Copiado de um e-mail recebido em 31 de dezembro de 2005, destas pessoas aqui.
Pessoas!
Quase qualquer coisa que se diga ou deseje nessa época corre o risco de soar lugar comum, de ser óbvio, de parecer pouco ou meramente protocolar. Corra-se o risco.
Existe uma quantidade expressiva de pessoas para quem o Natal é desprovido de sentido religioso e, portanto, está muito mais associado aos propósitos da sociedade consumista na qual estamos inevitavelmente mergulhados: movimentação do mercado. Não pensem nesse comentário apenas como uma crítica ácida. A movimentação do mercado pode ser bem utilizada como festividade e como meio para distribuir, na forma de presentes – grandes e caros ou simples, não importa – afeto às pessoas queridas (mas vale frisar que o gasto não basta; há o tempo!).
Não deveria ser assim? Este não é o ideal? Certamente cada um tem o seu próprio conceito de ideal. E para quê toda essa lenga-lenga? É apenas porque eu não enviei mensagem de natal a ninguém e não estou me desculpando, apenas embasando. Foi deliberado e planejado porque prefiro imensamente o significado e efeito da comemoração do Ano Novo.
Sim, todos sabemos que o primeiro dia do ano que começa não difere em absolutamente nada do dia 31 de dezembro. Mas dentro de nós pode ser totalmente outra coisa. O ser humano precisa de símbolos e ritos – isso é fato – e eles podem cumprir um papel importante na nossa saúde emocional e ser um bom motor para mudar o mundo à nossa volta! Enfim: gosto do ano novo! E comemoro-o a rigor desejando com veemência que todas as pessoas de quem gosto possam usufruir de uma bela sensação nessa data.
De mensagem fica mesmo a máxima sempre válida do Walter Franco: “Tudo é uma questão de manter / a mente quieta / a espinha ereta / e o coração tranquilo”. Meta nada simples de se atingir, mas válida como base para qualquer outra coisa que se queira na vida. E que venha 2006(9) e nos encontre fortes e contentes, para que sejamos inteiros e maiores a cada passo.
Laura Paz
Assino embaixo e por todos os lados (como diria o Inagaki).
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Assisti poucos filmes em 2009, mas foram até demais.
Acho que nunca vi tantos filmes regulares como em 2008. Pouca coisa era agressivamente ruim e quase nada era indiscutivelmente bom. Mas acho que dá para salvar 4,5 filmes. Podemos começar por O Segredo do Grão, de Abdel Kechiche, um filme de visceral realismo que tem como tema a singela inauguração de um restaurante dentro de um barco numa cidade portuária da França. Trata do choque cultural entre a comunidade árabe e a francesa, mas é universal ao descrever detalhadamente conflitos familiares. A câmara móvel de Kechiche é apenas aparentada dos filmes do Dogma 95, pois ela não serve para demonstrar movimento ou despojamento, estando mais a serviço da busca de ângulos oiginais, muitas vezes aproximando-se dos atores como se quisesse penetrá-los ou acariciá-los. Outro grande filme foi o romeno 4 meses, 3 semanas e 2 dias, de Cristian Mungiu, Palma de Ouro de 2007. Ele conta a história de duas colegas de quarto obrigadas a uma verdadeira odisséia para que uma delas pudesse realizar um aborto ilegal na Romênia de Ceaucescu. É um filme sem a menor preocupação moral ou religiosa. Descreve como as duas fizeram para livrar-se de uma incomodação. Gabita, a grávida, deixa a operacionalização do aborto para Otilia, sua amiga. Gabita parece indiferente enquanto Otilia faz contatos com aborteiros, porteiros — todos pequenos ditadores cheios de mistérios — e depois trata de livrar-se do corpo do inquilino da amiga. Estes dois filmes têm algo em comum: ambos têm longas cenas que causam enorme angústia ao espectador.
E sim, os dois filmes dos irmãos Coen foram excelentes. Em No Country for old men (Este país não é para velhos em Portugal e um título qualquer no Brasil), a acidez dos Coen cai adequadamente para narrar com frieza uma história amalucada e violenta. Meio western, meio thriller, quase sem trilha sonora e com cenas antológicas, é um grande filme. Já Burn after reading (surpreendentemente Queime depois de ler no Brasil) tem a paranóia americana como alvo. É um filme que conta muita coisa em círculos, não chega a lugar algum e nem quer, mas nos arranca boas risadas. A cena de George Clooney em pânico por motivos que o espectador sabe serem falsos vai para minha galeria pessoal de momentos inesquecíveis.
Disse 4,5 filmes? Pois é, o 0,5 é do excelente Vicky Cristina Barcelona de Woody Allen.
E o Prêmio de MAIOR MICO DE 2009 vai para o discursivo homem de cuecas: Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight).
Abaixo, a lista completa:
2008/56 – Ainda Orangotangos – Ainda Orangotangos – 2007 – Brasil – Gustavo Spolidoro – 2
2008/55 – O Segredo do Grão – La Graine et le Mulet – 2007 – França – Abdel Kechiche – 5
2008/54 – Luz Silenciosa – Sellet Licht – 2007 – México / França / Alemanha / Holanda – Carlos Reygadas – 3
2008/53 – 007 – Quantum of solace – Quantum of solace – 2008 – EUA / Inglaterra – Marc Forster – 2
2008/52 – Queime depois de ler – Burn After Reading – 2008 – EUA – Ethan e Joel Cohen – 5
2008/51 – Lemon Tree – Etz Limon – 2008 – Israel / Alemanha / França – Eran Riklis – 4
2008/50 – Caos calmo – Caos Calmo – 2008 – Inglaterra / Itália – Antonio Luigi Grimaldi – 3
2008/49 – Vicky Cristina Barcelona – Vicky Cristina Barcelona – 2008 – Espanha / EUA – Woody Allen – 5
2008/48 – Estômago – Estômago – 2007 – Brasil / Itália – Marcos Jorge – 3
2008/47 – Fatal – Elegy – 2008 – Estados Unidos – Isabel Coixet – 5
2008/46 – O pequeno tenente – Le petit lieutenant – 2005 – França – Xavier Beauvois – 3
2008/45 – Ensaio sobre a cegueira – Blindness – 2008 – Canadá / Brasil / Japão – Fernando Meirelles – 3
2008/44 – Reflexos da Inocência – Flashbacks of a fool – 2008 – Inglaterra – Baille Walsh – 4
2008/43 – No Such Thing – No Such Thing – 2001 – EUA – Hal Hartley – 5
2008/42 – Quem disse que é fácil? – ¿Quién dice que es fácil? – 2007 – Argentina / Espanha – Juan Taratuto – 3
2008/41 – Ao Entardecer – Evening – 2007 – EUA / Alemanha – Lajos Koltai – 4
2008/40 – Quando estou amando – Quand j`étais chanteur – 2006 – França – Xavier Giannoli – 3
2008/39 – A Questão Humana – La Question Humaine – 2007 – França – Nicolas Klotz – 2
2008/38 – O Balão Vermelho / O Cavalo Branco – Le Balon Rouge / Crin Blanc: Le Cheval Sauvage – 1956 / 1953 – França – Albert Lamorisse – 4
2008/37 – Meu irmão é filho único – Mio fratello è figlio único – 2007 – Itália – Daniele Luchetti – 4
2008/36 – Amar… Não tem preço – Hors de prix – 2008 – França – Pierre Salvadori – 1
2008/35 – Batman – O Cavaleiro das Trevas – The Dark Knight – 2008 – EUA – Christopher Nolan – 1
2008/34 – Do Outro Lado – Auf der anderen Seite – 2006 – Alemanha / Turquia – Faith Akin – 5
2008/33 – Antes que o diabo saiba que você está morto – Before the devil knows you´re dead – 2007 – EUA – Sydney Lumet – 4
2008/32 – O Banheiro do Papa – El Baño del Papa – 2007 – Uruguai / Brasil / França – Enrique Fernández e César Charlone – 4
2008/31 – O Labirinto do Fauno – El Laberinto del Fauno – 2006 – Espanha / EUA / México – Guillermo del Toro – 3
2008/30 – Jornada da Alma – Prendimi L`Anima – 2003 – França / Itália – Roberto Faenza – 3
2008/29 – Bella – Bella – 2006 – México / EUA – Alejandro Gomez Monteverde – 3
2008/28 – Control – Control – 2007 – Inglaterra – Anton Corbijn – 4
2008/27 – Longe dela – Away from her – 2006 – Canadá – Sarah Polley – 3
2008/26 – A Outra – The Other Boleyn Girl – 2008 – Grã-Bretanha – Justin Chadwick – 2
2008/25 – Sex and the City – Sex and the City – 2008 – EUA – Michael Patrick King – 3
2008/24 – Bloom – Bloom – 2003 – Irlanda – Sean Walsh – 3
2008/23 – Confiança – Trust – 1990 – EUA / Inglaterra – Hal Hartley – 4
2008/22 – A Vida é um Milagre – Zivot je cudo – 2004 – Bósnia / França – Emir Kusturica – 5
2008/21 – A Casa de Alice – A Casa de Alice – 2007 – Brasil – Chico Teixeira – 3
2008/20 – Uma Canção de Amor para Bobby Long – A Love Song for Bobby Long – 2004 – EUA – Shainee Gabel – 3
2008/19 – Margot e o casamento – Margot at the Wedding – 2007 – EUA – Noah Baumbach – 2
2008/18 – Os Amantes – Les Amants – 1958 – França – Louis Malle – 5
2008/17 – 4 meses, 3 semanas e 2 dias – 4 Luni, 3 Saptamani si 2 Zile – 2007 – Romênia – Cristian Mungiu – 5
2008/16 – Tomates Verdes Fritos – Fried Green Tomatoes – 1991 – EUA / Inglaterra – Jon Avnet – 3
2008/15 – Em Paris – Dans Paris – 2006 – França – Christophe Honoré – 4
2008/14 – A Era da Inocência – L`Âge de Ténèbres – 2007 – Canadá – Denys Arcand – 5
2008/13 – O Sonho de Cassandra – Cassandra`s Dream – 2007 – EUA / Inglaterra / França – Woody Allen – 3
2008/12 – Um Beijo Roubado – My Blueberry Nignts – 2007 – China / França / EUA – Kar Wai Wong – 2
2008/11 – Desejo e Reparação – Atonement – 2007 – Inglaterra – Joe Wright – 4
2008/10 – Três Mulheres – Three Women – 1977 – EUA – Robert Altman – 4
2008/9 – M.A.S.H. – M.A.S.H. – 1970 – EUA – Robert Altman – 4
2008/8 – O Caçador de Pipas – The Kite Runner – 2007 – EUA – Marc Forster – 1
2008/7 – Mutum – Mutum – 2007 – Brasil – Sandra Kogut – 5
2008/6 – Maria – Maria – 2005 – EUA / França / Itália – Abel Ferrara – 2
2008/5 – Onde os fracos não têm vez – No Country for Old Men – 2007 – EUA – Ethan e Joel Cohen – 5
2008/4 – Juno – Juno – 2007 – EUA – Jason Reitman – 3
2008/3 – Meu nome não é Johnny – Meu nome não é Johnny – 2008 – Brasil – Mauro Lima – 2
2008/2 – A Desconhecida – La Sconosciuta – 2006 – França – Giuseppe Tornatore – 2
2008/1 – Coisas que perdemos pelo caminho – Things we lost in the fire – 2007 – EUA / Grã-Bretanha – Susanne Blier – 3
Legenda para as notas:
5 – Não deixe de ver
4 – Muito bom
3 – Vale a tentativa
2 – Medíocre
1 – Uma bomba
0 – Além de bomba, mal-intencionado
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