Segundos Fora, de Martín Kohan

Segundos Fora, de Martín Kohan

segundos_foraSegundos fora (Cia. das Letras, 252 páginas) é dos melhores romances latino-americanos modernos que li no século XXI e, se tivesse que descrevê-lo em apenas uma expressão, diria que é um estudo sobre a velocidade, sobre o ritmo. Um dos principais méritos do livro está na diferença de ritmo com que as três histórias são contadas. Meus sete leitores podem permanecer calmos: eu não vou contar como se desenvolvem nem onde desaguarão.

Neste livro de Kohan, um jornal de Trelew, no litoral da Patagônia, está completando 50 anos. Isso em 1973. Então, eles decidem fazer um número especial destacando algo que aconteceu em 1923, ano da fundação do jornal. A editoria de esportes, através do jornalista Verani, quer a muito polêmica luta de boxe entre Jack Dempsey e Luis Ángel Firpo e a de cultura, com Ledesma, quer a estreia da Sinfonia Nº 1 de Mahler sob a regência de Richard Strauss, em Buenos Aires. O embate entre as duas editorias e mais um crime misterioso ocorrido no mesmo ano rende um romance esplêndido.

A história da curtíssima e muito polêmica luta entre Dempsey e Firpo é contada nos mínimos detalhes, com deliberada lentidão, como num romance de Saer. Os diálogos de entre Verani e Ledesma não têm descrições, são velocíssimos. Com travessões e mai travessões, são como falas teatrais onde um tenta convencer o outro de sua opinião. Entre eles, fica o crime, narrado de forma convencional.

O intrincado plano de desenvolvimento do romance encontra em Kohan um estupendo narrador. Segundos fora resulta de notável legibilidade. É como uma canção complexa tratada por um excelente cantor — tudo soa simples e natural. Também é como uma sinfonia de Mahler, que em segundos muda seu de gênero, por exemplo, do contraponto mais sublime para uma bandinha alemã — e suas sinfonias são exatamente assim. Dentro desta estrutura, Kohan vai brincando com as diferentes velocidades narrativas.

Enorme destaque para o personagem Ledesma, um típico e apaixonado amante da música erudita. Sim, identifiquei-me totalmente e muitas vezes adivinhava seus argumentos seguintes.

Fiquei totalmente apaixonado pelo romance, assim como já tinha ficado por Duas Vezes Junho. O outro livro que li de Kohan, Ciências Morais, me pareceu mais fraco. E justamente este virou filme (Olhar Invisível, no original La Mirada Invisible, de Diego Lerman). Nem sempre dá para acertar, né, Martín?

Martín Kohan
Martín Kohan

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