Claro, é uma comemoração simples e modesta, já que nem sei se há muitos parentes dele por aí além de PQP Bach, o filho bastardo. Mas a comemoração deve ser à base de cerveja.
Para quem conhece, é curioso ou lê a respeito da história da música, é sempre surpreendente o tamanho de Bach, seu grau de influência (influência que se revela perene) e sua colocação como pedra fundamental de toda a cultura musical. E todo o mundo que Bach criou foi desenvolvido numa época em que não havia muita noção de obra; ou seja, Bach não escrevia para a posteridade como passaram a fazer logo depois, mas para si, seus alunos e contemporâneos. E era um brigão; passava grande parte de seu tempo solicitando mais e melhores músicos, salários e procurando “emprego”, digamos. Costumava ganhar mais que seus pares, mas nada que fosse espantoso, de forma nenhuma.
A perfeição daquilo que criava e que era rápida e desatentamente fruída pelos habitantes das cidades onde viveu, era pura necessidade individual de fazer as coisas bem feitas. E, mais, ele parecia divertir-se criando dificuldades adicionais em seus trabalhos. Muitas vezes o número de compassos de uma cantata corresponde ao capítulo e versículo da Bíblia daquilo que está sendo cantado. Em seus temas aparecem palavras — pois a notação alemã (não apenas a alemã) é feita com letras — , e suas fugas envolvem verdadeiros espetáculos circences que só podiam ser apreendidas por especialistas. Então Bach era não apenas um fantástico melodista capaz amolecer as pernas de quaisquer ditadores — sei do que falo — , como um sólido teórico capaz de brincar com seu conhecimento. Em poucas palavras, pode-se dizer que o velho sobrava… Sua obra, mesmo com a perda de mais de 100 Cantatas e de outras obras por seu filho mais velho, o preferido de Bach e maldito pelos bachianos Wilhelm Friedemann, suas obras completas correspondem a 153 CDs da mais perfeita música. Grosso modo, 153 CDs são 153 horas ou mais de 6 dias ininterruptos de música.
E também sobrava cerveja em sua casa. Seus contratos previam dinheiro e algumas vitualhas fundamentais: cevada, trigo, lenha e não apenas cevada, mas uma quantidade enorme de cerveja, pois o homem não apenas queria a cevada com a autorização para produzir a bebida, mas a própria. Pode-se de dizer que, naquela época, por questões de saúde, era preferível beber cerveja à água, mas… Pô, Bach pedia muita cerveja. Um litro de cerveja custava o equivalente a US$ 1,50 e o de leite $1,25; isto é, a cerveja era tão (in)acessível quanto o leite, porém as notas examinadas por seus biográfos indicam que a família Bach consumia toneladas dela. Um relatório de gastos do compositor em 1725 (tinha 40 anos) dá conta de um consumo enorme por um período limitado, suficiente para várias pessoas por muitos dias. É óbvio que seus alunos e músicos bebiam junto, mas não vou entrar em maiores detalhes porque o que desejo arengar hoje é simplesmente o fato de que qualquer bachiano que se preze deve beber CERVEJA hoje. É a bebida correta.
Espero ter sido claro. Um brinde à grande e produtiva vida de Johann Sebastian Bach!