume III de ‘Escravidão’ finaliza a grande obra de Laurentino Gomes sobre esta definidora chaga de nosso país. E ‘Com quanto rabinos se faz um Raimundo’ é um grande livro de ficção sobre nosso preconceito de classe. Confiram!
Uma excelente semana com boas leituras!
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Um livraço incrível! Focando-se especificamente nas obras de arte pública da capital, mas tendo por fundo a história da cidade, são abordados centenas de trabalhos, dos primeiros exemplares instalados em 1865 (chafarizes franceses) às peças instaladas em logradouros públicos, em 2022. Com 412 páginas e cerca de 1900 imagens a cores, atuais e históricas, o volume não é meramente um álbum fotográfico. Trata-se do fruto de mais de 25 anos de pesquisa do historiador de arte José Francisco Alves. Como obra comemorativa do 250 anos de Porto Alegre, o livro demonstra a evolução da escultura pública de Porto Alegre; aspectos teóricos da arte pública e políticas da arte pública de Porto Alegre, do Brasil e do Mundo. Também traz verbetes com históricos resumidos (ou estendidos, dependendo do caso) sobre centenas de exemplos de escultura pública, organizados conforme a tipologia. Grande dica para quem ainda ama esta cidade e seu patrimônio artístico em praças, parques, ruas, avenidas, viadutos, fachadas, cemitérios e outros locais.
O último livro da trilogia Escravidão é dedicado ao século XIX; à Independência; ao Primeiro e ao Segundo Reinados; ao movimento abolicionista, que resultou na Lei Áurea de 13 de maio de 1888; e ao legado da escravidão, que ainda hoje emperra a caminhada dos brasileiros em direção ao futuro. A escravidão era, na definição de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, “um cancro que contaminava e roía as entranhas da sociedade brasileira”. Disseminado por todo o território, o escravismo perpassava todas as atividades e todas as classes sociais. Maior território escravista da América em 1822, o Brasil assim se manteria até o final do século XIX, com sua rotina pautada pelo chicote e pela violência contra homens e mulheres escravizados. Nenhum outro assunto é tão importante e tão definidor da nossa identidade nacional quanto a escravidão. Conhecê-lo ajuda a explicar o que fomos no passado, o que somos hoje e também o que seremos daqui para a frente. Em um texto impactante e ricamente ilustrado com imagens e gráficos, Laurentino Gomes lança o terceiro volume de sua obra, resultado de 6 anos de pesquisas, que incluíram viagens por 12 países e 3 continentes.
Um livro estupendo! No Alto de Pinheiros — bairro da elite paulistana –, um sem-teto chamado Raimundo vive solitário numa praça próxima a uma sinagoga e a edifícios residenciais. Como não incomoda, mora na praça também sem ser importunado. Mas um dia ele pede para que o rabino distribua alimentos para os pobres. A proposta é aceita. É um estranho pedido de quem não fala com quase ninguém, parece viver de ar e que passa seus dias escrevendo em cadernos e mais cadernos. A aceitação por parte do rabino também é inesperada. A partir deste ponto, a ação bondosa vira problema, pois os habitantes do bairro nobre não veem aquilo com bons olhos. É esquisita aquela gente que vem pegar comida, eles sujam tudo e, mesmo que o rabino contrate pessoas para fazer a limpeza diária, não adianta, os moradores querem o fim daquilo. Ou seja, a fila de famintos tem que ser retirada dali. Mesmo as domésticas e diaristas acham que aquilo não é para aquela região. Ou seja, o preconceito de classe é algo mais complexo e enraizado do que parece. Puro suco de Brasil!
Três importantes livros de não-ficção fazem nossa newsletter de hoje. Os temas são variados. bell hooks visita a masculinidade negra, o livro da Boitempo explora as cartas (25 mil!) que Lula recebeu na prisão e Emocional abre uma discussão a respeito da importância do afeto em nossas decisões.
Uma excelente semana com boas leituras!
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A gente é da hora — homens negros e masculinidade, de bell hooks (Elefante, 272 páginas, R$ 63,00)
“As mulheres negras não podem falar pelos homens negros. Nós podemos falar com eles.” Essa é uma das muitas razões que motivaram bell hooks a escrever A gente é da hora, em que tece duras críticas à adesão da maioria dos homens negros à masculinidade falocêntrica e patriarcal propagada pela sociedade capitalista imperialista supremacista branca. Segundo a autora, ao adotarem uma pose “legal” pautada pelo machismo e pela violência — em grande medida, veiculados pela cultura gangsta —, e não pela construção de formas de masculinidade nas quais o sentimentalismo e a vulnerabilidade são permitidos, os homens negros estão atentando contra si mesmos. Em dez ensaios e um prefácio, acompanhados por textos de Lázaro Ramos e Túlio Custódio, hooks pretende somar-se ao pequeno coro que fala em nome da libertação masculina negra. E o faz declarando todo o seu amor aos homens negros, partindo de experiências pessoais — com o pai, o irmão, o avô, amigos e amantes — para construir análises estruturais das forças que oprimem os homens negros e das maneiras pelas quais eles podem abandonar o vitimismo em busca de autenticidade e autodeterminação.ocorre em uma cultura de dominação é a confusão entre temor e amor.
Querido Lula: Cartas a um presidente na prisão, de Maud Chirio (org.) (Boitempo, 240 páginas, R$ 53,00)
De 7 de abril de 2018 a 8 de novembro de 2019, o ex-presidente Lula ficou encarcerado na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. Foram 580 dias de cárcere, que marcaram definitivamente o rumo da história pessoal de Lula e também do Brasil: enquanto o país elegia um representante da extrema direita, um acampamento em frente à prisão se formou, organizações nacionais e internacionais lutavam na arena jurídica para reverter as injustas condenações, e milhares de brasileiros e brasileiras se solidarizaram com a situação do ex-presidente, seja por manifestações via internet ou pelo meio de comunicação mais antigo entre nós, as cartas. Durante esse período, aproximadamente 25 mil cartas foram endereçadas a Lula. Um impressionante acervo, ao qual se soma o envio também de objetos variados como livros, revistas sobre futebol, poemas e cordéis, Bíblias, fotografias, desenhos, roupas e cobertores para evitar o frio (alguns tecidos pelas próprias remetentes), bordados e gravuras, estatuetas de divindades de todas as religiões, flores secas e outros materiais decorativos. Em Querido Lula: cartas a um presidente na prisão, é possível ter acesso a 46 missivas selecionadas pelos organizadores, bem como a um cuidadoso caderno de imagens com fotografias das cartas e dos objetos enviados.
Emocional — A Nova Neurociência dos Afetos, de Leonard Mlodinow (Zahar, 328 páginas, R$ 74,90)
Durante muito tempo acreditamos que o pensamento racional era a influência dominante em nossos comportamentos. As emoções, por sua vez, seriam prejudiciais nas tomadas de decisão. Agora, graças ao enorme progresso das pesquisas em neurociência e psicologia, sabemos que a emoção é tão importante quanto a razão para orientar nossas escolhas e atitudes. Mas o que é a emoção? Como nossas ideias sobre os sentimentos evoluíram? Como regular as emoções para utilizá-las a nosso favor? Estas são as grandes questões abordadas em Emocional, do brilhante físico Leonard Mlodinow, que nos orienta aqui por uma novíssima área de pesquisa: a neurociência afetiva. De laboratórios de cientistas pioneiros a cenários do mundo real em que o domínio sobre as emoções foi decisivo para evitar uma tragédia, Mlodinow mostra o quanto essa revolução científica tem implicações significativas também na vida cotidiana, no tratamento de doenças, na compreensão das relações pessoais e em nossa percepção a respeito de nós mesmos.
Calma gente, o gato acaba bem. O novo Murakami, Abandonar um gato, é formado por cenas corriqueiras da infância e da juventude do autor. Ao longo da narrativa, Murakami também traz à tona traumas familiares e de guerra, além contar sobre sua relação com o pai, com quem passou anos sem contato. Um baita livro! Também recebemos vários CDs — saudades dos CDs, né, gente? — de Vitor Ramil e recomendamos Os Abismos, de Pilar Quintana.
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“Claro que tenho muitas lembranças do meu pai. É natural, considerando que vivemos sob o mesmo teto de nossa casa não exatamente espaçosa desde o momento em que nasci até sair de casa aos dezoito anos. E, como é o caso da maioria das crianças e pais, imagino, algumas das minhas lembranças do meu pai são felizes, outras nem tanto. Mas as memórias que permanecem mais vívidas em minha mente agora não se enquadram em nenhuma das categorias; envolvem eventos mais comuns. Quando morávamos em Shukugawa, um dia fomos à praia para nos livrar de um gato. Não um gatinho, mas uma gata mais velha. Por que precisávamos nos livrar disso, não me lembro. (…) Em casa, descemos da bicicleta – discutindo como sentimos pena do gato, mas o que poderíamos fazer? – e quando abrimos a porta da frente o gato que acabamos de abandonar estava lá, nos cumprimentando com um miado amigável.”
CDs de Vitor Ramil — Campos Neutrais / Avenida Angélica / Ramilonga – A Estética do Frio / Foi no mês que vem (coletânea)
Com preços variando entre R$ 39,90 a R$ 59,90, recebemos boa parte da obra de Vitor. Ele precisa de apresentação? Compositor, letrista, cantor e escritor brasileiro, nascido em Pelotas, Ramil é autor de doze álbuns, um melhor do que o outro. “Avenida Angélica” é seu último trabalho, onde ele coloca música em poemas de Angélica Freitas. “Foi no mês que vem” é uma coletânea de trabalhos anteriores regravadas por convidados especiais como Fito Páez, Jorge Drexler, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Pedro Aznar, os manos Kleiton e Kledir, a cantora Kátia B, o percussionista Marcos Suzano, o violonista argentino Carlos Moscardini e, entre outros, as revelações da nova geração porto-alegrense Bella Stone e seu filho Ian Ramil. Smos apaixonados por “A Estética do Frio”. Nossa que CD bom!!! Explora nossas rapizes de um modo muito especial. Para completar “Campos Neutrais” foi indicado ao Grammy Latino na categoria de “Melhor Álbum de Música Popular Brasileira”. É mole?
A menina Claudia mora com os pais em Cáli, na Colômbia, em um apartamento tomado por plantas. O ambiente, exuberante e bem cuidado, é um contraste, uma oposição à mãe indiferente que está em conflito com os caminhos de sua própria vida. Como muitas famílias, a de Claudia passa por uma crise, e basta o casamento de seus pais estremecer para que ela comece a entender a fragilidade dos limites que mantêm seu cotidiano. A partir da expectativa e de seu olhar atento e ao mesmo tempo inocente de criança, é a menina que narra os acontecimentos que abriram as fendas por onde entraram seus piores medos, aqueles que são irreversíveis e podem levar à beira dos abismos.
Um novo romance da grande Rosa Montero, um ensaio político de Fernando Haddad e as reflexões e sentimentos de Julián Fuks durante a pandemia são as sugestões da Bamboletras para a semana. Não é pouca coisa. Três gêneros, três importantes livros.
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Desde o lançamento de A ridícula ideia de nunca mais te ver, todo livro novo de Rosa Montero é um acontecimento. Agora, a inquieta espanhola chega pela primeira vez com um romance cujo personagem principal é masculino. O que leva um homem a saltar de um trem em uma cidade sem maiores atrativos, que não era seu destino original, e se esconder ali? S. eu objetivo é recomeçar a vida ou simplesmente acabar com ela? Seja qual for a resposta, o destino o trouxe para uma cidade que está lentamente definhando. A ruína parece mais perto a cada dia, porém… (Sem spoilers). Na cidade, todos parecem arrastar algum segredo, alguns sombrios, outros simplesmente ridículos. Também há humor naquela cidade triste, porque a vida tem muita comédia. E pessoas que fingem ser quem não são, ou que escondem o que planejam. É o grande jogo das falsidades enquanto uma intriga hipnotizante revela o mistério daquele homem.
Em outubro de 2018, o então candidato à presidência da República Fernando Haddad recebeu o professor do MIT Noam Chomsky em sua casa. O Brasil vivia seu momento mais dramático desde a redemocratização e a ameaça de uma guinada autoritária não era percebida por grande parte dos eleitores. Da conversa sobre política e linguística surgiu a provocação que originou O terceiro excluído. A teoria universalista de Chomsky afirma que é possível nos entendermos independentemente da cultura em que estejamos inseridos. O que explica então o atual surto de incomunicabilidade, em que não parece haver denominador comum para o debate público? O que nos impede de construir um futuro melhor para todos, com menos carências materiais e espirituais? Neste estudo denso e provocador, Haddad apresenta uma nova contribuição para as teorias da emancipação humana, a partir da qual pode emergir uma abrangente linha de ação política.
Em trinta crônicas selecionadas, escritas nos períodos mais críticos da pandemia, Julián Fuks reflete sobre a perda e a solidão, a fragmentação do tempo e as incertezas futuras de um país. Mas nestas linhas há também esperança: pelo que podemos construir, ou reconstruir, a partir de nossas experiências. Suas incertezas e medos, a insegurança com a saúde da família e de amigos, se somaram ao que ocorria do lado de fora: as arbitrariedades do governo, a distância dos conhecidos, a contagem diária de mortes. Valendo-se de Virginia Woolf a Drummond, de Natalia Ginzburg a Clarice Lispector, Julián Fuks busca compreender as sensações conflitantes, a incerteza do tempo e os vazios na convivência com os outros. É nas frestas do horror que o autor procura as belezas menores, para com elas construir algo novo, a nova identidade do que queremos ser, no futuro que ainda não devemos esquecer.
Ah, vocês pensam que a gente está exagerando? Pois não estamos não. Estamos indicando o início da Quadrilogia das Estação de Karl Ove Knausgård, o segundo livro lançado no Brasil da grande Silvina Ocampo e o delicado relado dos dias finais de García Márquez (com fotos). Viram? Não estávamos brincando! Veja abaixo!
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Outono, de Karl Ove Knausgård (Cia. da Letras, 208 páginas, R$ 69,90
Quem leu a série Minha Luta, sabe que Karl Ove Knausgård faz descrições como ninguém. E agora ele retorna com uma sensível e encantadora Quadrilogia das Estações. Outono, primeiro volume da nova série, é uma coletânea da aguçada observação do autor sobre a vida que o cerca. “28 de agosto. Agora, enquanto escrevo, você não sabe nada a respeito de nada – o que a espera, em que tipo de mundo você há de surgir.” Assim começa Outono: com uma carta de Karl Ove Knausgård para a filha que ainda não nasceu, contando-lhe o que deve esperar ao vir à luz. Com breves capítulos que tratam do mundo material e natural, ele descreve os mais diversos elementos com a precisão e a intensidade hipnotizantes que se tornaram sua marca. De forma sensível, relata também os dias ao lado de sua esposa e de seus filhos na zona rural da Suécia, baseando-se nas memórias de sua própria infância para dar uma perspectiva inigualável sobre a relação entre pais e filhos. Nada é pequeno ou grande demais para escapar de sua atenção.
As Convidadas, de Silvina Ocampo (Cia. das Letras, 264 páginas, R$ 79,90)
Segundo livro da autora argentina publicado no Brasil, As Convidadas reúne 44 contos breves em que fantasmas emergem de fotos, crianças surdas-mudas criam asas e o absurdo irrompe de fatos e objetos cotidianos para destroçar a monotonia das relações familiares. Uma das escritoras fundamentais do século XX, Silvina Ocampo vem sendo revalorizada com entusiasmo nos últimos anos. Seu nome é cada vez mais citado como referência por uma nova geração de autoras que tem alcançado protagonismo nas letras latino-americanas, e sua obra começa a sair da sombra de figuras como Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges, que faziam parte de seu grupo literário em Buenos Aires. As Convidadas, lançado originalmente em 1961, é considerado emblemático em sua maturidade estilística. As obsessões da escritora, como as crianças que agem de maneira enigmática e muitas vezes parecem mimetizar os adultos, chegam-nos já no primeiro conto, “Assim eram seus rostos”, até atingirem uma apoteose no texto que dá título ao livro. Nele, um garoto enfermo é deixado a sós com a empregada em seu aniversário de seis anos, quando recebe como convidadas meninas estranhíssimas, vindas sabe-se lá de onde. O desfecho é uma síntese do humor absurdo presente na prosa de Silvina, sempre atravessada por elementos insólitos e perturbadores.
Gabo & Mercedes: Uma despedida, de Rodrigo García (Record, 112 páginas, R$ 64,90)
O relato íntimo dos últimos dias de um dos maiores autores da literatura mundial, Gabriel García Márquez, e de sua esposa e musa inspiradora Mercedes Barcha, escrito pelo filho mais velho do casal, Rodrigo García. Em 2014, aos 86 anos, Gabriel García Márquez, um dos escritores de língua espanhola mais queridos do mundo e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, pegou um resfriado. “Desta, a gente não sai”, disse Mercedes Barcha, sua esposa havia mais de cinquenta anos, a Rodrigo, filho mais velho deles. Para tentar dar sentido ao período difícil que a família teria pela frente, Rodrigo começa a colocar em palavras detalhes daqueles dias que ficariam para sempre em sua lembrança. O resultado é uma crônica forte e emocionante dos últimos momentos do mestre latino-americano e de sua musa inspiradora, que nos deixou seis anos depois de perder seu amado Gabo. Com talento, respeito e delicadeza, Rodrigo García traça um retrato comovente e revelador de uma família que sofre com a perda de um ente querido e transforma uma das mentes mais brilhantes da literatura internacional em um memorável protagonista. Em um encarte com fotos, ele relembra os dias de glória do pai como escritor, momentos marcantes do casamento dele com Mercedes e da vida em família.
Desta vez, excepcionalmente, não recomendaremos nenhum livro de ficção, mas dois ensaios brasileiros e um livro de poesia em edição bilíngue. O de Jessé Souza fala de como o povo brasileiro foi estigmatizado por seus intelectuais. Sidarta Ribeiro fala sobre o fim do mundo e isto não é uma metáfora. Já a Prêmio Nobel Louise Glück vem com belos poemas que não chegam a ser leves, mas que se viram bem na escuridão (leia abaixo).
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Com texto de fácil leitura, Brasil dos Humilhados mostra as bases elitistas do pensamento social brasileiro dominante. Aquele mesmo que culpa o povo, supostamente inferior, pelas mazelas do país. O livro expõe como as elites econômicas e políticas se apropriam dos “intelectuais” para aumentar seu domínio sobre a população. Essa visão depreciativa do povo brasileiro foi determinada pelas ideias dos intérpretes mais importantes do país, como Sérgio Buarque de Holanda, e trazida até a atualidade por outros pensadores fundamentais, como Raymundo Faoro e Roberto DaMatta, influenciando a maior parte da inteligência nacional até hoje. Com esta legitimação científica, tal tolice se alastrou por toda a sociedade: das elites industriais, financistas e da mídia aos partidos políticos, da direita à esquerda. Isso fez com que crescessem estigmas sobre a suposta corrupção do povo, sobre a miséria criada por culpa própria e sobre a preguiça, criando uma autoimagem do Brasil como nação sem futuro e da percepção dos brasileiros como seres desprovidos de virtudes.
Mantido o rumo atual da vida na Terra, o futuro é impossível. Em seu novo livro, o autor de O oráculo da noite compartilha conhecimentos de cientistas, pajés, xamãs, mestras e mestres de saber popular, artistas e inventores que nos lembram da importância de sonhar coletivamente com o futuro do planeta. Há cerca de 100 mil anos, um grupo da espécie Homo sapiens fundou a linhagem que veio a conquistar todo o planeta. Uma estirpe violenta em que os mais fortes frequentemente oprimem os mais fracos, mas que também são capazes de muito altruísmo e extremados cuidados parentais. A constatação desse paradoxo é o ponto de partida de Sidarta Ribeiro em seu novo livro. Em Sonho manifesto, o renomado neurocientista denuncia a profundidade da crise ambiental e social ao mesmo tempo em que celebra a oportunidade única que temos hoje de expandir a consciência planetária. O caminho para esse sonho coletivo, diz o autor, é o resgate do melhor de nossa ancestralidade. Pesquisador inquieto, Ribeiro reúne dezenas de histórias de griôs da África ocidental, mestres de Capoeira, babalorixás, xamãs e pajés dos povos originários, além de dados sobre pesquisas científicas recentes e relatos das mais diversas tradições como budismo e taoismo.
Este é o primeiro livro da poetisa após ter sido laureada com o Prêmio Nobel de Literatura de 2020. Em edição bilíngue, esta é uma coletânea enxuta, de apenas quinze poemas. Neles estão os temas que consagraram Louise Glück como uma das maiores vozes da literatura contemporânea: a solidão, a exaustão, o trauma, as descobertas da juventude e as reflexões que acompanham o envelhecimento. Seus poemas — que mesclam ensaio, ficção, mitologia, psicanálise e filosofia, na forma de épicos condensados — são capazes de iluminar as fragilidades da alma humana. Receitas de inverno da comunidade é um livro poderoso sobre a vulnerabilidade. Ao refletir sobre a finitude, Louise Glück trata de dramas individuais que são comuns a todos nós: “Nunca fui muito boa com coisas vivas./ Com luminosidade e escuridão me viro bastante bem”.
1. Torre das Guerreiras e outras memórias, de Ana Maria Ramos Estevão
2. Um itinerário íntimo pela psicanálise lacaniana, de Luciano Mattuella
3. Faróis do Rio Grande do Sul — Um Registro Histórico e Fotográfico, de Cláudio Tarta
4. Sobrevidas, de Abdulrazak Gurnah
5. Como cuidar de um familiar com Alzheimer e não adoecer, de Leandro Minozzo.
6. Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus
7. O Avesso da Pele, de Jéferson Tenório
8. Os Supridores, de José Falero
9. Tudo sobre o amor, de Bell Hooks
10. Torto Arado, de Itamar Vieira Junior
Caprichamos! Desta vez sugerimos dois romances de mulheres que envolvem desejo. Desejo e mais desejo. E, ao menos em um dos casos, repressão ao desejo. Um da consagrada canadense Rachel Cusk e outro da brasileira Nara Vidal. Para complementar, uma obra clássica sobre cinema que tinha recebido apenas traduções parciais. Sim, caprichamos.
Uma excelente semana com boas leituras!
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M, escritora de meia-idade e de pouca expressão, está em chamas. O fogo é uma das imagens a que ela recorre para tentar explicar os acontecimentos que abalaram a vida pacata que leva ao lado do marido na propriedade em que moram, às margens de um pântano. Quem incendiou a rotina familiar foi L, um artista plástico que se hospeda na cabana em que o casal costuma receber artistas — a segunda casa. M está obcecada por L, e deposita nele expectativas diversas. A relação intrincada dos dois se desenvolve durante essa espécie de residência artística, compartilhada também por Brett, moça que L leva consigo, e pela família de M. Num relato retrospectivo, M conta episódios da estadia de L no pântano, temperando a narrativa com reflexões e experiências do passado. No lugar da observação atenta de Faye, narradora da trilogia (Esboço, Trânsito e Mérito) que garantiu a Cusk lugar de destaque na prosa contemporânea, vemos neste romance uma mulher se contorcendo com sua subjetividade, lançando dúvidas sobre si mesma.
Autor de clássicos como a série Kino-Pravda (1922-25) e o longa-metragem O homem com a câmera (1929), Dziga Viértov (1896-1954) foi pioneiro de uma linguagem própria para o cinema e um dos principais nomes da vanguarda soviética. Durante toda a sua vida praticou e defendeu o lema de seu amigo Maiakóvski, segundo o qual não há arte revolucionária sem forma revolucionária. Embora seja um dos diretores de cinema mais influentes do século XX, Viértov teve pouquíssimos escritos publicados em nossa língua e quase sempre em traduções indiretas. O presente volume busca reparar essa lacuna, reunindo noventa textos, vários deles inéditos, entre manifestos, roteiros, artigos, projetos, cartas e poemas, todos traduzidos diretamente do russo pelo organizador Luis Felipe Labaki, acompanhados de mais de cem imagens da Coleção Dziga Viértov do Österreichisches Filmmuseum de Viena. Uma joia!
Eva tem o diabo no corpo. Segundo corre na família, seu nome atrai maldade e pecado. Desde criança o demônio se manifesta: no jeito que ela anda, no jeito que olha e em tudo que faz. Sua infância é uma sucessão de benzimentos e rezas, sempre na tentativa de expurgar o diabo, que teima em possuí-la. Sob o cerco e o julgamento da avó e da mãe, Eva corre pelas ruas como quer. A saia é curta demais, a blusa marca demais os peitos, a perna aparece demais. Na cidade, acredita-se que em suas veias corre sangue do demônio. A dependência afetiva de Eva pela figura materna controladora manifesta-se como padrão para os relacionamentos abusivos que a narradora vive quando adulta. Situado entre a evocação do passado e o embate com o presente áspero, Eva é um romance magistral sobre a perda, mas também sobre o acúmulo de controle e violência que pode caber na relação entre mães e filhos e entre amantes.
Três livros bem diferentes. Sem bossa não há quem possa descreve os antigos bailes do interior e seus causos. Quando deixamos de entender o mundo é um grande sucesso editorial ao perfilar cientistas que perderam a razão (Karl Schwarzschild, Erwin Schrödinger, Werner Heisenberger e outros). O livro tem mais ou menos a mesma proporção de ficção e não ficção. A ficção aponta a estranheza, a ambiguidade, que a História, a ciência e a não ficção não admitem. Já Exílios e Poemas é uma demonstração do talento poético e da dramaturgia de James Joyce. Sim, foi muito difícil encontrar algo que una estes livro que não seja a (alta) qualidade.
Uma excelente semana com boas leituras!
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Imagine reunir em um mesmo lugar as melhores orquestras do Brasil e do exterior e as mulheres mais bonitas, elegantes e charmosas da região. Festas com atrações desse nível marcaram gerações. Em General Câmara, o glamour, a alegria e a diversidade dos bailes atraíam casais para a famosa pista do Cassino dos Operários. Tempo de romance ao som de inocentes marchinhas de carnaval, danças de rosto colado e troca de olhares que poderiam significar muito mais do que uma simples paquera. Neste livro, além e acima de tudo, o leitor se divertirá com relatos inéditos e engraçados, contados a rigor e a passeio. Pequenos flashes que exaltam lembranças que os anos não apagam.
Em 2012, o matemático japonês Shinichi Mochizuki publicou artigos provando uma das mais importantes conjecturas da teoria dos números. Quando sua prova foi considerada impossível de entender pelos maiores especialistas da área, Mochizuki terminou por se excluir da sociedade, evocando o autoexílio de outro matemático, o lendário Alexander Grothendieck. Haveria alguma conexão enigmática entre esses dois homens? Esse é o ponto de partida de “O coração do coração”, uma das narrativas que o chileno Benjamín Labatut reuniu neste livro que o tornaria uma sensação mundial. Elementos parecidos figuram nos outros textos: cientistas tão geniais quanto atormentados perseguem suas ambições ao custo da saúde física e mental, enquanto os desdobramentos pessoais e históricos de suas descobertas atravessam o tempo e o espaço. Baseando-se em biografias e teorias reais, mas recorrendo à ficção para produzir efeitos estéticos e associações de ideias, o autor explora em seus relatos o entrelaçamento entre a vida íntima e o desbravamento científico. Com um estilo em que ouvimos ecos de W. G. Sebald e Roberto Bolaño, o leitor pode sentir que está diante da montagem hábil de um belo quebra-cabeças.
Este volume reúne toda a poesia publicada em vida por James Joyce, a peça “Exílios” – que contém temas posteriormente explorados em Ulysses – e um conjunto de notas elaboradas pelo autor durante o processo de escrita. Antes da publicação de Ulysses, James Joyce lançou a peça Exílios em 1918. Nela, o autor explora temas que aparecerão em sua obra magna, como as relações complexas de adultério e desejo. Neste volume estão reunidas a peça e também sua produção poética, sendo possível ter uma visão mais ampla das ideias do autor não só sobre o exílio, como também sobre a própria literatura.
Além da peça e dos poemas, esta edição conta com um conjunto de notas que Joyce elaborou durante o processo de escrita e alguns fragmentos de diálogos não incluídos na versão final do texto.
Olá! Mais um mês chega ao final – já estamos em abril, é inacreditável – e com isso temos a lista dos livros mais vendidos da Bamboletras em março!
1 – Faróis do Rio Grande do Sul, de Cláudio Tarta.
2 – A Vida Disfarçada de Contos, de Sandro Farias.
3 – Violeta, de Isabel Allende.
4 – Dicionário de Porto-Alegrês, de Luís Augusto Fischer.
5 – Os Supridores, de José Falero.
6 – O Avesso da Pele, de Jéferson Tenório.
7 – Tudo é Rio, de Carla Madeira
8 – Mas em que Mundo tu Vive, de José Falero.
9 – Banzeiro Òkotó, de Eliane Brum.
10 – Marrom e Amarelo, de Paulo Scott.
Não foi planejado, simplesmente aconteceu de sugerirmos três excelentes livros de mulheres: a clássica Marguerite Duras, mais Elisabeth Roudinesco e Ana Maria Ramos Estevão. Duras vem com seu Hiroshima meu Amor, nunca dantes traduzido em nosso país e que deu origem ao filme de Resnais. Roudinesco analisa As lutas identitárias que, segundo ela, reduziram suas áreas de atuação, isolando-se. E o livro de Ana Maria Estevão fala da chamada Torre das Donzelas (argh!), o local onde ficavam as presas políticas da ditadura militar brasileira. Ana foi uma delas.
Uma excelente semana com boas leituras!
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Publicado pela primeira vez em português, Hiroshima meu amor foi concebido originalmente como roteiro para o filme dirigido por Alain Resnais. O filme foi aclamado internacionalmente após seu lançamento em 1959, tendo recebido o Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cannes e o Prêmio da Crítica de Cinema de NY. A história de um caso de amor entre um arquiteto japonês e uma atriz francesa que visita o Japão para fazer um filme sobre a paz apresenta uma dupla dimensão: uma íntima e uma histórica. Essas duas dimensões se sobrepõem através da evocação à memória, ao passado, ao esquecimento e ao trauma. Alain Resnais e Marguerite Duras tematizam Hiroshima a partir da premissa de que isto seria impossível após os horrores da bomba atômica. E nessa tentativa de captar algo que testemunho nenhum pode comunicar, que está na essência do sentimento da perda e do trágico, eles realizam uma obra-prima única, de um lirismo incomparável. Este livro apresenta o roteiro e os diálogos originais do filme, que realizam magistralmente o pedido de Resnais feito a Duras: “Faça literatura. Esqueça a câmera.”
Ao fazer um balanço do tempo presente e das várias definições de identidade hoje possíveis, a historiadora e psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco analisa neste livro a natureza e os perigos do que chama de derivas identitárias. Depois de vinte anos, os movimentos de emancipação parecem ter mudado de direção. Já não se perguntam como transformar o mundo para que ele seja melhor, mas dedicam-se a proteger as populações daquilo que as ameaça: desigualdades crescentes, invisibilidade social, miséria moral. As pessoas exibem seus sofrimentos, denunciam as ofensas, dão livre curso a seus afetos, como marcadores identitários que exprimem um desejo de visibilidade. Em contraponto, consolida-se uma outra maneira de submeter-se à mecânica identitária: o isolamento. O Eu soberano é um livro provocador em que a autora se pergunta: o que fez com que os engajamentos emancipadores de outrora, notadamente as lutas anticoloniais e feministas, se fechassem de tal forma sobre si mesmas? À luz de Freud e Lacan, das obras de Sartre, Simone de Beauvoir, Aimé Césaire, Fanon, Judith Butler, Foucault e Derrida, Roudinesco tece os fios que unem os debates acerca de identidade, gênero, raça, interseccionalidade, pós-colonialismo, nacionalismo, República, extremismo e religião.
1970, São Paulo, Presídio Tiradentes: na ala dos presos políticos, as mulheres eram encarceradas num prédio alto, conhecido como a Torre das Donzelas. Foi lá que Ana Maria Ramos Estevão, estudante de Serviço Social envolvida com o movimento estudantil e a organização Ação Libertadora Nacional (ALN), passou nove meses de sua vida. Semanas antes, havia sido capturada pelos órgãos de repressão da ditadura brasileira, passando por torturas e interrogatórios. Ao longo de sua trajetória como militante, conheceu tanto os agentes do regime, como o delegado Sérgio Paranhos Fleury e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, quanto seus oponentes, como Paulo Freire, que se tornaria referência mundial em educação, e Dilma Rousseff, presidenta do Brasil três décadas depois. Este livro reúne as memórias de uma mulher que subverteu a delicadeza das “donzelas”, vivendo como guerreira num dos períodos mais sombrios da História do Brasil.
Talvez pela primeira vez na história desta newsletter, não colocaremos nenhum livro de ficção em nossas sugestões, culpa dos bons lançamentos em outras áreas. O primeiro é uma suma dos ensaios sobre literatura de Philip Roth. É imperdível, garanto-lhes. O segundo é um belo estudo visual sobre o grafitti porto-alegrense. E o terceiro, mais uma narrativa do extraordinário Wolfram Eilenberger, desta vez sobre o principal grupo de filósofas que surgiu na primeira metade do século passado.
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Reunindo mais de trinta ensaios, entrevistas e discursos, Por que escrever? traz aos leitores um Philip Roth raro e igualmente excepcional. Fora dos artifícios do romance, ele aqui está mais próximo de si mesmo. Philip Roth foi um dos mais notáveis escritores de língua inglesa do século XX. Dono de uma carreira literária incomparável, dedicada sobretudo à ficção, ele ainda nos legou uma extraordinária coleção de textos não ficcionais — muitos deles para responder a provocações de toda natureza, agradecer o recebimento de algum prêmio ou chorar a morte de um amigo. O resultado dessa produção é uma série de declarações e comentários sobre seu trabalho e dos escritores que admirava, seu processo criativo e a cultura americana. Último volume da obra completa do autor publicado pela Library of America antes de sua morte em 2018, Por que escrever? traz o indispensável de sua não ficção, reunida pela primeira vez em livro: estudos sobre a obra de Kafka e os judeus na literatura, palestras sobre os seus romances mais polêmicos e balanços de uma vida dedicada à escrita.
O livro celebra a capital dos gaúchos a partir do registro de sua arte urbana, principalmente graffitis, que foram captados pelo celular do autor. Nesse sentido, Poalaroides faz um inventário de dez anos de registro fotográfico, com uma variedade de autores e formatos que representam hoje o que a cidade tem de mais significativo nessa arte. O que iniciou como um registro solitário, cotidiano, no final contou com a curadoria visual do artista visual Luís Flávio Trampo, uma referência na arte do graffiti porto-alegrense. O curador comenta a força desse movimento cultural no sul do Brasil. “Essa arte sem fronteiras tem como uma de suas principais características a fácil integração de seus adeptos, que são como agentes multiplicadores dessa manifestação popular. As intervenções nas ruas de Porto Alegre vão além da tinta spray. Muitos artistas (ativistas) usam diversas técnicas e suportes para registrar sua arte, seja colando adesivos e cartazes, seja pintando de uma forma livre. Muros que embelezam e denunciam, expressando uma cidade que pulsa e vibra.”
A década de 1933 a 1943 marcou um dos capítulos mais tenebrosos da humanidade. Em meio ao horror da ascensão do nazismo e da carnificina da Segunda Guerra, quatro mulheres — Simone de Beauvoir, Simone Weil, Ayn Rand e Hannah Arendt — libertaram-se dos grilhões do gênero e provaram que a emancipação do pensamento podia ocorrer mesmo em meio a situações extremas. Com grande habilidade narrativa e um equilíbrio magistral entre a apresentação biográfica e a análise acurada de ideias, Wolfram Eilenberger nos oferece a história de quatro vidas hoje legendárias que, em meio à convulsão, mudaram nossa forma de entender o mundo e lançaram as bases para uma sociedade muito mais livre. Seus reflexos chegam até os nossos dias em temas como gênero, identidade, religião, liberdade, sexo e autonomia.
Recebemos quase 100 exemplares do livro sobre os Faróis do Rio Grande do Sul e vendemos todos em 4 dias! O livro é deslumbrante! Neste nosso “recomenda”, este livro é acompanhado pelo relançamento de um romance do Prêmio Nobel de Literatura de 1983 William Golding e pelo surpreendente Cinco ou seis dias, um grande achado da Dublinense. Sim, o recomenda de hoje está muito bom!
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Um livro lindo e um grande sucesso! Este projeto aborda a iluminação das rotas náuticas costeiras e lacustres e o seu papel no desenvolvimento regional e econômico desde a época da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. O extenso registro fotográfico dos faróis da região, com enfoque nos seus aspectos artísticos e paisagísticos, além dos detalhes de sua estrutura interior e dos seus equipamentos seculares de iluminação, demonstra, de maneira inédita em nossa literatura, a preocupação com uma obra completa e que contribua para a preservação desses patrimônios históricos e arquiteturais. O livro traz, ainda, entrevista com o último descendente em atividade de uma geração de faroleiros que marcou a história do Rio Grande do Sul, resgatando essas figuras míticas que, anonimamente e com muita dificuldade, vêm dedicando suas vidas ao árduo e solitário trabalho de iluminar o caminho dos navegantes.
William Golding — Prêmio Nobel e autor do clássico O Senhor das Moscas — mergulha fundo na alma humana para revelar seu lado mais sombrio. Em Ritos de passagem, vencedor do Booker Prize em 1980, o autor mescla a forma epistolar à narrativa histórica para mostrar as fissuras que surgem das diferenças de classe e de cultura. Um romance extraordinário. Em uma viagem à Austrália, no início do século XIX, Edmund Talbot mantém um diário, no qual narra suas aventuras para entreter o tio que ficou na Inglaterra. Talbot é um jovem com uma carreira promissora à frente, no serviço público da Coroa Britânica. Cheio de mordacidade e algum desprezo, ele relata o dia a dia dos marujos e oficiais e descreve os emigrantes em busca de uma nova vida. A bordo de um navio da Marinha inglesa, tripulantes e passageiros têm de conviver em um espaço exíguo, e a tensão entre eles parece cada dia maior. E, aos poucos, os companheiros de viagem começam a exibir sua verdadeira — e sombria — natureza. A situação se agrava quando o jovem e aparentemente ridículo reverendo Colley atrai a antipatia e animosidade dos marinheiros, e a vergonha e humilhação podem se tornar mais perigosas do que o próprio oceano.
Um livro muito interessante sobre juventude e escolhas. João e Dante são dois amigos recém-saídos da universidade no despertar dos anos 2000. São idealistas e cheios de planos. Enquanto Dante acredita que pode fazer sua parte através de uma empresa inovadora, João tenta entender o mundo a partir da vivência nas ruas. De um lado, a ideia de que uma mudança real possa acontecer de dentro do sistema; do outro, o estado de constante vigilância e o medo de quem decidiu se juntar ao elo mais frágil da sociedade. Entre ideais compartilhados e ações opostas, os dois tentam manter a amizade e os sonhos enquanto lidam com a… falência das suas escolhas.
Novamente, três notáveis livros com pouco a ver entre si. O primeiro é um lançamento, uma estreia de autor gaúcho. O segundo é um clássico esquecido — foi publicado há sete décadas e caiu no limbo. E o terceiro é a revisão da vida de um gênio absoluto.
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Mosaico é uma arte feita com pequenos pedaços de materiais que são minuciosamente encaixados para formar um todo. Como num mosaico, A Vida Disfarçada de Contos tem oito contos (ou episódios) com ligações entre si e que conduzem o leitor a caminhar sobre a fronteira entre veracidade e fantasia. Paixões mal resolvidas, rodas de samba, apostas feita na mesa do bar, amizades, a magia da cidade grande ou as lendas do Partenon em Porto Alegre — estes são alguns dos elementos que o autor explora. Com prosa coloquial, Farias apresenta histórias que puxam o leitor para dentro do livro, criando um ambiente onde ele, repentinamente, vê-se torcendo por uma aposta, escrevendo cartas de amor ou desejando o improvável.
Publicado em 1946, A rua, de Ann Petry (1908-1997), tornou-se rapidamente o primeiro romance de uma autora negra a bater a marca de 1 milhão de exemplares vendidos nos Estados Unidos – e bateu com folga: vendeu 1,5 milhão de cópias. A autora nem sempre foi devidamente lembrada, apesar de ter alcançado um equilíbrio raro: uniu observação social implacável a características do melhor thriller, sendo comparada a clássicos do romance policial como Raymond Chandler e Patricia Highsmith. Mais de sete décadas depois de sua primeira edição no Brasil, o romance de Ann Petry recebeu nova tradução. A maior parte do enredo se desenvolve em uma rua, a 116th Street, que tem papel-chave na vida da protagonista, Lutie Johnson, que tenta sobreviver com um filho de 8 anos no tumultuado bairro nova-iorquino do Harlem. Nas palavras de Tayari Jones, “a 116th Street é a resoluta antagonista e representa a intersecção entre racismo, sexismo, pobreza e fragilidade humana”.
Denis Diderot foi um dos intelectuais mais vibrantes que existiram. E é cada vez mais nosso contemporâneo. O pensador e escritor francês foi petulante ao desafiar muitas verdades de seu tempo. Nesta biografia, Andrew S. Curran descreve a relação atormentada de Diderot com Jean-Jacques Rousseau, sua curiosa correspondência com Voltaire, seus casos apaixonados e suas posições frequentemente iconoclastas. Este livro revela de maneira brilhante como a turbulência pessoal do escritor foi uma parte essencial de seu gênio e de sua capacidade de ignorar e superar tabus, dogmas e convenções. Numa prosa viva e muito bem embasada em pesquisas, Curran traça o itinerário intelectual de Diderot.