A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.
Olá!
Retomamos a nossa newsletter recomendando três excelentes livros para começar 2022. Uma autobiografia de Saramago escrita por José Luís Peixoto — sim, isto mesmo, é um romance baseado na vida de Saramago e Peixoto –, um livro sobre uma pediatra, digamos, pouco adequada a seu ofício e, agora sim, uma biografia de Roland Barthes.
Difícil começar melhor o ano de 2022, o ano de tirar o cara de lá.
Boa semana com boas leituras!
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Autobiografia, de José Luís Peixoto (Cia. das Letras, 272 páginas, R$ 69,90)
Neste romance, José Luís Peixoto tem a ousadia de transformar em personagem ninguém menos que José Saramago. Na Lisboa dos anos 1990, o jovem escritor José vê seu caminho se cruzar inúmeras vezes com o de outro autor, Saramago, depois de ser contratado para escrever sua biografia. Seja em feiras de livros ou reuniões com o próprio biografado, esses encontros são o início de uma história surpreendente. José Luís Peixoto, considerado pelo autor de Ensaio sobre a cegueira “uma das revelações mais surpreendentes da literatura portuguesa”, acompanha nesta Autobiografia tanto José quanto Saramago, dois personagens distintos mas complementares. Ao explorar os limites entre a vida e a literatura com uma prosa carregada de detalhes e lirismo, e ao mesmo tempo mergulhar fundo nas obsessões, Peixoto constrói uma narrativa que leva os leitores a um final inesperado.
A Pediatra, de Andréa Del Fuego (Cia. das Letras, 160 páginas, R$ 54,90)
Com humor mordaz, o novo romance de Andréa del Fuego apresenta a história de uma personagem muito peculiar: Cecília, uma pediatra nada afeita a crianças. Cecília é o oposto do que se imagina de uma pediatra – uma mulher sem espírito maternal, pouco apreço por crianças e zero paciência para os pais e mães que as acompanham. Porém a medicina era um caminho natural para ela, que seguiu os passos do pai. Apesar de sua frieza com os pacientes, ela tem um consultório bem-sucedido, mas aos poucos se vê perdendo lugar para um pediatra humanista, que trabalha com doulas, parteiras e acompanha até partos domiciliares. Mesmo a obstetra cesarista com quem Cecília sempre colaborou agora parece preferi-lo. Ela fará, então, um mergulho investigativo na vida das mulheres que seguem o caminho do parto natural e da medicina alternativa, práticas que despreza profundamente. Em paralelo, vive uma relação com um homem casado, de cujo filho ela acompanhou o nascimento como neonatologista. E é esse menino que irá despertar sentimentos nunca antes experimentados pela pediatra.
Roland Barthes: Biografia, de Tiphaine Samoyault (Ed. 34, 616 páginas, R$ 98,00)
Figura central do pensamento francês no século XX, Roland Barthes (1915-1980) foi também um ser à margem. O pai morto na Primeira Guerra Mundial, a mãe adorada durante toda a vida, a descoberta precoce da homossexualidade logo lhe incutiram o sentimento da própria diferença. Viveu à distância os grandes acontecimentos da história contemporânea, mas nem por isso sua vida foi menos marcada pelos ímpetos violentos e intensos do século que ele ajudou a tornar inteligível. Com base em materiais inéditos (arquivos, diários, documentos pessoais), esta biografia de Barthes lança nova luz sobre suas ideias, suas recusas, seus desejos. Percorrendo os temas de eleição do autor — obras, criadores, linguagens, teorias, mitos —, Tiphaine Samoyault confere coerência e substância à figura de Barthes. Homem de sua época, ele segue falando à nossa, seja por sua prontidão perspicaz à aventura intelectual e literária, seja ainda por sua reticência íntima e irônica diante de todo discurso de autoridade.