Estou pautado para escrever sobre Anna Magdalena Bach (1701-1760) para o próximo fim-de-semana. Ela foi a segunda esposa de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Quase todas as mulheres dos grandes homens do passado foram pouco mais do que nomes, meras sombras. Anna é bem mais do que uma sombra. Foi muito citada por Bach e só podia ser muito talentosa. Bach deu-lhe dois presentes musicais muito famosos. São os chamados Cadernos de Notas de Anna Magdalena Bach. O primeiro deles datava de 1722 e continha somente composições de Johann Sebastian Bach. O segundo é de 1725 e é uma compilação de obras de Bach e de seus alunos. Além da excelente qualidade musical, o interessante deste livro é a possibilidade que nos dá de espreitar a música doméstica que era ouvida na casa deles. É uma coleção de pequenas peças como árias, minuetos, rondós, polonaises, prelúdios, gavotas, etc., mas, no primeiro primeiro livro também estão quase todas as Suítes Francesas, peças nada fáceis que hoje fazem parte do repertório bachiano.
Anna nasceu na Saxônia, numa família de músicos. O pai era trompetista e a mãe também era filha de músico. Ela trabalhava como cantora e conhecia Bach há algum tempo. Maria Bárbara, a primeira esposa de Bach, faleceu inesperadamente em 1720 e, dezessete meses depois, Bach casou-se com Anna Magdalena. Estávamos em 1721: ele tinha 36 anos; Anna, 20. O amor do compositor por suas duas esposas pode ser depreendido através de suas cartas e dos vinte filhos resultantes — sete com a prima Maria Bárbara e treze com Anna Magdalena, entre os anos de 1723 e 42.
Sete ficaram na alta mortalidade infantil da época. Dentre os sobreviventes estavam os também compositores Johann Christian Bach e Johann Christoph Friedrich Bach. Parece ter sido um casamento feliz. Ela transcrevia suas músicas e, na época em que moraram em Leipzig, a casa de Bach tornou-se regular local de saraus onde o casal organizava noites em que toda a família cantava e tocava juntos com alunos do compositor e amigos.
Mas é claro que tudo vai acabar em desgraça. As histórias felizes não têm mesmo graça… Após a morte de Bach, em 1750, seus filhos brigaram e se separaram. Anna Magdalena permaneceu com suas duas filhas mais jovens e uma enteada do primeiro casamento de seu marido. Mulheres sozinhas no século XVIII eram sinônimo de caridade ou ruína. Ninguém mais da família as ajudaram economicamente. Anna Magdalena ficou cada vez mais dependente dos auxílios do conselho da cidade. Morreu quase indigente.
E céus, vou ter que tornar essa história mais interessante. Há um livro chamado Crônica de Anna Magdalena Bach, mas é ficcional.
E agora, quem poderá me defender?