Atrás do balcão da Bamboletras (LVII)

Atrás do balcão da Bamboletras (LVII)

Estou ouvindo cada um dos meus CDs — são mais de 3 mil — e chegou a vez da Obra Completa para Órgão de meu tio Sebastião Ribeiro, também conhecido como Johann Sebastian Bach (vai ver no dicionário o que significa Bach, vai agora, vai!).

São 12 CDs e eu estou achando muito estranho ouvir órgão às vezes sozinho dentro de uma igreja. Agora chegou uma cliente aqui e falei de minha estranheza para ela. Ela disse que não me achava com cara de pastor. E me olhou nos olhos com tal intensidade que comecei a pensar se ela não teria alguma perversão que incluísse… órgãos, talvez.

Importante dizer que sou uma natureza fiel. E um velho de 67 anos.

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Atrás do balcão da Bamboletras (LVI)

Atrás do balcão da Bamboletras (LVI)

O carteiro chega aqui na Livraria e me entrega um embrulho. Fico feliz ao abrir. Era um Nossa Parte de Noite que estava encomendado há séculos. Então ele olha pra mim e diz que eu nunca vou ter Alzheimer. Pergunto por quê.

— Quem ouve música clássica aumenta o número de sinapses.

Dou uma discreta risada.

— A ECT está empregando neurologistas como carteiros?

Ele sorri:

— Eu sei das coisas.

Neurons in the head – flight, neuroactivity, synapses, Neurotransmitters, brain, axons

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Atrás do balcão da Bamboletras (LV)

— Tem “O Jardim das Aflições”, do Olavo de Carvalho? — pergunta o jovem com uma carinha engomada de MBL que vou te contar.

— Não.

— E dá para encomendar?

— Conheço uma livraria que encomendaria pra ti. É de um bolsonarista. É a livraria X. É incrível mas o livreiro é bozo.

— E vocês não encomendam?

— Prefiro não — disse eu, pensando em Bartleby –, acho pernicioso.

Outro cliente atrás dele tapava o rosto, rindo. Eu permanecia impávido.

— Tá bom — disse o xófem.

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Atrás do balcão da Bamboletras (LIV)

Devíamos estar ali pelo início de junho. Houvera a enchente de maio e todo mundo estava deprimido, pois ela atingira, direta ou indiretamente a todos. A livraria, claro, estava com poucos clientes e a gente bem desesperado. Aliás, deixa pra lá… Mas a situação de muitos cães era ainda pior. Centenas ou milhares fugiram e estavam perdidos nas ruas.

Numa tarde nublada, por volta das 15h, saí da livraria para olhar o céu e dei de cara com um simpático cão, meio grande e preto. Não era um viralatão bonito, mas havia muita vida e esperteza naquele corpo. Acho que ele teve a sensibilidade de ver que eu fiquei com pena dele. E entrei de volta para a livraria.

Quando fomos fechar, às 19h, o Bruno me chamou. Queria perguntar o que deveria fazer com aquele cachorro na nossa porta. Ele estava em pé, bem sedutor, abanando o rabo pra nós. Bruno perguntou se eu queria ficar com ele. Respondi que temos o exclusivista Vassily Kandinsky, o gato da Elena, que entraria em crise com a companhia. (Ele não suporta outros gatos e eu sou mal e mal aceito).

— OK, então ele é meu.

E o Bruno chamou o cachorro, que o acompanhou até seu apartamento, sem coleira, a umas 6 quadras da livraria. Depois me mandou fotos do cachorro comendo e bebendo água. Ficou muito feliz e passou a chamá-lo pelo nome ultrachique de Besançon.

Viraram uma dupla. Digno de seu nome, Besançon mostrou-se muito educado. Jamais fez xixi em casa, por exemplo. Só que, na ausência do Bruno, pulava a janela do apartamento de primeiro andar e fazia passeios pela marquise. Óbvio que achava que aquilo era uma parte divertida do apê. Afinal, dava para ver as pessoas lá embaixo indo e vindo.

Um dia, o Bruno estava voltando do almoço quando viu um monte de gente na frente de seu prédio. Iam chamar os bombeiros porque um louco tinha deixado um cachorro na marquise. Impossível que o cão sozinho tivesse chegado ali. E o Bruno viu o Besançon todo feliz com o show. Latia e balançava o rabo, totalmente realizado com o sucesso alcançado.

Então o Bruno gritou:

— Já pra casa, Besançon!

O cachorro levou um susto e pulou pelo vãozinho da janela que ele mesmo tinha conseguido abrir com o focinho. Alívio geral.

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Atrás do balcão da Bamboletras (LIII)

Atrás do balcão da Bamboletras (LIII)

Entra um cliente esbaforido e pergunta pelo livro X. Diz que precisa dar de presente hoje para sua mulher, que faz aniversário. Eu lhe respondo que vendi o último à tarde, depois olho para trás e vejo que há um exemplar na reserva. Eu prometi para o cliente que reservou entregar-lhe o livro entre 10 e 12h amanhã. Mandei até uma foto do livro, idiota que sou. Chega aquele momento de reflexão que começa por PQP.

— PQP, o cara está aqui, quer o livro. E o livro está ali.

Já notei que todo livreiro gosta de correr riscos. Nem é pela grana, é pela função mesmo, pelo prazer da logística alucinada de correr atrás. Penso que posso ir cedinho na distribuidora, pegar o livro — se houver… — e abrir a Livraria um pouco depois do horário.

Retiro lentamente o livro da prateleira das reservas e digo para o cliente que olha, este está reservado e coisa e tal. O cara é um bom sujeito e diz que não quer me prejudicar junto a outro cliente. Eu reflito novamente, desta vez começando por f°da-se.

— F°da-se, dou um jeito.

E vendo o livro.

Enquanto passamos o cartão, ele me pergunta sobre quem escreve aquelas resenhas no perfil da Livraria Bamboletras. Eu digo que sou eu. E ele diz:

— Muito, mas muito melhor que os textos das editoras. A gente fica se coçando pra ler os livros.

Eu agradeço e digo que se não escrever algo, é como se não tivesse finalizado a leitura.

Então, amanhã pela manhã, às 8h30, estarei correndo para fazer a substituição. Se vocês verem um louco correndo pelo centro de Porto Alegre, há boas chances de ser eu.

.oOo.

Deu tudo certo, mas com emoção. Fui na distribuidora e não tinha o livro. Pedi em outra e tinha, mas o motoboy que foi buscar teve im contratempo — o cabo do acelerador da geringonça se rompeu. Mas entregamos o livro sem problemas ao meio-dia. O livro era fácil de achar: era o excelente Bambino a Roma, de Chico Buarque.

 

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Atrás do balcão da Bamboletras (LII)

Atrás do balcão da Bamboletras (LII)

9h de sábado. Desço ainda com sono para a Livraria Bamboletras. O telefone toca. Nem tinha ligado o computador. Atendo e do outro lado está uma voz apressada perguntando se eu tenho o último livro do Chico Buarque. Respondo que sim.

— Então vou mandar um Uber aí AGORA. Quero fazer uma surpresa para o café da manhã da minha esposa. Faz uma embalagem de presente enquanto eu faço o pix.

Ainda estava meio dormindo quando o motoboy chegou.

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Atrás do balcão da Bamboletras (LI)

Eu estava na Livraria Bamboletras e subi correndo para terminar um café. Quando cheguei na cozinha, a Elena me perguntou:

— Quem estava tocando piano lá embaixo? Tocava muito bem.

Pois bem, eu não sei quem estava tocando. Ou melhor, sei muito bem, mas ignoro o nome dela. Era uma senhora de mais de oitenta anos. Sei que ela entrou com sua filha e neto. Olhou para o piano e disse que era pianista. Vi que suas mãos tremiam bastante, só que li Alucinações Musicais, brilhante livro de Oliver Sacks, e sabia que ela deixaria de tremer quando pusesse as mãos no teclado.

Ofereci o piano pra ela tocar. Ela olhou para a filha e perguntou se dava tempo pra ela dar uma experimentada antes do aniversário ao qual iriam.

A filha disse claro mãe, vai. Ela iniciou hesitante, obviamente não conhecia o piano. Na segunda música já estava perfeitamente adaptada e nos fez ouvir um interessante Czardas, de V. Monti.

Ficou tão feliz com o piano que não parava de elogiá-lo e queria dar presentes pra todo mundo, pro neto, pra filha, pro genro que chegou depois, pra todo mundo.

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Atrás do balcão da Bamboletras (L)

Atrás do balcão da Bamboletras (L)

De manhã, bem cedo, a moça me liga. Diz que está em Londres e quer dar dois presentes — um para seu pai e outro para um amigo, ambos aqui em Porto Alegre.

Digo-lhe que Londres é a cidade que mais amo no mundo. Ela conta que a cidade está linda no verão, toda florida. Eu fui lá 4 vezes, passei boas temporadas, mas sempre no inverno.

Ela me pede livros impossíveis, fora de catálogo ou jamais traduzidos, mas logo entramos em acordo sobre os presentes. Ela faz um pix e me diz que passa os dias nos parques, estudando. Tem 25 anos. Eu recebo o pix e digo que temos um solzinho bem tímido aqui. Ela quer saber minha idade, chuta que eu tenho 30 anos. Eu lhe digo que sou um velho de 66. Ela dá uma gargalhada e diz que eu sou mais velho que o pai dela, mas que minha voz é jovem. Minha hora de rir.

Ela repete que o livro do pai tem que entregue na segunda porque é o dia de seu aniversário.

Despedimo-nos e eu fico pensando naquela entrada do Hyde Park, vindo da Exhibition Road. Logo ela me manda os endereços de entrega pelo WhatsApp e uma foto. Tenho quase certeza que é do Green Park.

 

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Atrás do balcão da Bamboletras (XLIX)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLIX)

Às vezes acontecem coisas incrivelmente bonitas por aqui. Dia desses, entrou uma senhora na Livraria Bamboletras. Depois eu soube que seu nome era Circe, o que me lembrou da Odisseia de Homero e do Ulysses de Joyce. Ah, esses caras metidos a literatos, né? Mas esqueçam, isso não interessa.

O fato é que ela olhou a escada que leva ao andar de cima e vieram-lhe lágrimas aos olhos. Eu achei que ela estava triste, só isso, e me virei de costas para não constrangê-la. Afinal, ela não estava olhando para mim e sim para a escada. Então, ela chegou ao balcão e disse:

— Vocês mantiveram a escada do tempo de meu avô…

Aí não entendi mais nada. A Bamboletras está em uma ex-igreja. Que negócio é esse de avô? Circe tratou de se refazer.

— Te explico. Meu avô construiu esta casa, depois veio a igreja e reformou tudo, colocando vitrais, torres e derrubando algumas paredes. Ele construiu isso aqui na primeira metade do século passado.

E ela começou a me contar como era tudo — o piano que ficava debaixo da escada, o local onde as visitas eram recebidas, onde ela dormia, as já apagadas marcas no reboco com as “assinaturas” de todos os netos, a sacada que não existe mais e que ficava voltada para o pátio…

E então ela me contou a mais bela das histórias.

Sua mãe, quando jovem adolescente, ia frequentemente até a sacada, para tomar sol, ler e estudar. Ao lado, ficava um edifício com suas janelas. Aliás, ele ainda está no mesmo lugar. Um jovem rapaz que morava num dos apartamentos costumava observar aquela moça que ficava ou flanava pela sacada, que era enorme. Um dia, o rapaz resolveu que tinha que falar com ela de qualquer maneira. Escreveu declarações de amor numa folha de caderno, enrolou a folha numa batata para que não fizesse muito barulho ao cair e atirou o artefato quando a moça estava por ali. Ela pegou a batata, leu tudo e acabou vendo o rapaz na janela.

Ela deve ter gostado, pois mandou a batata de volta com algumas perguntas, interessando-se pelo rapaz. A troca de batatas seguiu por um longo tempo, pois namorar não era como agora.

Bem, esses dois são os pais de Circe.

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Atrás do balcão da Bamboletras (XLVIII)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLVIII)

Várias e boas conversas ocorreram hoje à tarde na Livraria Bamboletras. Um velho professor de literatura conversou comigo e com quem estava próximo sobre o “balaio de preconceitos” que aflorou nos últimos dias. Há os bolsonaristas que criticam O Avesso da Pele sem tê-lo lido, claro, mas há gente mais próxima de nós que só consegue falar nos poucos palavrões do livro e que o acusam de ser, pasmem, um livro racista por causa de uma cena de séquiço da qual, sinceramente, não lembro. A cena seria racista ao inverso! Ou pornográfica… Qualquer coisa serve para acusar. E meu amigo perguntou: quantos livros acusados de pornográficos se tornaram clássicos para a geração seguinte? Um monte. É só o tempo de esvaziar o balaio.

O estranho é que a história do pai sumiu da boca desses caras. O cerne virou coisa secundária. A falência educacional de nosso país descrita no Avesso é terciária. O balaio transformou o livro em outra coisa.

Os outros papos foram mais legais, excetuando-se aquele sobre Israel…

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Nas redondezas da Bamboletras (sábado, 20/01/2024)

Nas redondezas da Bamboletras (sábado, 20/01/2024)

Mesmo para uma pizzaria popular como a Domino’s, a postura da mulher era por demais à vontade. Sentada, com as costas encostadas na parede e com os pés descalços sobre outra cadeira, ela parecia estar em casa.

Estava com, supostamente, seu companheiro e eu sentei bem na frente dela, em outra mesa. Ele falou primeiro.

— Até que horas a gente vai ficar aqui?

Ela respondeu:

— Até eles fecharem à meia-noite.

Eram 20h15. Eu olhei para ela, que passou a falar comigo:

— É que estamos sem luz em casa, então é melhor ficar beliscando uma pizza e bebendo cerveja — riu. — Aqui pelo menos tem luz e ar condicionado.

Este é um retrato de Porto Alegre pós-temporal.

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Atrás do balcão da Bamboletras (XLVII)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLVII)

Vocês sabem o motivo do nome Bamboletras? Pois é, vem de bambolê das letras. Sim, nossa livraria foi concebida por sua grande fundadora Lu Vilella como dedicada à literatura infantil. Depois ela estendeu a curadoria para os pais dos pequenos e o resto vocês sabem.

Durante nossos quase 28 anos — fazemos aniversário em abril — e até hoje, mantivemos especial cuidado com a área de infantis.

Vejam a querida vovó Jussara Musse com nossa cliente Isabel (5 meses) em foto desta semana. Assim se fazem leitores, mesmo que no começo eles estejam mais interessados em morder os livros…

Outro dia, publicaremos uma foto da irmã gêmea da Isabel, a Beatriz. Não queremos semear ciúmes entre as meninas e nem críticas da mamãe Carolina Musse Branco!

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📍 Visite-nos na Av. Venâncio Aires 113, de segunda à sábado, das 9h às 19h, e aos domingos, das 11h às 17h.
🚴🏾 Pede tua tele ou converse conosco: (51) 99255 6885 (WhatsApp).
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🚗 Ah, temos convênio com o estacionamento que fica aqui logo depois, no número 133 da Venâncio.

 

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Igrejas que se tornaram livrarias (I)

Igrejas que se tornaram livrarias (I)

No Brasil, não sei de outra igreja que tenha se tornado livraria além da nossa Bamboletras. Mas há vários casos no resto do mundo. Estes locais laico-religiosos preservam vitrais e altares. Foi o que fizemos na nossa linda igrejinha da Av. Venâncio Aires, em Porto Alegre. É claro que os exemplos que vou começar a mostrar aqui são de enormes prédios históricos localizados em sua maioria na Europa. A briosa Bamboletras é muito menor, claro, mas quem já nos visitou volta, pois sabe que o ambiente é acolhedor, bonito e tem cultura, além de uma excelente curadoria, pois quem atende também é leitor.

Essa foto é da Bamboletras.

Polare Maastricht (Maastricht, Holanda)

Funcionando numa igreja de 700 anos, a Polare Maastricht, na cidade de Maastricht, Holanda, deixou intacta toda a estrutura do edifícios. Tetos pintados, órgãos, sacristias e vitrais convivem com prateleiras e outros móveis modernos, sem serem tocados por eles. Vamos dar uma olhada nela?

A livraria está constantemente nas listas de mais bonitas do mundo e já foi considerada a mais bela de todas pelo The Guardian. Aberta em 2007 sob o nome Selexyz Dominicane, ela agora pertence a uma rede de livrarias e se chama Polare Maastricht. As modernas estantes de três andares, com passarelas e escadas, integram-se ao maciço edifício e, como dissemos, não encostam nas paredes nem em nenhuma outra parte da estrutura original, para não danificá-la. O café fica no antigo santuário da igreja.

 

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Atrás do balcão da Bamboletras (XLVI)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLVI)

18h10

– Vou comprar esse livro pro meu pai e depois eu leio.

Eu sorrio em resposta.

18h32

– Vou comprar esse livro pro meu pai e depois eu leio. Normal, né?

Eu sorrio mais largamente e digo que tal estratégia já é um clássico.

19h05

– Vou comprar esses livros pro meu pai e depois eu leio. Sempre quis ler essa edição de luxo do Ulysses 100 anos.

Olho boquiaberto pro sujeito.

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Fica a dica.

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Arte: Tietbo

 

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Um livro

A Livraria Bamboletras é um dos lugares mais legais de Porto Alegre, mas está em crise financeira. A crise não foi causada pela mudança para a nossa bela e inusitada sede atual, tudo começou com a pandemia em 2020. Depois tivemos uma lenta recuperação em 2021, só que a surpresa de como começou a ser feita a reforma do Nova Olaria complicou demais nossa vida. Aqueles tapumes deram a todos a impressão de que não havia mais ninguém funcionando no shopping. E nós ainda estávamos lá, pulsando.

Fomos para um espaço que era uma igreja. Estamos preocupados, mas muito contentes com o que ainda estamos construindo. Queremos recebê-los!

Não estamos longe de atingir o equilíbrio, mas, se não o alcançarmos, sua falta pode nos impedir de nos tornarmos aquilo que sonhávamos — sermos uma referência ainda maior na área cultural da cidade, recebendo não somente lançamentos de livros como grupos de leitura, pocket shows e, quem sabe, uma parceria para um mini café.

Ah, se você, que está lendo este texto, comprasse um livrinho por mês conosco! Ou desse um de presente! Ah, você também pode fazer um pix para que fique um crédito pra você. Ou se fazer um pagamento mensal que também gere crédito. Livros são coisas boas! Sim, sei, está chovendo hoje, mas temos WhatsApp, entregadores, correio, e-mail. E, dizem, haverá dias sem chuva.

(Lembrem que o Dia dos Pais está aí!).

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A incrível história da livraria que sobreviveu à pandemia e se mudou para uma igreja

A incrível história da livraria que sobreviveu à pandemia e se mudou para uma igreja

Por Marco Weissheimer no Sul21

Livraria Bamboletras se mudou para o prédio de uma antiga igreja localizada no bairro Cidade Baixa. Foto; Luiza Castro/Sul21

Uma das mais tradicionais livrarias de Porto Alegre, a Bamboletras estava há 26 anos instalada no Nova Olaria, um também tradicional centro comercial e espaço cultural da Cidade Baixa. Os últimos dois anos e meio foram de fortes emoções, imprevistos e muita tensão para o livreiro Milton Ribeiro e para todo o grupo de funcionários da livraria. No dia 19 de março, a Bamboletras foi obrigada a fechar as portas para o atendimento ao público, com o início do processo de isolamento social causado pela pandemia da Covid-19. O distanciamento mudou totalmente a forma de operação da Bamboletras, uma livraria que, até então, atendia o público diretamente na sua sede no Nova Olaria, e teve que passar a trabalhar via telefone, tele-entrega, whatsapp e outros dispositivos virtuais.

Assim como aconteceu com a maioria das livrarias e outros estabelecimentos comerciais, a Bamboletras ficou bastante combalida financeiramente em 2020. “Em 2021, a gente estava começando finalmente a respirar quando recebemos a notícia de que o Nova Olaria seria derrubado para a construção de um novo edifício. Foi uma dura notícia para nós. Depois de passar um ano dificílimo, ficamos sabendo que teríamos que sair do Novo Olaria”. Após a frustração inicial com a notícia, Milton Ribeiro e sua equipe começaram a busca de uma nova sede para a livraria. Bernardo, filho de Milton, descobriu, próximo à rua Lima e Silva, onde estava localizado o centro comercial que está sendo demolido, o prédio de uma pequena igreja que estava para alugar.

Milton Ribeiro: “Ainda fico meio surpreso. Sou o proprietário de uma livraria dentro de uma igreja”. Foto: Luiza Castro/Sul21

O prédio, localizado na rua Venâncio Aires, nº 113, pertence à Igreja Nova Apostólica, uma igreja protestante restauracionista surgida na Alemanha em 1863, que se baseia na Bíblia conforme a interpretação dos apóstolos e chegou ao Brasil em 1928, com uma missão numa comunidade alemã que vivia no bairro de Santana, em São Paulo.

Em um primeiro momento, Milton admite que achou a ideia muito estranha. “Uma igreja?” – questionou. “É uma ideia meio europeia. Na Alemanha e na Holanda, é comum prédios de igrejas se tornarem outra coisa, principalmente livrarias. Me deu um frio na barriga, fiquei pensando que poderia ser um lance muito ousado”, conta. Mas a ideia ousada e inusitada acabou virando realidade e, a considerar os primeiros dias de atividade na nova casa, está dando certo. “Estamos aqui há quatro dias (a conversa com o Sul21 ocorreu na quarta-feira, 20 de julho) e as pessoas estão gostando muito e recebendo super bem a novidade”.

Ele destaca ainda que foi muito bem tratado pelos donos do prédio, que gostaram da ideia de que o espaço que abrigava a Igreja Nova Apostólica passasse a ser ocupado por uma livraria. “Não me pediram carteirinha de crente nem nada do tipo, a gente se respeitou bastante e a ideia foi acolhida por eles”. Por enquanto, a Bamboletras ocupa a sala central do andar de baixo, mas há outros espaços no andar de cima, onde morava o padre, um longo corredor lateral e um pátio arborizado nos fundos. Milton planeja utilizar esse pátio para realizar lançamentos de livros e outros eventos, principalmente durante o verão. Além disso, conta ainda, muitos clientes estão pedindo, “com uma certa insistência e veemência”, que a livraria abrigue um café também. “Tem que ter o cheiro do café aqui dentro”, rogou uma cliente. A equipe da Bamboletras está pensando no assunto. “Vamos ver se a gente consegue implantar essa ideia nós mesmos ou em parceria com alguém”, diz Milton.

Livros passaram a conviver com belos vitrais coloridos. Foto: Luiza Castro/Sul21

O livreiro ainda está assimilando todo o simbolismo envolvido na mudança de sede da livraria para uma igreja, no momento em que o país vai saindo do isolamento social provocado pela pandemia e sofre um processo de desmonte de políticas e espaços públicos também na área cultural. “Estou pensando em escrever uma série de textos sobre todo esse processo, justamente para refletir a respeito disso. Foi uma coisa muito súbita e rápida. Quando começaram as obras no Nova Olaria, eles colocaram, sem anunciar para a gente, um tapume preto em frente ao prédio. Com isso, as pessoas deixaram de entrar, porque achavam que não tinha mais nada lá dentro.

Houve muitos sustos e algum desespero inclusive.  Não tivemos muito tempo para refletir sobre tudo isso que aconteceu. É óbvio que, para mim, é uma situação muito irônica, eu,  uma pessoa que sempre se declarou ateia e sempre reclamou muito da mistura entre política e religião. Ainda fico meio surpreso. De vez em quando eu olho para a nova sede da livraria e penso ‘meu deus, estou trabalhando numa igreja’. Mais ainda, sou o proprietário de uma livraria dentro de uma igreja”.

O movimento, nos primeiros dias de funcionamento da Bamboletras em sua nova casa, está muito bom e deixa Milton Ribeiro animado com o futuro. “As pessoas estão gostando muito da novidade. No Nova Olaria, as lojas foram paulatinamente fechando. Durante a pandemia, praticamente todas saíram, especialmente os bares. A gente não sabia o quanto aquilo impactava a livraria. Foi se criando uma atmosfera meio deprimente. Um ambiente que era culturalmente ativo e brilhante, passou a ficar esvaziado e abandonado. Olhando hoje, vejo que esse processo nos prejudicou demais. A gente devia ter saído antes de lá”.

A mudança de astral fica evidente para quem entra na livraria. A equipe toda com o ânimo renovado e as pessoas, antigos e novos clientes, que entram curiosos para conhecer a novidade. O livreiro e agora também “pastor” Milton Ribeiro parece já estar preparado também para conviver com os inevitáveis trocadillhos que acompanharão o novo espaço, transformado em templo dos livros, capela da leitura e santuário da cultura em uma Porto Alegre tão castigada nos últimos anos.

Confira mais imagens da igreja que virou livraria

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

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Antiga igreja vai virar livraria no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre

Antiga igreja vai virar livraria no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre

A Bamboletras, que opera na Nova Olaria, está de mudança para novo ponto na Venâncio Aires

Por Mauro Belo Schneider – editor do GeraçãoE, Jornal do Comércio

INSPIRAÇÃO Milton Ribeiro conta que em outros países é comum encontrar livrarias em igrejas | Foto: Luiza Prado/JC

O capítulo que a tradicional livraria porto-alegrense Bamboletras se encontra tinha tudo para ter um final triste. Mas o proprietário do estabelecimento que opera na galeria Nova Olaria, da rua Lima e Silva, no bairro Cidade Baixa, deu uma reviravolta no enredo.

Amante de histórias que é, o jornalista Milton Ribeiro transformou o fim de um ciclo em um começo que tem tudo para dar certo, embora seja um pessimista nato. O seu negócio funcionará, a partir de julho, dentro de uma antiga igreja apostólica, na avenida Venâncio Aires, nº 113.

O encerramento das operações da Bamboletras na Nova Olaria se deve à construção de três torres que ocuparão o terreno, administrado pela Dallasanta. A ideia é que a loja permaneça no centro dos prédios e que a empresa possa retornar à Lima e Silva quando tudo estiver pronto. Mas, primeiro, Milton verá como ficará o complexo. “Se for legal, eu volto”, revela.

Foto: Luiza Prado/JC

Sua atenção, agora, está voltada para o desafio de tornar o local que recebia cultos, na Venâncio, em um destino turístico. “Na Europa, é muito comum livrarias ocuparem igrejas”, conta ele. “Aqui, nunca vi isso. Espero que seja um atrativo”, emenda.

Desocupada há quatro anos, a igreja receberá as estantes da atual loja e passará por reformas. Há um pátio nos fundos, que abrigará o público, e a possibilidade de incluir uma cafeteria. Além disso, a estrutura conta com uma sala para lançamentos e um palco. “Vamos ver o que dá”, expõe o jornalista.

Foto: Luiza Prado/JC

Milton, que mora no Bom Fim, comprou a Bamboletras em 2018. Ele diz que seu negócio tinha o perfil de atender a clientela no balcão, mas a pandemia gerou uma crise. As pessoas sumiram e entraram os motoboys, os ciclistas e as entregas por correio.

Quando o pior do surto sanitário havia passado, uma nova dificuldade: o fechamento da Nova Olaria e das lojas vizinhas. Não havia mais gente que se surpreendia com a presença de uma livraria ao ir jantar ou beber no centro comercial. Apesar de tudo isso, ele celebra o fato da marca permanecer viva. “Se estivéssemos em outro bairro, estaríamos mortos”, considera.

Isto porque, para ele, a Cidade Baixa é destino de pessoas de vários estados, que estão em Porto Alegre a passeio ou a negócios. A boemia, os casarios antigos e as ruas tranquilas são características que atraem os curiosos, segundo Milton. “O bairro se organiza em torno da Rua da República e da Lima e Silva, mas há muitas outras coisas peculiares”, aponta.

Em breve, uma dessas coisas será sua livraria na igreja. Uma história que colocará, novamente, a Cidade Baixa na rota até de quem já conhece a região.

Foto: Luiza Prado/JC

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No 1º de maio a gente não trabalha!

No 1º de maio a gente não trabalha!

Em condições normais, a Bamboletras não abre somente 3 dias por ano. Em 25 de dezembro, 1º de janeiro e 1º de maio — Dia do Trabalhador. Portanto, não abriremos neste domingo.

Mas, nesta sexta e sábado, estamos esperando vocês das 10 às 21h.

🗾 Estamos ainda no Shopping Nova Olaria – Rua General Lima e Silva, 776 – loja 3
📝 Pedidos pelo WhatsApp (51) 99255 6885
🚴🏾 Tele-entrega pelo (51) 99255 6885 (WhatsApp) ou 3221 8764.
🖥 Confere o nosso site: bamboletras.com.br
📱 Ou nos contate pelas nossas redes sociais, no Insta ou no Facebook!

No Facebook, recebemos este comentário de parte do Igor Freiberger:

“É bem como dizia o Antonio Ermínio de Moraes: brasileiro adora um feriado, não gosta de trabalhar e quer só benesses. Imagina parar três dias por ano! Três! Não são três horas ou três turnos, que já seria abuso. São três dias inteiros. Tu achas que os escravos tinham essa folga toda? Ou que os herdeiros que construíram este país ficam parados todo esse tempo? Meu filho, nunca verás um bilionário sem fazer nada por três dias. Quando ele não está fraudando relações trabalhistas, está tendo um trabalho imenso para organizar festas no iate ou se desgastando em conluios a fim de sugar o Estado. Ou tu achas mesmo que participar de reuniões secretas no Planalto e conchavos na FIESP não dá trabalho? Ou todo o cuidado que ele dedica para evitar que os convivas tomem uísque inferior durante o convescote e falem mal do anfitrião? A vida é dura. Nunca, jamais, verás um grande capitalista três dias parado!”

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Atrás do balcão da Bamboletras (XLV)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLV)

O telefone toca:

— Livraria Bamboletras.

— Boa tarde, vocês têm o livro do Santiago, “Caderno de Desdenho”?

— Olha, acabou de acabar.

(risadas)

— Ah, que pena!

— Mas pera aí porque ele costuma almoçar aqui do lado e, se tivermos sorte, eu pergunto se ele tem o livro em casa.

Saio da livraria ainda falando no telefone e lá está o Santiago Neltair Abreu almoçando e pontificando com amigos.

— Santiago, tu tem o teu livro em casa? Os nossos acabaram!

— Tenho sim, Milton Ribeiro. Te levo 5 depois do almoço.

— É que tem uma moça que quer dar de presente para um gaúcho que está fazendo aniversário e que mora há décadas em Fortaleza.

— Qual é o nome do cara?

Eu pergunto no telefone.

— É R., Santiago.

— Diz pra ela que ele vai receber um com dedicatória.

Depois vocês pensam que é fácil ser livreiro…

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Atrás do balcão da Bamboletras (XLIV)

Atrás do balcão da Bamboletras (XLIV)

Estava voltando do almoço, me arrastando no calor de Porto Alegre. Quando entrei todo suado no ar condicionado da livraria, ouvi uma moça dizer que queria porque queria um Tudo é rio, de Carla Madeira, o livro que eu estava lendo e que carregava sob meu sovaco. Na Bamboletras, tínhamos vendido o último exemplar dele no findi. Sabia que não tínhamos o livro.

Ela viu meu livro e perguntou:

— Me vende o teu?

Respondi que minha mulher já tinha lido aquele exemplar e que eu estava na página 160 de 212. Estava usadinho.

— Ah, me vende… Vou viajar amanhã e preciso! Tu busca outro exemplar pra ti na distribuidora!

— Mas eu anoto meus livros, sublinho, coloco um U quando dou risada e um ∩ quando discordo. E estrago a lombada.

— Tô nem aí. Quero!

— Mas ele estava na minha axila.

— Me vende. Nem precisa me dar o desconto-axila.

Vendi, né? Amanhã chega o meu.

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