Judee Sill (1944-1979)

Nascida em Oakland, Califórnia, perdeu o pai, Milford “Bun” Sill, morto devido a uma pneumonia em 1952,e o irmão ainda bem jovem. Sua mãe, alcoólatra, se casou novamente com Ken Muse, um dos responsáveis pela animação de Tom e Jerry. Judee nunca aceitou o fato de sua mãe ter se casado com ele, pois ela não simpatizava sua postura autoritária. Como que por vingança, passou a andar com turmas rebeldes, se envolveu com crimes e drogas (heroína). Correram boatos que Judee chegou a se prostituir para bancar o consumo de drogas. Foi presa uma vez, e na cadeia, conseguiu largar o vício. Decidiu também começar a compor. Era uma pianista e guitarrista talentosa. Ela foi influenciada em suas composições por Bach e Ray Charles. Fez uma viagem de carro cruzando os EUA, com duas garotas, quando tinha 19 anos. Nessa viagem, obteve mais contato com o mundo musical. Quando voltou, conheceu David Geffen, que contratou Judee para gravar um disco pela sua nova gravadora — a Asylum Records. Através de Geffen, Judee conheceu Graham Nash, que produziu o primeiro single para seu disco – Jesus was a crossmaker. Seu primeiro disco, de nome Judee Sill (1971), foi aclamado pela crítica, mas vendeu pouco.  Perfeccionista confessa, Judee podia levar um ano para escrever uma música. Algumas canções ficaram conhecidas por gravações feitas por outros artistas, como a própria Jesus, que foi regravada pelo The Hollies, e Lady-O, pelo The Turtles. O segundo disco, Heart Food, foi lançado em 1973. Infelizmente continha o mesmo problema que o primeiro, não conseguindo muitas vendas, apesar da alta qualidade. Sua fama foi diminuindo, até que ela desapareceu quase que por completo do cenário musical. Não se tem certeza do que aconteceu depois, mas é certo que ela retornou à heroína. Deve ter se envolvido também com cocaína. Morreu de overdose em 23 de novembro de 1979, aos 35 anos.

Sill é um dos cults favoritos para aqueles que descobrem seus raros discos esgotados. Há uma força que atrai algumas pessoas para Sill — raramente seus fãs são casuais. Sua vida foi fascinante e tumultuada. Ela roubou lojas de bebidas e postos de gasolina quando era uma adolescente viciada em drogas. Aprendeu a tocar órgão no reformatório e passou um bom tempo na prisão. Era abertamente bissexual em uma época em que até Freddie Mercury estava no armário.

Mas o que interessa é que a música melódica e estranha de Sill é muito boa. Abaixo, dois belos exemplos da música de Sill: The Kiss, de seu segundo LP, e Jesus Was a Cross Maker, do primeiro.

The Kiss

Love rising from the mists,
Promise me this and only this,
Holy breath touching me, like a wind song
Sweet communion of a kiss

Sun sifting through the grey
Enter in, reach me with a ray
Silently swooping down, just to show me
How to give my heart away

Once a crystal choir
Appeared while I was sleeping
And called my name
And when they came down nearer
Saying, dying is done,
Then a new song was sung
Until somewhere we breathed as one
And still I hear their whisper

Stars bursting in the sky
Hear the sad nova’s dying cry
Shimmering memory, come and hold me
While you show me how to fly

Sun sifting through the grey
Enter in, reach me with a ray
Silently swooping down, just to show me
How to give my heart away

Lately sparkling hosts
Come fill my dreams, descending
On fiery beams
I’ve seen ‘em come clear down
Where our poor bodies lay,
Soothe us gently and say,
Gonna wipe all your tears away
And still I hear their whisper?

Love, rising from the mists
Promise me this and only this,
Holy breath touching me, like a wind song
Sweet communion of a kiss

Jesus Was a Cross Maker

Sweet silver angels over the sea
Please come down flyin’ low for me

One time I trusted a stranger
Cuz I heard his sweet song
And it was gently enticin’ me
Tho there was somethin’ wrong,
But when I turned he was gone.

Blindin’ me, his song remains remindin’ me,
He’s a bandit and a heart breaker,
Oh, but Jesus was a cross maker.

Sweet silver angels over the sea
Please come down flyin’ low for me

He wages war with the devil
A pistol by his side
And tho he chases him out windows
And won’t give him a place to hide,
He keeps his door open wide

Fightin’ him he lights a lamp invitin’ him,
He’s a bandit and a heart breaker,
Oh, but Jesus was a cross maker

Sweet silver angels over the sea
Please come down flyin’ low for me

I heard the thunder come rumblin’
The light never looked so dim
I see the junction git nearer’
And danger is in the wind
And either road’s lookin’ grim
Hidin’ me, I flee, desire dividin’ me,
He’s a bandit and a heart breaker.
Oh, but Jesus was a cross maker
Yes, Jesus was a cross maker

Sweet silver angels over the sea
Please come down flyin’ low for me

One time I trusted a stranger
Cuz I heard his sweet song
And it was gently enticin’ me
Tho there was somethin’ wrong
But when I turned he was gone
Blindin’ me, his song remains remindin’ me,
He’s a bandit and a heart breaker,
Oh, but Jesus was a cross maker.

Discografia:
— Judee Sill (1971) (Asylum)
— Heart Food (1973) (Asylum)
— Dreams Come True (2005) (Water — trabalho inacabado)
— Mas o Youtube traz o que segue:

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A BBC elegeu as dez melhores orquestras do mundo atualmente

A BBC elegeu as dez melhores orquestras do mundo atualmente

Uma delas eu vi em fevereiro. Não me arrependi.

Orquestra Sinfônica da Rádio de Baviera (Munique)
Orquestra Filarmônica de Berlim
Orquestra do Festival de Budapest
Orquestra Hallé (Manchester)
Orquestra do Gewandhaus de Leipzig
Orquestra Sinfônica de Londres
Orquestra Filarmônica de Los Angeles
Orquestra da Academia Nacional de Santa Cecilia (Roma)
Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam
Orquestra Filarmônica de Viena

Assisti 4 delas — Berlim, Londres, Concertgebouw — e a de Santa Cecilia este ano em Roma, tocando a 5ª de Mahler e outras cositas. Para quem, como eu, é apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, nem parentes importantes, está bom.

Orquestra da Academia Nacional de Santa Cecilia | Fonte: Wikipedia

 

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Recuperação da esquerda brasileira levará anos, diz professor

Recuperação da esquerda brasileira levará anos, diz professor
O professor Idelber Avelar | Foto: Facebook
O professor Idelber Avelar | Foto: Facebook

Da BBC Brasil

A crise política deverá ser seguida por um longo período de domínio da direita, diz Idelber Avelar, professor na Universidade Tulane (EUA), à BBC Brasil.

Nesse cenário, ele afirma que a esquerda e os movimentos sociais podem levar anos para se reagrupar.

Brasileiro, Avelar leciona literatura latino-americana e estudos culturais nos Estados Unidos desde 1999, mas se tornou conhecido entre muitos compatriotas por seus posicionamentos políticos nas mídias sociais.

Crítico do PT, ele não vê razões para se associar aos grupos que defendem a permanência de Dilma Rousseff na Presidência e rejeita a descrição do cenário político brasileiro como uma “briga de duas torcidas ante a qual você tem de se posicionar ao lado de uma delas”.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

BBC Brasil – Com a crise houve alguma mudança na forma como o Brasil é encarado nos EUA?

Idelber Avelar – Cinco anos atrás o Brasil era o modelo de como crescer com instituições democráticas fortes e reduzindo a desigualdade. Neste momento perdemos as três coisas: não estamos crescendo, não estamos reduzindo desigualdade e as instituições democráticas estão em perigo, pelo menos.

Chama atenção a rapidez com que se desmoronou esse modelo. Há um cenário político marcado por tremenda instabilidade, com uma classe política na situação e oposição completamente desmoralizada, e não há perspectiva de transformação desse quadro em longo prazo. Vivemos uma grave crise econômica, institucional, política e ambiental.

BBC Brasil – Por que ambiental?

Avelar – Uma das características essenciais dos governos petistas tem sido o desenvolvimentismo arrasa quarteirão. Ambientalistas, lideranças indígenas e ribeirinhas na Amazônia dizem que o PT foi pior para a região que o PSDB. O PSDB implantou aquele modelo de estado mínimo, deixando que a iniciativa privada resolvesse.

O governo petista apostou num modelo através do qual o Estado gera mecanismos para que as grandes construtoras realizem negócios e (em troca) financiem campanhas eleitorais.

Sou a favor de que se estabeleça algum tipo de requisito dentro do nosso aparato educacional para que pessoas do Sul e Sudeste possam visitar a Amazônia e ver o que aconteceu no Xingu com a construção da usina de Belo Monte, o que aconteceu no rio Madeira, para ver o que é a expansão da soja.

Isso lhes daria uma leitura diferente da realidade e desmontaria uma noção de crescimento que muita gente da esquerda fetichiza.

BBC Brasil – Não é inviável se opor ao crescimento num momento em que o Brasil enfrenta uma grave crise econômica, com crescente desemprego?

Avelar – Não existe possibilidade lógica de crescimento infinito num planeta com recursos finitos. Poderíamos estar numa sociedade em que optássemos por um crescimento zero, há até marxistas falando nisso.

É um debate difícil, porque há uma mentalidade que associa a redução da desigualdade ao crescimento do PIB. Mas não há relação automática entre as duas coisas: pode haver crescimento extremo sem redução de desigualdade e pode haver redução de desigualdade sem ritmo frenético de crescimento.

Claro que para isso teríamos mexer em políticas redistributivas, na dívida pública, no sistema bancário, numa série de vespeiros em que nosso sistema político não está pronto para mexer, mas é uma conversa urgente.

BBC Brasil – A Lava Jato põe em xeque o modelo de relação entre o Estado e empreiteiras?

Avelar – A Lava Jato tem consequências que fogem ao controle inclusive dos procuradores e juízes envolvidos. Não acredito que haja limpeza completa da política brasileira, mas também não acredito que ela vá simplesmente decapitar algumas lideranças do PT, derrubar o governo da Dilma para depois se restabelecer tudo como era antes.

Existe uma nova geração de procuradores imbuída de um espírito que pode ser criticado como meio salvacionista ou messiânico, mas esse grupo claramente não está interessado em pegar lideranças de um só partido político. Alguma coisa se quebrou no pacto oligárquico. Ele vai ser restabelecido, mas em outras bases.

BBC Brasil – Embora milite à esquerda, você não tem apoiado as manifestações em favor da manutenção de Dilma na Presidência. Por quê?

Avelar – A descrição do quadro político brasileiro como uma briga de duas torcidas ante a qual você tem de se posicionar ao lado de uma delas é um quadro não apenas simplista, mas chantagista.

Não cedo à chantagem de que a direita vai tomar poder se não nos alinharmos com a defesa do governo. Em primeiro lugar, porque a direita já está no poder num país em que Kátia Abreu controla o Ministério da Agricultura, em que cargos são regularmente loteados ao PMDB. Há uma coalizão que implementa cotidianamente políticas de direita.

Não bato bumbo pelo impeachment. Acredito que a melhor saída seria a renúncia da Dilma. A situação de descalabro não é só produto da Lava Jato, mas de uma série de fatores, incluindo a inépcia dela em dialogar com a própria base no Congresso.

BBC Brasil – Há uma ofensiva do Judiciário contra o governo do PT?

Avelar – O Judiciário sempre teve a natureza oligárquica e punitivista que está se revelando agora, mas o governismo não se preocupou quando manifestantes contra a Copa ou líderes ambientalistas foram criminalizados, nem com as prisões arbitrárias feitas a rodo nas manifestações de 2013.

O governo não ficou neutro nestas histórias. Ele foi partícipe dessas operações. A draconiana lei antiterrorismo sancionada recentemente foi enviada ao Congresso pelo Executivo, é uma lei da Dilma. Quando alguns desses mecanismos se voltam contra o PT, o governismo grita, mas o PT fortaleceu esses mecanismos ao longo da última década.

BBC Brasil – Diante da fragilização do PT, há margem para a articulação de uma nova frente de esquerda?

Avelar – Sou bastante pessimista. Houve nos últimos 14 anos uma cooptação brutal dos movimentos sociais. O único partido consistentemente à esquerda do PT e com alguma presença no cenário nacional, o PSOL, tem funcionado mais como linha auxiliar do governo do que como alternativa a ele.

Temos algumas faíscas do que poderia ser a esquerda pós-PT, mas acho que vai demorar muito tempo para que ela se reagrupe e faça a crítica necessária da experiência petista. Acho mais provável que a direita clássica volte ao poder e a gente tenha um longo e tenebroso inverno.

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