Convivendo com o Asperger de Greta

Uma de minhas experiências mais felizes no jornalismo foi a de trabalhar com um menino que sofria do mesmo Asperger da Greta. Um dos donos da empresa onde eu trabalhava me pediu para acompanhá-lo com cuidado e atenção. Leigo, nervoso e um pouco contrariado, li o que podia sobre a síndrome e o menino fez coisas incrivelmente positivas, com sua absurda capacidade de concentração. Ele só falava comigo, os outros só recebiam um oi e olhe lá. Na hora de sair, ele sempre me perguntava sobre sua produção naquele dia. Ela era sempre espantosa. Traduzia, revisava e descobria notícias com uma velocidade diferente do habitual, acompanhada de uma profunda atenção aos detalhes. Certamente devia sofrer com a dificuldade de se relacionar, era mesmo uma pessoa original que raramente olhava para mim e que vinha conversar sobre uns assuntos fora do habitual — eu me divertia com isso, mas tinha enorme respeito por ele e acho que ele gostava de passar aquelas manhãs trabalhando comigo. Sei lá onde anda hoje, espero que bem. Tenho carinho por ele.

Na Austrália, nosso futuro

Na Austrália, nosso futuro

Os incêndios na Austrália atingiram um ponto de não retorno. Até ao momento são dezessete mortos confirmados, dezenas de milhares de pessoas encurraladas nos Estados de Nova Gales do Sul e de Victoria (a maioria sem água e comida), vinte cidades cercadas pelas chamas, milhares de casas reduzidas a cinzas, centenas de animais queimados, etc. A cidade de Bargo, a sudoeste de Sydney, praticamente desapareceu do mapa. Ao menos três milhões de hectares foram devastados em todo o país durante os últimos meses de incêndios, que destruíram mais de 800 casas.

A intensa onda de calor — semelhante a que tivemos na semana passada em Porto Alegre — favorece a propagação dos incêndios que afetam a Austrália e os focos fora de controle nas proximidades de Sydney foram agravados por estas condições “catastróficas”, afirmaram as autoridades. Hoje, Sidney está coberta pela fumaça dos incêndios.

Aquele “ney” apagado pelos avisos no mapa é Sydney (5 milhões de habitantes)

As evacuações em massa, muitas delas por mar, não devem evitar o número de vítimas mortais, pois o navio de desembarque militar HMAS Choules transporta apenas oitocentas pessoas de cada vez e os aviões não chegam aos pontos críticos.

Isto me leva a pensar sobre o futuro que nos espera. Estamos na mesma latitude da Austrália. Quando a tragédia for global, os governos democráticos serão substituídos por ficções Philip K. Dick ou Margaret Atwood e outros. O futuro será do fogo.