E poderia cantar outras 22 de sua obra que o show seria também perfeito.
Ontem, Edu Lobo fez um show memorável em Porto Alegre. Com uma banda sensacional e muito bem ensaiada, capitaneada por Cristóvão Bastos e tendo Carlos Malta como grande estrela, Edu Lobo mostrou parte de seu monumental repertório para um Theatro São Pedro merecidamente lotado. Aos 68 anos, Edu, que como cantor nunca foi lá essas coisas, permanece como sempre foi. O cantautor é cada vez mais autor que cantor, mas a gente passa por cima dos pequenos erros e da falta dos agudos. Há agravantes — já tinha visto um show seu há uns dez anos e ontem ele repetiu a coisa: Edu custa a aquecer, a se sentir à vontade. Demora três músicas e se acostumar com a plateia. É, na verdade, um tímido que vai melhorando à medida que vai apresentando suas canções até cantar Beatriz, onde, num momento de bom humor, diz:
— Eu sei que não devia cantar essa música depois de Milton Nascimento e Mônica Salmaso. Eu canto por um motivo muito simples: fui eu que fiz.
Sim, sem dúvida é justo. Então, cantando Beatriz, ele erra bastante sobre a perfeição de acompanhamento de Cristóvão Bastos ao piano. E a gente não dá mínima importância, pois… Seria desejável que houvesse um ou uma crooner competente no palco? Olha, certamente não. A não ser que ele trouxesse consigo uma Salmaso. Mas, sabem?, tenho certo amor pelos cantautores e suas dificuldades. O que importa é a música e esta pode vir dos tecnicamente perfeitos e dos que não o são. E há banda. O quarteto que acompanha Edu — completado por Jorge Helder e Jurim Moreira — é um espanto.
Dentre as músicas tivemos desde as clássicas No cordão da saideira, Upa neguinho, Ponteio, Pra dizer adeus e Canto triste, passando pelo repertório de O Grande Circo Místico, mais Corrupião, Choro bandido, Lily Braun, etc. para chegar às músicas de seu último CD (Tantas marés, 2010). É óbvio que ficaram inúmeros clássicos de fora e que no bis houve os mais variados pedidos. Aliás, o bis foi um belo momento de sensibilidade de Edu. Ele falou com os músicos um a um e disse para a plateia: “Mudança de planos”. E atacou Upa neguinho, a canção mais óbvia para ser cantada na terra de Elis Regina.
A plateia era formada por muitos, muitos antigo(a)s fãs e por uma verdadeira multidão de músicos. Era previsível. Há os que vão adorar e os que vão aprender mais uma coisinha. E certamente aquele compositor que estava sentado bem na minha minha frente aprendeu alguma coisa com uma súbita mudança de tom no meio de Ponteio. Ele deu um salto e depois, durante os aplausos, criou uma breve tese para seu amigo ao lado, outro músico. Também sou assim. Quando vejo uma banda tocando muito bem, fico paradinho na cadeira torcendo para não atrapalhar. Se erram ou me surpreendem, tomo um susto. Só que o quarteto de Edu Lobo acerta sempre.
(Parece que hoje há um show extra para convidados no StudioClio. Não confirmei, mas sempre é uma segunda chance para quem não pode ver ontem).