Ontem, o programa da Ospa era bem bom, —
Brenno Blauth: 3 Movimentos para Quinteto de Sopros e Cordas (Estreia)
João Guilherme Ripper: Concerto a Cinco (homenagem ao Quinteto Villa-Lobos pelos 50 anos)
Dmitri Shostakovich: Sinfonia nº 5
Regente: Victor Hugo Toro
Solista: Quinteto Villa-Lobos
— mas é muito claro quando o regente não agrada à orquestra por estilo pessoal ou incompetência. Creio que não preciso falar com nenhum músico para afirmar tal fato. As encantadoras obras de Brenno Blauth e João Guilherme Ripper foram levadas brilhantemente pelo Villa-Lobos e pela Ospa, apesar da confusão ocorrida no início do concerto, quando os violoncelos ou os contrabaixos simplesmente não entraram e tudo teve que ser recomeçado. Fato inédito: o maestro Toro olhou para a direita e viu apenas o pano vermelho. Estávamos com um ou dois segundos de música, então a coisa passou batido, principalmente se considerarmos que a obra de Blauth, que ficara anos perdida entre os papéis de sua mulher, era de excelente qualidade e compensou o contratempo. A música recomeçou, mas ficou aquele fiasquinho na conta.
A primeira parte do concerto, onde foram tocadas as obras de Blauth e Ripper, foi a melhor. Os extraordinários solistas do Quinteto Villa-Lobos arrebentaram, só não precisavam ter tocado com tanto descuido o bis com a Ária da Bachiana Brasileira Nº 5. O bis é um momento de alegria. O público o exige num elogio aos solistas e o solista retribui a homenagem reafirmando sua categoria. Não é um momento para crivar de erros uma peça conhecida, ainda mais num arranjo assim assim.
A conhecidíssima Quinta de Shostakovich foi interpretada mais na concepção heroica de Bernstein do que na contida de Mravinsky, mas a orquestra não parecia tão entusiasmada quanto Toro, que chegava a pular no pódio com sua batuta daquela forma que Fabiana Murer não fez com sua vara. As cordas da orquestra estiveram muito bem, assim como flautas e oboés — com destaque novamente para os impecáveis Artur Elias e Viktória Tatour — , mas os metais estiveram desfalcados e mals, muito mals. Apenas para usar uma expressão comum, diria que tinha gato (mais provavelmente uma gata) na tuba e filhotinhos pelos outros instrumentos.
Apesar da excelente primeira parte, ficou aquela impressão de que o concerto poderia ter sido muito melhor.
P.S. — Ah, esqueci: sentei lá em cima no Dante Barone. Num local onde a acústica era efetivamente péssima. Fiquei sonhando com a construção e desejando o bom andamento das licitações da Sala Sinfônica.