Este é um Concerto que desmente a fama de fria que a música moderna carrega. Composta quando Bartók já estava condenado pela leucemia, a obra deveria servir de presente de aniversário, além de aumentar o repertório e os ganhos de sua mulher, a pianista Ditta Pásztory. Na época, em 1945, nos EUA, ambos eram pobres exilados. Mais simples que o Primeiro e Segundo Concertos, o Terceiro compensa pela altíssima temperatura emocional e por mostrar que o húngaro e socialista Bartók ainda carregava em si alguma alegria e esperança no mundo. Esta é uma das obras que mais amo e um dos motivos pelo qual sempre brinco que meus três compositores preferidos têm seus nomes começando pela letra “B”. São eles Bach, Beethoven, Brahms e Bartók.
Deixo aqui para vocês o Concerto inteiro, nos movimentos Allegretto, Adagio religioso e Allegro Vivace.
Martha Argerich, piano
BBC Symphony Orchestra
John Adams
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Vou contar uma historinha para vocês. Aconteceu na Padaria Pasquali, no bairro Cavalhada, em Porto Alegre.
Eu entrei na fila e comecei a fazer uma coisa que sempre faço quando não há músicos por perto — comecei a cantar: “Daram, daram, dararam, da-ra-ra-ram”.
Claro que vocês, pessoas inteligentes, já sabem o que eu estava cantando. Bem, foi quando uma menina que estava na minha frente, virou-se para mim e disse:
— O começo do terceiro concerto de Bartók…
E ficou totalmente vermelha, envergonhadíssima. Me apresentei, conversamos uns cinco minutos e ela perguntou se eu sabia o motivo pelo qual Bartók, um ateu e socialista, chamara de Adagio Religioso o segundo movimento. Não soube responder.
Trata-se de uma aluna de piano de 16 anos que, depois de perder a vergonha, resumiu brilhantemente o concerto:
— Tio, esta música é tudo!
E ela tem toda a razão. É tudo mesmo.
Um beijo do tio, Carol.