Meus melhores professores (nenhum da Universidade)

Meus melhores professores (nenhum da Universidade)

Hoje é Dia do Professor. Sei que é a mais importante das profissões e um dos ofícios mais mal pagos e desconsiderados de nosso país.

Este dia me afeta, fico sempre triste nos dias 15 de outubro. Sim, porque quase todo mundo que tem meu grau de escolaridade tem um professor universitário para homenagear e eu não. Nenhum ficou como modelo. A maioria ficava entre o insuportável e o indiferente.

Os meus grandes professores foram três do Ensino Médio — do Colégio Júlio de Castilhos — e vou tratar de lembrá-los, pois tenho boas lembranças deles, além de gratidão.

1. Moacyr Flores (que ainda anda por aí, ativo aos 85 anos): esse cara não ensinava apenas história como mostrava a formação das versões e dos mitos históricos. Foi um professor genial. Falava rindo, sempre com uma ironia que jamais atingia seus alunos. Quase 50 anos depois, ainda lembro de algumas aulas.

2. Sara: eu tinha 15 anos e só estudava, jogava futebol e me masturbava. A Sarinha enfiou a literatura de forma definitiva na minha cabeça. Ela indicava um livro para cada aluno, com frequência diferentes para cada um. A minha frequência era um livro por semana. Depois, ela comentava as obras com cada um.

3. Serjão: esse era sósia do Muhammad Ali. Fui primeiramente para as exatas por causa dele. Era o melhor professor de Física do mundo. No dia das provas, ele chegava de óculos escuros e sentava imóvel com seu corpanzil na mesa do professor. Ninguém sabia para onde ele olhava, ninguém colava.

Esses são os meus ídolos. Eles vêm lá de longe, da primeira metade dos anos 70.

O historiador Moacyr Flores

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Uma filha da p…

Uma filha da p…

Eu aprendi uma coisa curiosa naqueles dias da virada dos anos 60 para os 70, mais exatamente entre 1969 e 75, quando fui aluno do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Tal ensinamento grudou em mim, desde aquela época em que o Julinho vivia seus últimos dias de auge e tinha algumas características educacionais bem próprias e libertárias, mesmo durante a ditadura.

O ensinamento era o seguinte: quando alguém denunciava um colega por ter cometido um erro ou alguma coisa fora das regras da escola ou do razoável, uma dura punição acabava sendo dirigida a ambos, ao delatado e ao dedo-duro, o delator. Porém, quando alguém confessava seu ilícito, a punição era bem menor. Pois delatar seria uma forma de filha-da-putice, uma canalhice, deslealdade, traição. E não confessar também.

Eu adquiri tal postura. Quando faço algo errado, seja uma brincadeira equivocada ou um ato mais grave, me entrego logo de cara., peço desculpas, etc. Porém, quando outro comete mancadas, jamais acuso, mesmo que saiba. Tive uma colega e amiga que fazia o mesmo, e então comprovei como esta nobre postura também pode ser péssima. No trabalho como jornalista, ela tinha a mesma função de outra funcionária, que sempre acabava por montar nela. Todo erro dela era criticado em voz alta pela colega — algumas vezes por e-mail para a chefia e colegas –, a qual jamais recebia uma resposta de mesmo calibre. A acusadora acabou tida como pessoa correta e intocável, apenas caindo no conceito da minha amiga, o que não tinha significado nenhum na dinâmica do grupo. Pior, minha amiga silenciosamente corrigia os erros cometidos pela dedo-duro, tudo em nome do “time”. Se o Papa a conhecesse, lhe concederia a canonização.

Lembro que ela nunca virou seu caminhão de lixo ou de ressentimento sobre a outra. Todos a viam como uma jornalista mais ou menos competente e nada sacana. Eu só observava. Um dia, após um discurso da filha da puta, dei-lhe os parabéns e disse que, a propósito, não era de meu feitio apontar os erros de outros para a chefia. Resultado: ela passou a me perseguir.

Mas ela não sabia administrar o sarcasmo alheio e nisso… Bem, nisso eu sou bom demais.

Foto: Ricardo Duarte
Foto: Ricardo Duarte

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Porque hoje é sábado, Marilyn Lange

Creio que em 1975, durante inocente pesquisa bibliográfica nas revistas de meu pai,

descobri que ele tinha uma Playboy (EUA) de 1974, dedicada a Marilyn Lange.

Logo peguei a revista a fim de mostrá-la a meus colegas do

Colégio Estadual Júlio de Castilhos, que me consideraram a mais feliz das criaturas

naqueles tempos onde o acesso à pornografia era limitado.

Com efeito, Marilyn Lange tinha grandes qualidades naturais

que podiam ser identificadas ao primeiro olhar.

Eram outros tempos. Havia muitos Fuscas e Corcéis nas ruas.

Os mais ricos andavam de Maverick ou Opala, os ricaços de Landau.

Estávamos no último ano do segundo grau, eu não tinha carro e

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Uma diversão

Era o início dos anos 70. Eu, todas as manhãs, ia para o Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Aquele dia estava frio demais, perto de zero grau e lembro que estávamos encolhidos de frio (dir-se-ia “encarangados”, no RS), sentados, duros, assistindo a uma aula. Não lembro qual era a matéria e nem interessa ao que vou contar. As salas de aulas não recebiam o sol matinal. Este, de modo perverso, vinha pelo outro lado, invadindo a enorme sacada do colégio, ultrapassando seus vidros, batendo no chão de lajotas de cerâmica hexagonais e subindo pela parede de nossa sala, mas não alterando sua temperatura interna. E então as explosões começaram.

Todos nós ficamos assustados. O que seria aquilo? Eram explosões sucessivas e devo ter sido um dos primeiros a sair correndo da sala, pois lembro do corredor vazio com o chão desmanchando-se. Provavelmente as lajotas dilataram-se mais rapidamente do que aquilo que as mantinha coladas ao chão e elas simplesmente voavam pelos ares, fazendo grande barulho. Claro que a saída dos alunos das salas para o corredor fazia com que mais lajotas se quebrassem. Logo houve aquele descontrole típico de quem tem 13 ou 14 anos. Os professores e monitores não eram mais ouvidos e, pior, estavam igualmente pasmos, observando o fenômeno, que já passara do terceiro para o segundo andar. Todos corriam. Eu lembro das caras felizes dos colegas e da cara de o-que-está-acontecendo de quem deveria manter a ordem. Ninguém temia os estilhaços.

Não tivemos mais aula naquele período. A ordem custou a ser restabelecida. Um professor de física foi de sala em sala explicar o fenômeno. Não fora um ataque militar, nem algo sobrenatural. Fora apenas diversão.

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