Era uma noite de concerto da Ospa e já haviam me alertado que os ensaios de segunda e terça-feira tinham sido bons e que eu poderia elogiar alguns solos de inédita compreensão musical, mas, infelizmente, só posso comentar o que vi e ouvi, da forma como vi e ouvi. E, como a Elena estava em recuperação em casa, não fui, não vi nem ouvi. Mas vi um filme por indicação dela. Por ela e ele, fiquei em casa e ri, muito.
Para Roma, com amor é um filme de 2012 de Woody Allen que não tinha visto nos cinemas. É um exemplar que se destaca dos últimos filmes de Allen por ser extremamente engraçado. Nele, são contadas alternadamente quatro histórias. Numa delas, um casal americano, papéis de Woody Allen e Judy Davis, viaja para Roma a fim de conhecer a família do noivo de sua filha, cujo pai revela-se um extraordinário cantor de ópera, mas apenas quando sob o chuveiro. Outra história envolve um italiano comum, papel de Roberto Benigni, que se torna uma inexplicável celebridade. Um terceiro episódio retrata um arquiteto da Califórnia, Alec Baldwin, que visita a Itália com um grupo de amigos, vendo seu passado na pessoa de um rapaz que é seduzido por uma dessas mulheres que buscam, cheias de artifícios, a atenção sexual dos homens em torno. Por último, temos dois jovens recém-casados do interior da Itália. Tudo parece ir muito bem até que a moça se perde pela Roma histórica atrás de alguém que lhe arrume o cabelo. O filme foi um grande sucesso, tendo arrecadado 73 milhões de dólares.
Lembro que o filme irritou alguns italianos destituídos de uma das formas da inteligência, a auto-ironia. Bobagem. Talvez a mais hilariante das histórias seja a do produtor musical “à frente de seu tempo” Woody Allen. Ele resolve levar ao estrelato o cantor de banheiro. O conhecido tenor Fabio Armiliato vive este papel de forma absolutamente brilhante, trazendo para o filme todo o fanatismo dos italianos pela ópera, além da arte milenar dos cantores de chuveiro… Judy Davis está perfeita no papel da cética psiquiatra, esposa de Allen. Nesta história, aparece a primeira italiana típica: a indignada cuidadora do marido cantor e dos filhos. Na segunda história, Roberto Benigni é um burocrata sem graça, até que começa a ser perseguido pela praga romana dos paparazzi, presentes no cinema italiano desde Fellini. Nestas duas partes, temos mais dois arquétipos: a italianuda esbelta, peituda e gostosona e a que esposa que preserva seu casamento, não obstante… não obstante qualquer coisa. A mais internacional das histórias é a da moça cheia de artimanhas que conquista todos os homens que lhe aparecem pela frente. Voltamos à Itália na história do casal que se perde um do outro. É tão engraçada quanto a do cantor. Como muitas vezes ocorre, a mulher é muito mais esperta do que o homem, que casou virgem e que acaba envolvendo-se com uma prostituta vivida magnificamente pela mimética Penélope Cruz. A mulher do interior, coitada, provavelmente jamais será feliz com seu marido catolicão.
O filme é muito bom. Foi saudado tanto por minhas risadas quanto pelas da Elena, cuja cabeça encontrava-se no meu ombro.