Uma de minhas experiências mais felizes no jornalismo foi a de trabalhar com um menino que sofria do mesmo Asperger da Greta. Um dos donos da empresa onde eu trabalhava me pediu para acompanhá-lo com cuidado e atenção. Leigo, nervoso e um pouco contrariado, li o que podia sobre a síndrome e o menino fez coisas incrivelmente positivas, com sua absurda capacidade de concentração. Ele só falava comigo, os outros só recebiam um oi e olhe lá. Na hora de sair, ele sempre me perguntava sobre sua produção naquele dia. Ela era sempre espantosa. Traduzia, revisava e descobria notícias com uma velocidade diferente do habitual, acompanhada de uma profunda atenção aos detalhes. Certamente devia sofrer com a dificuldade de se relacionar, era mesmo uma pessoa original que raramente olhava para mim e que vinha conversar sobre uns assuntos fora do habitual — eu me divertia com isso, mas tinha enorme respeito por ele e acho que ele gostava de passar aquelas manhãs trabalhando comigo. Sei lá onde anda hoje, espero que bem. Tenho carinho por ele.