Porque hoje é sábado, Marilyn Lange

Creio que em 1975, durante inocente pesquisa bibliográfica nas revistas de meu pai,

descobri que ele tinha uma Playboy (EUA) de 1974, dedicada a Marilyn Lange.

Logo peguei a revista a fim de mostrá-la a meus colegas do

Colégio Estadual Júlio de Castilhos, que me consideraram a mais feliz das criaturas

naqueles tempos onde o acesso à pornografia era limitado.

Com efeito, Marilyn Lange tinha grandes qualidades naturais

que podiam ser identificadas ao primeiro olhar.

Eram outros tempos. Havia muitos Fuscas e Corcéis nas ruas.

Os mais ricos andavam de Maverick ou Opala, os ricaços de Landau.

Estávamos no último ano do segundo grau, eu não tinha carro e

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Porque hoje é sábado, Naomi Watts

Porque hoje é sábado, Naomi Watts

Então, conforme promessa feita ao Serbão, hoje é a vez da moça à esquerda.

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A inglesa Naomi Watts é filha de uma hippie que andava por todo o país atrás de “namorados”.

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Ela descreve sua mãe como passional-agressiva. Seu pai era mais interessante.

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Peter Watts, foi engenheiro de som do Pink Floyd até 1974, quando morreu.

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Ao menos teve a sorte de não ouvir os discos pós-Dark Side of the Moon.

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Em 1982, a mamãe maluquete acabou na Austrália com sua filha de 14 anos.

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Aos 18, nossa belíssima loirinha de 1,65m tentou ser modelo no Japão, mas não deu certo.

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Então voltou para a Austrália e trabalhou numa loja de departamentos enquanto estudava teatro.

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Finalmente livrou-se da Austrália e, em 2001, ainda desconhecida, foi escolhida por David Lynch para o papel principal …

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… do estupefaciente Mulholland Drive, cujo nome em português tenho preguiça de procurar.

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(Cidade dos Sonhos?) Olho clínico de Lynch. Era um grande filme e ela foi digna dele.

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Também foi extraordinária em 21 Gramas, de Alejandro González Iñárritu, …

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… e tratou de vingar-se dos japoneses nos remakes de O Chamado 1 e 2.

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King Kong também caiu de amores por Naomi e assim ela pode gritar em troca de uma baita grana …

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… no filme do medíocre Peter Jackson, o qual foi criticado por ela sem maiores cerimônias e carradas de razão.

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Minha filha, uma adolescente mais madura que os admiradores do cinema de Jackson, adorou sua …

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… atuação em no old fashioned O Despertar de uma Paixão (The Painted Veil), baseado no romance de Somerset Maugham.

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Mas aqui, o que menos interessa é sua biografia. (Nem vou falar que ela luta judô…)

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Aqui, o que interessa é o fato de Naomi provocar nossos instintos da mesma maneira como fez com o macaquinho do diretor dos anéis.

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Pois quem não urraria tendo-a, digamos, nas mãos?

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Hein?

Post original de 6 de dezembro de 2008. Fotos recolocadas.

Dmitri Shostakovich (VIII – Final)

Na primeira parte do último texto, escreverei uma pequena introdução sobre meu diletantismo radical de escolher um compositor para passar centenas de horas a lê-lo e ouvi-lo. Há muita coisa boa e muita porcaria publicada. Já as gravações são quase todas boas. Ele não é compositor para músicos diletantes…

Os piores textos vêm daquelas alas que atribuem ou buscam descobrir alguma posição política no homem e na obra. Tais posturas, encontráveis tanto à direita quanto à esquerda, com predominância daquela, servem apenas para mostrar a ideologia de quem escreve, o que, convenhamos, pouco interessa neste caso. Depois de muito ler, fica clara a grande e falsa exposição que Shostakovich obteve durante da Guerra Fria, no Oriente e no Ocidente. Ambos os lados o utilizaram como exemplo de suas teses. Ele e outros intelectuais soviéticos foram espécies de caixas pretas nas quais se podia adesivar as mais diversas opiniões e posições. Não, Shostakovich nem representava o governo soviético, nem esteve ao lado dos dissidentes Soljenítsin e Sakharov. Se teve inúmeras oportunidades de permanecer no Ocidente e não o fez (argumento da esquerda), também sofreu horrores com Jdanov, Stálin e mesmo depois (argumento da direita); se escreveu ironias ao estado soviético (Cantata Rayok, argumento da direita), também cantou o heroísmo da revolução em obras não encomendadas. Shostakovich parece-me ter sido alguém cujo pensamento político possuía pouca relevância e que agia sempre como artista e ponto. Só isso? Não, em minha opinião, ele era um comunista muito crítico e reto, com uma complexa relação de amor e ódio ao poder da URSS. Apenas Stálin era cem por cento abominado. Era um artista, não um político; não seguia as linhas tortuosas, às vezes indefensáveis, que os partidos frequentemente defendem. Utilizou-se de temas de sua época, porém a perspectiva sob a qual via o mundo era, curiosamente, sempre foi a dos mortos. Dos mortos pelos nazistas, pelos anti-semitas, pelos soviéticos, por Stálin ou pelo passar do tempo, como em toda sua obra final. Como escreveu Fernando Monteiro, toda grande obra gira em torno de três temas: Amor, Deus e Morte. Acho que Shostakovich, teve muito a dizer sobre todos, principalmente sobre os dois últimos temas; o primeiro pela inexistência, o segundo pela onipresença.

Aliás, com o passar do tempo — o qual tem o bom costume de fazer aparecer a verdade e o pouco recomendável hábito de fazer desaparecer nossos pobres corpos –, a discussão sobre o pensamento político de Shostakovich tornar-se-á ociosa e ficará o que interessa: o homem e o compositor; e este era um sujeito brilhante e produtivo, deprimido e eufórico, que torcia interminavelmente os dedos, como mostram os filmes soviéticos, sentado num trem olhando a chuva bater na janela; que homenageava a pureza de alguns revolucionários e criticava ou expelia seu amargor e sarcasmo aos governantes; que permanecia parado por horas em silêncio com os amigos de que gostava — e só com eles.

Por falar em gostar, o que gosto em Shostakovich é sua música. Ela é produto de um artista apaixonado e inacreditavelmente produtivo. A forma com que ele se relacionou com seu tempo serviu à sua música e não o contrário. Escrevia para ser compreendido e para expressar-se, mas não tinha ilusões de mudar seu país e o mundo, que é como parece pensar quem só vê política na arte de Shostakovich. Sua música, antiquada para os modernos e moderna para os anacrônicos (sem ofensas, sem ofensas…), consegue ser visceral e cerebral, e concordo com este artigo quando seu autor fala no quanto a audição de Shostakovich demandou-lhe subjetivamente. Não é música para ser assimilada nas primeiras abordagens e nem esquecida facilmente. São experiências oferecidas por alguém disposto a buscar tudo o que estivesse à mão para expressar o que desejava e que produziu uma obra séria, sarcástica, deprimente, divertida, inteligente, lúdica e extraordinária: às vezes, tudo ao mesmo tempo.

A seguir, comento as três últimas grandes obras de Shostakovich.

Quarteto de Cordas Nº 14, Op. 142 (1972-73)

Este é quase um quarteto para violoncelo solo e trio de cordas, tal é a proeminência dada àquele instrumento. É um quarteto inspiradíssimo, escrito em três movimentos (Allegretto – Adagio – Allegretto), e que tem seu centro dramático em um dilacerante adagio de 9 minutos. Não consigo imaginar uma audição deste quarteto sem a audição em seqüência do Nº 15. Eles, que costumam aparecer juntos, seja em vinil ou em CD, formam, em minha imaginação, uma só música.

Quarteto de Cordas Nº 15, Op. 144 (1974)

Este trabalho, assim como a sonata a seguir, são tidas como obras-primas e seriam os dois principais “réquiens privados” de Shostakovich. Concordo.

O que dizer de um obra escrita em seis movimentos, em que quatro deles são adagio e os outros dois são adagio molto, sendo que, destes dois últimos, um é uma marcha funeral e outro um epílogo…? Ora, no mínimo que é lenta. Porém, como estamos falando do Shostakovich final, estamos falando de uma obra que tem como fundo a morte. Há três movimentos realmente notáveis nesta música: a Serenata: Adagio, a Marcha Fúnebre – Adagio Molto e o musicalmente espetacular Epílogo – Adagio Molto. O Epílogo recebeu vários arranjos sinfônicos e costuma aparecer — separadamente ou não do resto do quarteto — em gravações orquestrais.

Sonata para Viola e piano, Op. 147 (1975) – A Última Composição

Esta é a última composição de Shostakovich e uma de minhas preferidas. Ele começou a escrevê-la em 25 de junho de 1975 e, apesar de ter sido hospitalizado por problemas no coração e nos pulmões neste ínterim, terminou a primeira versão rapidamente, em 6 de julho. Para piorar, os problemas ortopédicos voltaram: “Eu tinha dificuldades para escrever com minha mão direita, foi muito complicado, mas consegui terminar a Sonata para Viola e Piano”. Depois, passou um mês revisando o trabalho em meio aos novos episódios de ordem médica que o levaram a falecer em 9 de agosto.

Sentindo a proximidade da morte, Shostakovich escreveu que procurava repetir a postura estóica de Mussorgsky, que teria enfrentado o inevitável sem auto-comiseração. E, ao ouvirmos esta Sonata, parece que temos mesmo de volta alguma luz dentro da tristeza das últimas obras. A intenção era a de que o primeiro movimento fosse uma espécie de conto, o segundo um scherzo e o terceiro um adágio em homenagem a Beethoven. O resultado é arrasadoramente belo com o som encorpado da viola dominando a sonata.

Os primeiros compassos da Sonata ao Luar, de Beethoven, uma obra que Shostakovich frequentemente executava quando jovem pianista, é citada repetidamente no terceiro movimento, sempre de forma levemente transformada e arrepiante, ao menos no meu caso… O scherzo possui uma marcha e vários motivos dançantes, retirados de uma outra ópera baseada em Gógol — seria sua segunda ópera composta sobre histórias do ucraniano, pois, na sua juventude ele já escrevera O Nariz (1929) — que tinha sido abandonada há mais de trinta anos. Outras alusões são feitas nesta sonata. Há pequenas citações da 9ª Sinfonia (de Shostakovich), da 4ª de Tchaikovski, da 5ª de Beethoven, da Sonata Op.110 de Beethoven, de Stravinsky, Mahler e Brahms. E a abertura da Sonata utiliza trecho do Concerto para Violino de Alban Berg, também conhecido pelo nome de “À memória de um anjo”, o qual é dedicado à filha de Alma Mahler, Manon, morta aos 18 anos, com poliomielite.

Creio não ser apenas invenção deste ouvinte- – há uma constante interferência do inexorável nesta música, talvez sugerida pela intromissão de temas de outros compositores na partitura, talvez sugerida pela atmosfera melancólica da sonata, talvez por meu conhecimento de que ouço um réquiem. O fato é que Shostakovich estava aguardando.

Shostakovich morreu sem ouvir a sonata, que foi estreada num concerto privado no dia 25 de setembro de 1975, data em que faria 69 anos.

Um Ato Privado: Uma Cusparada no Cadáver de Pinochet

Augusto José Ramón Pinochet Ugarte (Valparaíso, 25 de novembro de 1915 — Santiago, 10 de dezembro de 2006)

Hoje faz três anos que Pinochet morreu. Quatro dias após sua morte, em 2006, publiquei o post abaixo em meu blog da época. Este grande episódio pessoal foi retirado do El Pais e, mesmo em espanhol, teve importante repercussão, talvez pelo fato de nossa singular “grande imprensa” ter ignorado a história de Francisco Cuadrado Prats e do cadáver do ditador. Porém, meu afeto por este texto de um jornalista espanhol não vem apenas da notícia, mas do fato de que muitos amigos que hoje leem meu blog e se correspondem comigo terem chegado aqui através dele. A história deste artista tranquilo e muito simpático, que resolveu acertar seus débitos de dor, ódio e repulsa quando do falecimento de Augusto Pinochet, me faz sempre sorrir ironicamente. Nos dias subsequentes ao ato, ele dava entrevistas confirmando que fora um ato privado de desprezo e que estava apenas aguardando seu retorno ao anonimato.

Por J. MARIRRODRIGA (Santiago) – Publicado no El Pais

El nieto de un general asesinado escupe al féretro de Pinochet

Augusto Pinochet no sólo recibió el homenaje de sus simpatizantes y del Ejército durante la exposición de su cadáver en la Escuela Militar de Santiago. También recibió el salivazo de un familiar de una de sus víctimas, y sólo un delgado cristal impidió que fuera alcanzado su rostro. Y aunque la dignidad de todas las víctimas de la dictadura es la misma, lo cierto es que el hombre que escupió a Pinochet se convirtió ayer en el héroe de muchos chilenos.

Se trata de un nieto del general Carlos Prats, asesinado junto a su mujer en Buenos Aires en 1974 por orden de dictador. Prats fue el comandante en jefe del Ejército que precedió a Pinochet en el cargo y durante el golpe de Estado permaneció fiel al presidente constitucional, Salvador Allende. Pinochet siempre le negó los honores fúnebres de jefe del Ejército que él mismo recibió el pasado martes.

Hasta la madrugada de ayer se sabía que durante el desfile de simpatizantes frente al cadáver del general muerto se había producido un incidente cuando tres hombres se acercaron al féretro y uno de ellos pareció estornudar sobre él. Muchos de los presentes se lo tomaron como un accidente, algunos hablaron de falta de respeto, pero unos pocos se percataron de que en realidad el hombre que se acababa de inclinar sobre el ataúd, había escupido al rostro del militar fallecido.

Un grupito lo siguió tratando de evitar que abandonara el recinto. El agresor se marchaba caminando tranquilamente. El grupo consiguió darle alcance ya fuera del salón donde se encontraba expuesto el cuerpo de Pinochet y se formó un tumulto que finalizó con la intervención de la policía militar, que rescató al hombre de un grupo que pretendía lincharle allí mismo.

El detenido se identificó ante los uniformados como Francisco Cuadrado, y añadió: “Soy nieto del general Prats”. Los soldados supieron al instante de quién hablaba y optaron por comunicarse con el general director de la Escuela Militar, que ordenó que trasladaran a Cuadrado a su despacho. Tras permanecer unos minutos a solas con el nieto de Prats, el general ordenó que el hombre fuera escoltado hasta la salida del recinto y que un coche lo trasladara a su domicilio. La mayor parte de las personas que aguardaban su turno no se percataron del hecho y el incidente sólo fue un rumor que tardó unas 20 horas en confirmarse.

Francisco Cuadrado Prats, artista plástico de profesión, aguardó durante horas en la fila de miles de simpatizantes del dictador a que llegara su turno. “En un principio me acerqué por allí a ver qué pasaba”, explicó ayer. “Luego decidí quedarme e hice lo que tenía que hacer”.

“Mi última oportunidad”

El nieto del general Prats explicó a los medios de comunicación chilenos que, aunque la Escuela Militar estaba repleta de personas, su acción se había tratado de un “acto privado” ya que ésta era su “última oportunidad”, de mostrar su desprecio por el hombre que, tras ser recomendado por su abuelo para ocupar el cargo de jefe de Ejército, ordenó asesinarle. “Y además indultó a los homicidas”, añadió. Cuadrado, hijo de Sofía Prats, actual embajadora de Chile en Grecia, expresó además su total desacuerdo por el hecho de que el Ejército rindiera honores al dictador, considerado por toda la familia Prats como un traidor desleal. “Era una cuenta pendiente muy personal”, reconoció el hombre.

Prats, el militar leal

Carlos Prats era uno de los generales más leales a Salvador Allende. Era su amigo y aceptó, pese a reticencias personales, formar parte de su Gabinete. Para reemplazarlo al frente del Ejército, Allende se fió de su consejo y nombró comandante en jefe a Augusto Pinochet. Era el 23 de agosto de 1973. Once días después, Pinochet encabezó un golpe de Estado que acabó con la vida de Allende y dio la orden directa de bombardear el Palacio de La Moneda.

El general Prats, heredero de una tradición del Ejército chileno de sometimiento al poder civil, consideró desde entonces a Pinochet como un traidor desleal, el peor insulto que puede recibir un militar.

Prats, casado y con tres hijas, se exilió en Argentina, que pese a las turbulencias políticas todavía vivía en democracia. El 30 de diciembre de 1974 una bomba acabó con su vida y con la de su esposa, Sofía Cuthbert. La justicia argentina ha determinado que el atentado fue efectuado por los servicios secretos argentinos, infiltrados ya por la ultraderecha, pero que quien instigó y ordenó el crimen fue el propio Pinochet.

Años más tarde, las hijas de Prats lograron que Pinochet les diera permiso para repatriar los cuerpos de sus padres, pero se negó a que Prats fuera enterrado con los honores debidos a un ex jefe del Ejército. No fue hasta el año pasado cuando el entonces comandante en jefe del Ejército chileno, Juan Emilio Cheyre, presidió la ceremonia que debía haberse realizado tres décadas antes.

Adendo de hoje, 10/12/2009:

Em 21 de dezembro de 2006, o prefeito de Las Condes, Francisco de la Maza, demitiu o neto do general chileno Carlos Prats de suas funções como assessor cultural do municipio.

“Nesta decisão, não há ideologia”, declarou De la Maza ao Canal 13, em Santiago. “Na minha opinião, ele agiu de uma forma que não corresponde a um funcionário público e a uma pessoa ligada ao município de Las Condes. Dias depois, De la Maza propôs que a avenida principal da elegante Las Condes recebesse o nome de Augusto Pinochet.

Em resposta, o senador Nelson Ávila anunciou a instalação de uma “escarradeira” pública que levaria o nome do ditador morto, e acrescentou que esperava contar com Cuadrado Prats para sua inauguração. Não sei se ela existe.