Viagem ao redor do umbigo

Viagem ao redor do umbigo

Li no livro Bartleby e companhia, de Enrique Vila-Matas, a curiosa definição de Marguerite Duras sobre o ato de escrever: escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos. Dou-lhe inteira razão, mas há algumas pessoas, dentre as quais me incluo, que negam o que escrevem e raramente releem o que deixam escrito por aí. Nem este blog é relido por mim.

Hoje, dediquei algum tempo a reler uns posts antigos e surpreendi-me com o grande número de frases e expressões que revisaria ou cortaria. Há idiotices incríveis. Encontrava aqui uma ideia que deveria estar clara e não está; ali, uma frase horrenda; mais adiante, surpreendia-me comigo mesmo — eu escrevi isto, isto sou eu ou um personagem? Ou sou eu meu personagem? Acho que é o caso. Afinal, quando divagamos sobre nossas vidas, não estamos reescrevendo um livro com caracteres mais brilhantes ou não para depois recolocá-lo — capa dura ou brochura — em nossa memória, a fim de retirá-lo no momento seguinte com o objetivo de mais uma revisão, a mesma revisão que não faço aos duros caracteres do monitor? Escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos.

Sonhar, de Almada Negreiros
Sonhar, de Almada Negreiros

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