Enid Backes nos 25 anos da livraria Bamboletras

Enid Backes nos 25 anos da livraria Bamboletras

Enid Backes, 88 anos, é cliente da Bamboletras, socióloga e militante de movimentos sociais, tendo participado das lutas pela redemocratização do país, pela anistia, e de trabalhadoras e trabalhadores ligados a sindicatos.

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A Bamboletras no programa Rádio-leitura da Rádio da Ufrgs

A Bamboletras no programa Rádio-leitura da Rádio da Ufrgs

Texto do post original:

O Rádio-Leitura de hoje [apresentado pelo ótimo jornalista Pedro Palaoro] traz o livreiro Milton Ribeiro, da Bamboletras, uma das mais tradicionais livrarias de rua de Porto Alegre. Ele comenta sobre a reinvenção do comércio nesses tempos de pandemia e reflete sobre os ensinamentos que o período de isolamento social podem trazer.

O livreiro também dá dicas de leituras e compartilha conosco um trecho de uma das grandes escritoras portuguesas contemporâneas.

Ouça o podcast na íntegra:

Lu Vilella escreve sobre os 25 anos da Livraria Bamboletras

Lu Vilella escreve sobre os 25 anos da Livraria Bamboletras

Então, 25 anos da Bamboletras. O que posso dizer, além de agradecer?

À vida, ao universo, às minhas mestras que me iniciaram, desde as primeiras letras às teorias da literatura. Agradecer aos clientes que, desde o início, lá na rua da República, acreditaram na minha crença. Partilharam comigo o mesmo amor pelos livros. Muitos, hoje são amigos do coração. E seguem parceiros da Bamboletras.

Agradecer ao Milton, que assumiu tão amorosamente a paternidade da minha cria, quando precisei me afastar, quando um chamado mais forte se fez na minha vida. E vocês não imaginam como foi difícil. Como sofri. Como chorei, e ainda choro, de saudades da minha Bambô.

Mas, vida que segue! Sejamos fortes diante das provações, como essa pandemia. Fortes e solidários.
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Então, além de agradecer, de longe, vou torcer. Pela Bamboletras, esse templo de amor ao livro, ao conhecimento, à arte, à amizade e à beleza. Esse templo de amor à Vida.
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Torcer para que nós, brasileiros, possamos atravessar em segurança essa tormenta. De longe, segue meu abraço apertado ao Milton, Eliane, Cacá e Gustavo. E a cada um de vocês, meus mais que clientes, amigos pra toda vida. Feliz aniversário, Bamboletras! Te amo de amor eterno e sinto demais a tua ausência no meu cotidiano.

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Gustavo Melo Czekster escreve sobre os 25 anos da Livraria Bamboletras

Gustavo Melo Czekster escreve sobre os 25 anos da Livraria Bamboletras

Gustavo Melo Czekster é escritor. Autor de O Homem Despedaçado e de Não há amanhã. Este último livro, foi vencedor do Açorianos de melhor livros de contos e semifinalista do Jabuti.

Ainda lembro quando entrei pela primeira vez no Centro Comercial Nova Olaria. Parecia uma ilha inesperada de civilização e bom gosto em meio a uma cidade cujas manifestações culturais se espalhavam por todos os lados, ávidas, distribuindo os públicos entre atrações simultâneas, múltiplas. Por muito tempo acreditei que o local fora especialmente construído para mim: afinal, tinha três salas de cinema, tinha cafeterias charmosas, tinha locais para degustar comidas diferentes, tinha uma loja de CDs e LPs antigos, tinha obras de arte, tinha um chafariz e, no meio de tudo, como um coração impregnado de vigor, estava A Livraria. Bamboletras era o nome dela, mas, para mim, sempre foi A Livraria; assim como existe a Biblioteca de Babel, um local onde todos os livros existem à espera de seus leitores e autores, deve existir uma Livraria que concentre as curvas e as estantes de todas as livrarias do mundo, e a Bamboletras é a minha. Não foram poucas as vezes em que estive lá, em que marquei encontros no seu interior, em que levei pessoas recém-chegadas na cidade para conhecê-la, em que estive em lançamentos de livros e em bate-papos. Sempre fui regiamente recebido, tratado como um familiar da Livraria, e talvez seja mesmo, eu e todos os clientes que devem fazer o mesmo (às vezes percebo rostos estranhamente conhecidos no local, não devo ser o único que utiliza a Bamboletras como pretexto para encontrar pessoas e conversar sobre livros, somos uma legião). É possível que algum de vocês já tenha ido comigo: se não foi, em breve estaremos lá. Não foram poucas as ocasiões em que meus passos distraídos me conduziram normalmente até a Livraria: em uma delas, faltou energia elétrica no bairro e fui visitar a Bamboletras, esquecendo que não teria como olhar os livros, pois estaria no escuro. Mais do que ver ou comprar livros, o importante é estar imerso na aura do lugar. Não são poucas as histórias que nos juntam, eu e a Bamboletras. Os anos passaram, muitas lojas desapareceram, outras surgiram, e agora recebo a notícia de que a Bamboletras completa 25 anos, um quarto de século. Custei a acreditar. Parece que eu a conheço desde ontem, ou talvez ela esteja tão imersa em mim que até o tempo apagou seus vestígios. O coração ainda pulsa forte. A Livraria continua entre nós. E, desde que comecei a escrever, agora tenho o prazer de ser parte da Livraria que tanto admiro. Estou lá, cercado por amigos e amigas, acompanhado por histórias, ouvindo as conversas alheias, enxergando todos vocês. Se isso não é o mais próximo que posso chegar do Paraíso, morar na Bamboletras, não sei o que pode ser.

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Atrás do balcão da Bamboletras (XXIII)

Atrás do balcão da Bamboletras (XXIII)

De manhã fui na farmácia — sim, na farmácia — a fim de comprar uns Eskibon para comemorar os 25 anos da Bamboletras — sim, comemoração de câmara, modestíssima, de pandemia.

Quando atravessei a Lima e Silva, um homem gritou:

— Parabéns pelo aniversário da livraria! É a melhor!

E agora, quando fui buscar uns livros, uma jovem do outro lado da rua pulava e me acenava:

— Mais 25 anos! Mais 25 anos!

É o que estamos tentando e vamos conseguir.

Atrás do balcão da Bamboletras (XXI)

Atrás do balcão da Bamboletras (XXI)

Ninguém está calmo, ninguém está prevendo um futuro brilhante. Eu só penso em sobreviver, eu e a Bamboletras. Estamos trabalhando em regime de tele entrega e correndo bastante. É uma novidade pra nós.

Pois hoje eu pensei que tivesse enlouquecido. Passei na frente do servidor e ele, sem ter ninguém a operá-lo, estava respondendo sozinho a um e-mail de uma editora. E respondia com lógica e educação. O cursor se mexia, fazia copiar/colar e escrevia com sintaxe perfeita sem ninguém sentado na frente do teclado e do monitor.

Estava pensando em sair correndo ou em telefonar pro Robson Pereira, pra Lucia Serrano Pereira, pro Julio Conte, pra Larissa Bacelete, pro Claudio Costa ou pra Vera Rodrigues pedindo uma hora, quando lembrei que uma de nossas funcionárias estava trabalhando em home office através do AnyDesk.

Qual é a graça de morrer de susto durante a pandemia?

Atrás do balcão da Bamboletras (XIX)

Conheci a mãe de um cliente da Bamboletras. Ele está morando em Paris e ela regularmente lhe envia livros e outras coisas. Ela escolhia um verdadeiro farnel natalino e dizia:

— O Lauro diz pra eu comprar sempre aqui na Bamboletras. Me proibiu a Cultura e a Saraiva porque elas não pagam as editoras direito e a Amazon porque ela quer quebrar todo mundo, principalmente o comércio das pequenas livrarias com curadoria como a de vocês.

Ao ouvir essas palavras cheias de razão — palavras que salvam e libertam –, ergui minhas mãos ateias para os céus.

E completou dizendo que atravessa toda a cidade para vir aqui.

Atrás do balcão da Bamboletras (XVIII)

Atrás do balcão da Bamboletras (XVIII)

Eu estava vindo para a Livraria num Uber. Eu e o motorista, um negro, vínhamos falando mal do Inter e ofendendo severamente nossa diretoria. Eles merecem. Bah, merecem muito, mas isso não interessa.

No meio do papo, eu, por algum motivo, falei no livro “Liga da Canela Preta”, de José Antônio dos Santos para a Editora Diadorim. E contei um pouco da história da liga dos negros, enquanto o sujeito arregalava os olhos.

— MAS EU NÃO CONHECIA ISSO!!! Ah, não. Eu preciso ler este livro HOJE.
— Olha, tem na minha livraria e nós estamos indo pra lá.
— Então vou estacionar e comprar o livro. Depois volto pro trabalho.

Quando saímos do carro ele disse:

— Tu sabe que o negro não conhece a própria história, né?

Atrás do balcão da Bamboletras (XV)

Atrás do balcão da Bamboletras (XV)

— Eu preciso de um romance bom, que prenda, que faça a gente grudar, entende?

— Olha, temos vários.

E lhe apresento alguns: O homem que amava os cachorros, A vegetariana, os Knausgård, os da Isabela Figueiredo, um monte de outros e ela tinha lido todos, pô. Para tudo o que eu oferecia ela respondia já li.

— Leste as Estações Havana do Padura, claro.

— Não, não li.

Ufa. Mostro pra ela os 4 volumes, mas ela nem olha direito, apenas pega o telefone.

— Oi, miga. Já leste as Estações do Padura? Sim? E tens?

Depois de ouvir a resposta, ela se volta pra mim e diz:

— Não quero. Minha amiga tem. Eu e ela trocamos livros para poder ler mais. Ela compra e me empresta, eu compro e faço o mesmo. E ela tem esses quatro. E só lemos coisa boa.

Então tento algo fora das trilhas habituais. Era o caminho, claro.

— Leste Lucky Jim?

— Não.

— É sensacional. Pergunta pra tua amiga se ela leu Lucky Jim. Liga aí.

Ela obedece.

E leva o livro de Amis.

Ufa!

Atrás do balcão da Bamboletras (XIV)

Atrás do balcão da Bamboletras (XIV)

Ainda agora, agorinha, chega uma senhora de uns 75 anos, 1,50m, me encara e larga:

— Sábado que vem, o Sr. sabe o que estamos comemorando?
— Sim, o Dia da Criança.
— Coisa inventada, bobagem!

Volta e me encarar:
— E o que mais?
— Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil.
— Uma porcaria como as outras santas e santos. Coisa inventada!

Crava os olhos em mim novamente:
— E o que mais?
— É o dia em que Cristóvão Colombo chegou à América em 1492.
— Sim. E por que não comemoramos este fato que é cantado em prosa e verso desde o Canadá até o Chile e Argentina?
— Porque somos uns idiotas? — arrisco.
— Ainda bem que o Sr. sabe.

Olha indignada para os lados e bufa:
— Nossa Senhora de Aparecida….Pfff… Vou levar estes livros. Soma aí.

Foto de Liane Neves

Atrás do balcão da Bamboletras (XIII) — A visita de Dostoiévski (II)

Atrás do balcão da Bamboletras (XIII) — A visita de Dostoiévski (II)

Mas tenho mais fatos a narrar sobre a visita de Dostoiévski à Livraria Bamboletras, durante o lançamento do Ingresia de Franciel Cruz.

Apresentei-lhe ao célebre escritor um livro de seu conterrâneo e contemporâneo Tolstói, Anna Kariênina. Ele olhou, risonho porém visivelmente contrafeito, e disse:

— Ah, um Tolstói qualquer.

Notei que ele tinha achado minha atitude ofensiva e tentei consertar a situação dizendo que, imagina, atropelada por um trem, muito melhor uma machadinha ou um bom parricídio — já pensou que maravilha se acontecesse em Brasília, Dostô? –, mas como ele não reagia, reclamei das considerações agrícolas de Liêvin, louvei o príncipe Míchkin e o niilista Kirílov e fui saindo de fininho antes que ele jogasse em mim aquele copo de cerveja.

(Com Bruno Pommer e Milton Ribeiro).
(Fotos: Rômulo Arbo).

Atrás do balcão da Bamboletras (XII) — A visita de Dostoiévski (I)

Atrás do balcão da Bamboletras (XII) — A visita de Dostoiévski (I)

Na última sexta-feira, durante o evento de lançamento do Ingresia, de Franciel Cruz, recebemos Dostoiévski na Livraria Bamboletras.

De posse da bela tradução direto do russo do Crime e Castigo da todavia — feita pelo grande Rubens Figueiredo –, eu lhe explicava como eram as traduções antigas de seus livros. Elas nos chegavam todas de segunda mão, a partir de traduções francesas. Parece que não havia ninguém que conhecesse russo no Brasil. Enquanto isso, ele, um eslavófilo furioso, 100% anti-francês, me olhava com aquela cara de quem tá louco pra pegar uma machadinha.

(Com Bruno Pommer e Milton Ribeiro).
(Fotos: Rômulo Arbo).