Galina, de Galina Vishnevskaya

Galina, de Galina Vishnevskaya

Eu já tinha adiantado a vocês, meus sete leitores, de que estava lendo uma obra-prima. Bem aqui, ó! Mas agora vamos a algo mais organizado sobre o livro. Galina Vishnevskaya (1926 – 2012) foi um soprano russa colocada em posição fundamental dentro da arte soviética. Ela foi casada com o grande violoncelista Mstislav Rostropovich e ambos eram amigos de gente como Dmitri Shostakovich e Aleksandr Soljenitsin. Foi a maior cantora de sua época e foi usada como propaganda do país no mundo inteiro. Só que não apenas isso. Era uma pessoa que não apenas tinha uma voz monumental e cantava notavelmente, ela tinha um enorme potencial como escritora. Seu texto é extremamente belo ao narrar fatos de sua juventude, aprendizado, ascensão e carreira. Eu realmente não sei como este livro — que foi traduzido em quase todas as línguas — não possui uma edição em português.

Não pense que você encontrará aqui um furibundo discurso anti-soviético como os de Soljenitsin, Quando Galina, começou a discordar, ela o faz com argumentos e fatos. Então, aqui você encontrará coisa muito melhor, você encontrará humanidade e vida, vindas de uma artista que começou recebendo mil honrarias — Legião de Honra, Artista do Povo da URSS, Ordem de Lenin, Oficial de Artes e Letras — até se ver praticamente impedida de trabalhar na URSS, assim como seu marido. Ela, a prima donna absoluta do Bolshoi, conta a história de sua vida no século XX tendo por cenário o cerco de Leningrado, o aparecimento do realismo socialista de Jdanov, as turbulências stalinistas e pós-Stalin, curiosidades várias sobre muita gente famosa — não esquecer de Benjamin Britten –, além de insights históricos e pessoais muito significativos, que é o que faz este livro ser tão fantástico. É um livro sobre arte e vida, ou sobre a vida artística de alguém que sabe narrar como poucos.

E Galina tem um incrível bom humor e o talento para contar piadas. Elas estão longe de serem maioria no livro, mas quando aparecem… As brigas hilariantes com Rostropovich… Há capítulos lindos, como o de sua relação com os pais, e de suas aulas de canto com Vera Nikolayevna Garina e o final.

Quando comecei a ler o livro não consegui mais largar. Galina Vishnevskaya não era apenas uma grande cantora de ópera, mas uma contadora de histórias cativante. Suas descrições da amarga pobreza de sua infância e depois das atrocidades testemunhadas durante a Segunda Guerra Mundial quando ela era adolescente, apenas aumentam o horror e aumentam a descrença e a admiração por ela ter sobrevivido, tanto física quanto moralmente.

Olha, vale muito a pena correr atrás deste livro. É difícil de encontrar, mas se você procurar encontra em espanhol ou inglês. Desculpem, mas é uma absoluta obrigação a leitura deste livro por qualquer pessoa ler e ter em sua biblioteca — especialmente se estiver ligada às artes e/ou política de qualquer forma.

Galina Vishnevskaya

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Que livro!

Não deem bola para a horrível capa desta edição espanhola. Este é um livro absolutamente apaixonante que me foi indicado pela Elena. Trata-se de “Galina”, a autobiografia da cantora lírica soviética Galina Vishnevskaya. É um documento humano de raríssima qualidade e, puxa vida, ela é uma escritora genial. Esposa de Mstislav Rostropovich, artista talvez maior que o marido, ela consegue ser engraçada, trágica, irritadíssima e temperamental como a diva que era, e sempre envolvente e inteligente. Tive que comprar o livro em espanhol após a Elena ter me INTIMADO. “Tu tem que ler ‘Galina’, tu vai adorar! Lê em inglês ou espanhol, no que tiver, mas lê”. Não há uma tradução para o português, o que é um CRIME. Escrito no exílio, poucas vezes li um texto de tamanha sinceridade. Talvez apenas em Bernhard. Todo o sistema artístico da URSS está lá descrito, assim como suas irritações com os norte-americanos durante as excursões em concertos. O que são aqueles capítulos sobre sua professora de canto? São 344 páginas — em inglês e russo o livro tem mais de 500 páginas, os espanhóis trataram de deixar a letra bem pequena… — para serem lidas de joelhos e nem hay que tener un español así tan bueno. A clareza das frases e dos raciocínios apontam para uma pessoa indiscutivelmente genial. Fala de si, mas em nenhum momento deixa de lado o cenário todo. Que mulher! Agora mesmo dei risadas — tive que interromper a leitura — durante uma briga do célebre casal. Se este livro aparecer na sua frente, agarre-o com firmeza. Não haverá arrependimento, garanto.

Um exemplo do humor do livro:

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Notinha sobre Shostakovich

Notinha sobre Shostakovich

Estava agora pensando sobre como os velhos amigos — incluindo-se aí Mravinsky — foram um a um abandonando Shostakovich antes da estreia da 13ª Sinfonia. Até o poeta Evtushenko tratou de mudar os versos para se proteger da repressão soviética. E Shostakovich, trêmulo e doente, após viver anos esperando ser preso, foi até o fim com o novo amigo Kondrashin. Não precisava fazer isso. Mas há pessoas nas quais é sempre maior o amor pela arte e pela verdade.

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Duas mortes de 2012: Galina Vishnevskaya e Dietrich Fischer-Dieskau

Galina Vishnevskaya canta Tchaikovsky com o maridão Rostropovich ao piano (sim, ao piano).

Dietrich Fischer-Dieskau, talvez o maior cantor de todos os tempos, canta o lied Der Leiermann, da Winterreise de Schubert. O pianista é apenas Alfred Brendel.

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Galina Vishnevskaya (1926 – 2012)

Todo mundo morre, mas algumas mortes, normalmente as que foram precedidas de  vidas muito ricas, longas e frutíferas, nos deixam paradoxalmente tristes. Galina Vishnevskaya era uma imensa cantora, mas era ainda mais. Foi mulher de Rostropovich, amiga de Shostakovich e entendia como poucas a alma russa — que, como disse minha amiga Elena Romanov, é capaz de contar sua vida inteira e todos os seus problemas a um desconhecido, subitamente. São absolutamente eletrizantes suas atuações como a Lady MacBeth de Mtsensk (ópera de Shosta que alguém levou emprestado lá de casa) e como a Tatiana de Eugene Onegin, de Tchaikovsky.

Agora, quero ver alguém não fixar-se em Galina neste mau, sim, mau filme soviético de 1966 com a Lady MacBeth de Shostakovich. Ela era perfeita e é difícil tirar os olhos dela:

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