14 de fevereiro (sexta-feira): o hotel em Londres

14 de fevereiro (sexta-feira): o hotel em Londres

Nas duas oportunidades anteriores em que fui à Londres, fiquei no EasyHotel de Earl`s Court. Desta vez, fomos pra lá novamente. Era uma escolha minha que tinha suas razões superiores: trata-se de um hotel barato e extremamente bem localizado, próximo da região dos principais museus, com boas opções de restaurantes e supermercados, além de uma estação de metrô duas quadras adiante. Claro que o fato de ser barato tem suas consequências: nada de serviço de quarto e dependências diminutas.

Só que as tais dependências nunca tinham sido tão mínimas quanto as do quatro 104 (com janela) que nos reservaram desta vez. Quando entramos no quarto, vimos que não conseguiríamos sequer abrir nossas malas, nenhuma delas, a não ser que o fizéssemos em cima da cama. A Elena experimentou um surto quase silencioso. Eu comecei a rir, o que é uma variação do mesmo sintoma psicológico.

Desci até a recepção para reclamar. Ouvi que o hotel estava cheio para o fim-de-semana e que o sistema reservara aquele quarto de forma automática, sem intervenção humana. Depois de muitas reclamações, conseguimos arrancar a promessa de uma mudança para o quarto 209, o que nos dava mais escadas para subir, mas mais espaço para respirar. Porém a mudança só ocorreria na terça-feira. Ou seja, metade de nossa temporada londrina se daria naquele quartinho. O jeito foi se adaptar.

Deixamos nossas malas no luggage store e subimos apenas com o necessário numa das malas de mão. Usamos o parapeito da janela como prateleira, a TV e o chuveiro como varal. A coisa ficou tão boa que, dois dias depois, a Elena tinha criado uma sistemática que já nos fazia achar tudo bastante confortável, mesmo que tivéssemos que combinar quem levantaria e caminharia pelo quarto. Os dois ao mesmo tempo era impossível. Ficamos com pena de abandonar nosso casulo.

Mas o abandonamos, ganhando o latifúndio do quarto 209. Já estávamos tão minimalistas que, no novo quarto, jantávamos os pratos pré-prontos comprados nos supermercados próximos. Na próxima viagem a Londres, já sabemos que o melhor é alugar um flat. O que gastaremos a mais com ele, economizaremos em comida, pois o valor das coisas compradas é muito pequeno se comparado ao preço dos restaurantes. O problema talvez seja o wi-fi, que no EasyHotel era ótimo.

Foi depois da crise do quarto que fomos a um pub e descobrimos estar no Valentine`s Day, como já expliquei no primeiro post desta série.

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Esta foto foi tirada encostado na parede. À direita, a porta do banheiro; à esquerda, a do quarto. Era nós ou as malas.
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A cama. Não há reclamações sobre ela. Era confortabilíssima.
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Vista de cima da cama, com joelho.
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A TV varal.
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Aspecto das meias e da samba-canção deste que vos escreve.

13 e 14 de fevereiro: ainda de Porto Alegre a Londres

13 e 14 de fevereiro: ainda de Porto Alegre a Londres

Pois comecei a contar nossa viagem sem falar no embarque em Porto Alegre. A Elena manifestou estranheza pelo fato de estarmos saindo do país sem estresse, brigas, nada. As malas tinham sido fechadas desorganizadamente e às pressas, tudo em cima da hora. Desta forma, tivemos em nossas mãos tudo para um pequeno atrito, só que este não ocorreu. Esta tem sido nossa rotina. Minha companheira sentia-se vivendo uma doce e inédita irrealidade, onde as coisas caminhavam natural, amorosa e cordialmente. E reclamou, para minha diversão. Propus um espancamento súbito, mas ela apelou para a Maria da Penha e achei melhor deixá-la insatisfeita, sem problemas.

O voo pela TAP foi perfeito, em 11 horas estávamos em Lisboa, conforme as fotos do post anterior. Nossa maior preocupação foi em vão: acontece que minha companheira é alérgica à proteína do leite e a empresa portuguesa respeitou a dieta combinada quando da compra das passagens pela Casamundi. Tudo certo.

Duas horas depois, pontualmente, a TAP já nos levava para Londres, não para o aeroporto de Heatrow, mas para Gatwick. Fizemos lá a imigração. Eu, como cidadão europeu e, portanto, pessoa de qualidades especiais, fui para a fila rápida e descomplicada dos semideuses da União Européia; a Elena, sendo um bielorrussa naturalizada brasileira, foi para a fila dos sob desconfiança. Eu passei tranquilo, claro, já a Elena teve que responder as perguntas de um inglês sorridente e cortês.

— O que você veio fazer aqui?

— Vim conhecer a cidade e assistir concertos.

— O que você faz?

— Sou violinista de uma Orquestra Sinfônica no Brasil.

— Música clássica?

— Sim.

— Hummm… E onde está seu violino?

— Deixei no Brasil.

— Good, férias são férias. Está sozinha?

— Não, estou com meu boyfriend.

— E onde ele está?

— Na outra fila.

— Mas por que ele está na outra fila?

— É que ele é cidadão português.

O homem ficou pensativo e concluiu:

— Makes sense.

— Poderia tirar os óculos para eu ver melhor seu rosto?

— Sim.

— E vão para onde depois?

— Para Paris e Lisboa.

— Gostaria de ver a passagem.

— Aqui está.

— Perfect. Enjoy London!

E saímos para o mundo! Ou mais exatamente para o Gatwick Express, modo mais barato e fácil de ir daquele aeroporto até o centro de Londres, mais precisamente a Victoria Station. É a melhor opção: os trens saem a cada 15 min, o trem vai direto e a passagem custa 19 pounds por pessoa. Dali para o Earl`s Court é uma barbada de metrô.

No próximo capítulo, meus sete leitores saberão sobre nossa chegada ao hotel, a qual foi bastante espetacular e que deu à Elena o esperado alívio: finalmente, o estresse.

Ela poderia ter mostrado esta foto pro cara, né?
Ela poderia ter mostrado esta foto pro cara, né? | Foto: Vanessa Wigger